Coleção Folha ilumina a obra impressionista e a vida de Claude Monet
‘Monet, Uma Sensação de Luz’ demonstra como o pintor se voltou mais à natureza, em oposição à Revolução Industrial
Por pouco, “Impressão: Sol Nascente” —tela de 1872 na qual Claude Monet retratou o sol na névoa e os mastros de navios na água— não se chamou “Marina” ou “Vista de le Havre”. Foi graças ao nome escolhido por ele —junto à sensação causada pelo conjunto de obras da primeira exposição impressionista— que o jornalista Louis Leroy inventou o termo pelo qual o grupo de artistas se tornaria conhecido.
Essas e outras curiosidades estão nas páginas do segundo volume da Coleção Folha Grandes Pintores, “Monet, Uma Sensação de Luz”, que ilumina a vida e a obra do artista francês que se tornou o líder dessa vanguarda artística.
O pintor, que começou a sua trajetória estética influenciado por Eugène Boudin, conheceu em Paris nomes como Pissarro e Renoir. Com este último, foram frequentes os encontros no La Grenouillère, uma espécie de café flutuante onde Monet tinha como principal interesse as ondulações que se formavam na água.
Durante um verão na comuna francesa de Argenteuil, inclusive, o artista mandou construir um barco-ateliê para passar de um lado ao outro do Sena e estudar de perto a vegetação das margens e os reflexos no rio.
O que o livro da coleção evidencia, no entanto, é que os mestres impressionistas não foram apenas grandes paisagistas, mas retrataram muito bem os ambientes urbanos. Em janeiro de 1877, por exemplo, Monet consegue autorização para pintar dentro da estação ferroviária de Saint-lazare e registra uma locomotiva em movimento soltando nuvens de fumaça.
Na obra do pintor francês, Camille Doncieux, modelo com quem ele foi casado, também ocupa um lugar de destaque, tanto que, depois de sua morte, as personagens femininas praticamente desaparecerão de suas composições.
Além de retratos nos quais Doncieux aparece trajando diferentes vestimentas (ora um traje longo, ora um quimono vermelho), sua presença também é constante nas cenas de uma vida em família, como “O Almoço”, de 1873, e “Madame Monet e uma Amiga no Jardim”, do ano anterior.
Em oposição à Revolução Industrial, à urbanização e à explosão demográfica das grandes cidades, Monet se voltou cada vez mais para a natureza, cultivando plantas em todos os lugares onde morou. Quando se instala definitivamente em Giverny, a partir de 1890, ele passa a contar inclusive com um jardineiro que ficará encarregado de realizar diariamente arranjos nos lugares indicados por ele.
Ali, as ninfeias se tornam o seu objeto de estudo e obsessão, e o artista consegue até uma autorização para desviar um pequeno curso d’água e formar um lago com uma ponte —uma referência clara aos jardins da arte japonesa—, criando um laboratório onde a cor prevalece sobre a forma.
Reproduzindo as plantas aquáticas a partir de diferentes ângulos, Monet realizou cerca de 250 pinturas dedicadas ao tema, o que chegou a ser considerado, por André Masson, uma verdadeira “capela Sistina do impressionismo”. Não à toa, ao descrever Monet, Paul Cézanne dirá que ele “não passa de um olhar, mas que olhar, meu Deus”.