Time inclui Guajajara e Tulio de Oliveira entre os mais influentes
SÃO PAULO A revista americana Time elegeu a coordenadora-executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Sonia Guajajara, e o cientista Tulio de Oliveira entre as cem pessoas mais influentes do mundo em 2022. A lista das personalidades foi divulgada nesta segunda-feira (23).
Ambos foram eleitos na categoria Pioneiros. Guajajara figura na lista em razão do trabalho e ativismo em defesa dos direitos dos povos indígenas, e Oliveira, que é brasileiro mas vive na África do Sul, em função do trabalho realizado para identificar a variante ômicron do coronavírus, sequenciada no país africano no final do ano passado.
O texto de apresentação da líder indígena é assinado por Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e précandidato a deputado federal pelo PSOL em São Paulo. Os dois foram ainda parceiros de chapa na eleição presidencial em 2018, com ela no posto de vice. “Desde cedo, ela lutou contra forças que têm tentado exterminar sua comunidade por mais de 500 anos”, escreveu Boulos na descrição.
“Sonia segue resistindo: contra o machismo, como uma mulher feminista; contra o massacre dos povos indígenas, como uma ativista; e contra o neoliberalismo, como uma socialista”, diz em outro trecho —Guajajara também lançou, em março, a pré-candidatura para deputada federal por São Paulo pelo PSOL.
Boulos menciona, ainda, a oposição de Guajajara ao governo de Jair Bolsonaro (PL), seu ativismo em torno da emergência climática e as denúncias que fez sobre a negligência dos direitos dos povos indígenas durante a pandemia de Covid-19. “Ela é uma inspiração, não apenas para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que debata seu passado e finalmente acolha o futuro”, completa o político.
Tulio de Oliveira, por sua vez, foi reconhecido ao lado de Sikhulile Moyo, diretor do laboratório para o estudo do HIV do governo de Botsuana em parceria com a Universidade Harvard. O cientista brasileiro, que desde 1997 vive na África do Sul, é diretor do Centro para Respostas e Inovação em Epidemias (Ceri) do país.
O texto de apresentação é assinado por John Nkengasong, diretor dos Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças. O camaronês descreve o sequenciamento da variante ômicron do coronavírus, prontamente comunicado à comunidade internacional, como “uma mudança de paradigma que simbolizou que a excelência científica pode ter origem na África”.
Nkengasong acrescenta, no entanto, a complexidade da resposta mundial à descoberta —países americanos e europeus impuseram restrições de viagem a nações africanas, algumas das quais nem sequer haviam relatado casos de infecção pela variante ainda. “Isso me fez refletir sobre como a cooperação e a solidariedade globais devem ser quando lutamos juntos contra um desafio como a Covid”, afirmou.
“Toda geração tem pessoas que vão inspirar a próxima, e Sikhulile e Tulio têm o potencial para ser essa inspiração para aqueles que vão trabalhar com saúde pública e genomas”, conclui Nkengasong.
Em seu perfil no Twitter, Guajajara comentou o reconhecimento da revista americana ao seu trabalho. “É um reconhecimento da luta indígena global, que é coletiva e defende o futuro de toda a humanidade”, escreveu a líder.
Tulio, por sua vez, disse ser uma enorme honra figurar na lista ao lado de Guajajara. “Vamos trabalhar para um Brasil melhor, que respeite a ciência, a vida, a população indígena e a natureza”, postou o cientista em seu perfil na rede social.
Na categoria Líderes, a Time listou, entre outros, os presidentes Volodimir Zelenski (Ucrânia), Vladimir Putin (Rússia), Joe Biden (EUA), Gabriel Boric (Chile) e Yoon Sukyeol (Coreia do Sul). O líder da China, Xi Jinping, e o premiê da Alemanha, Olaf Scholz, também figuram na categoria, assim como Ketanji Brown Jackson, confirmada como a primeira juíza negra a integrar a Suprema Corte americana.