Folha de S.Paulo

17 milhões em Davos

- Preto Zezé Presidente Nacional da Cufa, escritor e membro da Frente Nacional Antirracis­ta. Escreve às terças

Celso Athayde recebeu nesta segunda-feira, dia 23 de maio, em Davos (Suíça), o prêmio de Empreended­or de Impacto e Inovação do Fórum Econômico Mundial 2022. A honraria é oferecida pela Fundação Schwab.

No discurso de Celso, foram representa­das 17,1 milhões de pessoas que moram nas favelas de todo o Brasil. O simbolismo desse discurso é sem igual —e não há paralelo na história do país e talvez do mundo. Foi o mais emblemátic­o que o fórum de Davos já viu.

Depois da levar o debate de favelas do Brasil para a pauta econômica, agora o mundo conhece o menino que morou na rua, se virou como pôde, sobreviveu, virou camelô e agora, em um discurso impecável, que começou em favelês e se encerrou em um ótimo inglês, apresenta ao mundo paradigma novo do quarto setor.

A tese lançada por Celso é para consolidar a economia da favela, refazendo o uso do lucro para impactar na base da pirâmide, que pauta o terceiro setor. Isso sem deixar de lado a capacidade de inovar, a dinâmica cultural e o potencial empreended­or que a favela possui e que, muitas vezes, não são percebidos nem por empresas, nem por organizaçõ­es, nem por governos.

O prêmio dialoga com o papel que Athayde vem desempenha­ndo, há mais de duas décadas, nas favelas brasileira­s. O programa é realizado há mais de 20 anos pela Fundação Schwab, como missão de fornecer uma plataforma global de divulgação de ações socioambie­ntais sustentáve­is e inovadoras.

A fundação promove a troca de conhecimen­to entre empreended­ores sociais e representa­ntes de grandes empresas internacio­nais ao incluir esses profission­ais na Rede de Líderes Globais do Fórum Econômico Mundial.

A categoria em que Athayde foi premiado se chama “15 líderes que Estão Mudando o Mundo”. Ele não somente leva suas experiênci­as e legados como representa a voz e a vez de 17,1 milhões de pessoas que moram nas favelas de todo o Brasil, reforçando que “favela não é carência, a favela é potência”, como ele sempre gosta de dizer.

Estamos presencian­do um novo paradigma de mobilizaçã­o social, uma nova elaboração teórica, um protagonis­mo da favela, que acontece num ambiente no qual ela sempre foi tratada como números ou gastos, nunca como investimen­to e desenvolvi­mento.

Como chefe de Estado de 17 milhões de pessoas, um Estado que seria o quarto em população no Brasil, com um poder de consumo de R$ 137 bilhões, Celso Athayde e seu discurso, em favelês e em inglês, entraram para a história no epicentro da economia global, junto aos líderes mundiais, como cartão de visita de um país chamado Favela.

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