Tilda Swinton se deslumbra com gênio da lâmpada em novo filme de George Miller
Em 2013, Tilda Swinton desfilou pelo Festival de Cannes para apresentar “Amantes Eternos”, em que amou um vampiro enquanto refletia sobre as dádivas e os traumas da imortalidade. Quase uma década depois, ela retorna ao evento para fazer algo parecido, mas agora apaixonada por um gênio da lâmpada.
Exibido fora da competição, “Three Thousand Years of Longing”, algo como 3.000 anos de anseio, é baseado num conto da autora britânica A. S. Byatt. Nas telas, Swinton dá vida a uma linguista que, em viagem à Turquia, encontra uma garrafa de vidro azulada enquanto procura por um suvenir numa loja.
De volta ao quarto de hotel, o mesmo em que Agatha Christie escreveu “Assassinato no Expresso do Oriente”, ela resolve limpar o novo item de sua coleção. Eis que uma massa disforme e escura vai tomando conta da suíte, até dar vida a um enorme “djinn” —ou gênio.
Idris Elba encarna a entidade da cultura árabe e logo faz o clássico anúncio —a linguista tem direito a três pedidos. Mas ela está mais interessada em saber sobre as experiências e os mestres passados do personagem, e ambos engatam uma conversa que passeia por personagens históricos e temas atemporais, como amor, ambição e traição.
Nesses 3.000 anos do título, o gênio foi o fiel conselheiro da rainha de Sabá e da nora do sultão Solimão, o Magnífico. Mas também foi um amante platônico, contrariando as regras dos gênios diversas vezes para proteger as mulheres que o liberaram.
Essas passagens são revisitadas com um certo realismo mágico, que eleva um filme sobre uma conversa num quarto de hotel ao patamar de aventura fantástica. E também com uma certa sensualidade.
Apesar de nunca ter exibido seus trabalhos no Festival de Cannes e de não concorrer à Palma de Ouro, George Miller chega envolto em pompa e expectativa. Este é seu primeiro filme desde o ovacionado “Mad Max: Estrada da Fúria”, de sete anos atrás, e mais um a engrossar uma lista tímida, mas celebrada de créditos, dos “Mad Max” originais a “O Óleo de Lorenzo” e o cult “As Bruxas de Eastwick”.
Não é estranho, portanto, que sua passagem pela Croisette seja uma das mais aguardadas desta edição. Miller é um diretor com personalidade e, no que sempre rende uma horda de fãs, deliciosamente excêntrico. Isso fica claro em “Three Thousand Years of Longing”, que ainda tem como aliado a versatilidade e extravagância de Swinton.
Enquanto sua personagem e o gênio de Elba conversam, vão se envolvendo cada vez mais. As lamúrias dele retomam “Amantes Eternos” ao fazer com que o público se solidarize com a prisão que é sua garrafa e sua vida sem fim. Sobrenatural, ele está destinado a acumular conhecimento e testemunhar toda a evolução da humanidade, que nem sempre é simpática a ele.
“Nós só existimos se formos reais para os outros”, diz o gênio em determinado ponto, ciente de que as histórias de lâmpadas mágicas já não encantam tanto quanto há 3.000 anos e que o mundo atual, talvez, não queira mais se embebedar de fantasia.