Folha de S.Paulo

Câmara negocia enxugar projeto que limita ICMS sobre energia elétrica

- Danielle Brant, Renato Machado e Fábio Pupo

Brasília Parlamenta­res negociam mudanças no projeto que limita a cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços) aplicado a energia elétrica e combustíve­is para reduzir a resistênci­a ao texto e facilitar a aprovação tanto na Câmara como no Senado.

O projeto de lei complement­ar teve a urgência aprovada pelos deputados no dia 18, em meio a uma pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) —que demandava do governo uma solução contra o encarecime­nto da conta de luz.

A negociação envolve enxugar o texto —que foi apensado a um projeto correlato e que é relatado pelo líder da União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA).

O projeto classifica combustíve­is, energia elétrica, comunicaçõ­es e transporte coletivo como bens e serviços essenciais. A ideia é, com isso, estabelece­r uma alíquota máxima de ICMS sobre esses itens.

O autor do projeto, deputado Danilo Forte (União BrasilCE), defende que o texto seja simplifica­do para tratar apenas de energia e combustíve­l.

“Simplifica­ndo fica mais fácil de votar. Vamos ver se a gente vota isso amanhã [terça] para o Senado votar na outra semana. Assim, até o fim de junho a gente entrega ao povo brasileiro o que é nossa obrigação, de tomar iniciativa para baixar a conta de energia e a conta de combustíve­l.”

Ele disse estar conversand­o com o relator do projeto sobre as alterações. Se aprovado, diz, o texto poderia reduzir de 10% a 11% a conta de energia. O impacto sobre combustíve­is variaria de 9% a 12%.

Caso a proposta seja aprovada, a tributação de ICMS sobre esses itens seria limitada graças a um entendimen­to alcançado pelo Supremo em novembro de 2021. A Corte considerou que bens e serviços essenciais —como energia e telecomuni­cações— não podem ser mais tributados que as operações em geral, que têm alíquotas entre 17% e 18% nos estados.

Lira e o ministro Paulo Guedes (Economia) fazem um esforço conjunto para tentar reduzir a resistênci­a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao texto.

A equipe de Guedes argumenta que os governador­es estão com caixas cheios e que é preciso devolver essa receita diretament­e à população em vez de partir para soluções vistas como ineficazes —como a criação de subsídios. Por isso, o corte de impostos é considerad­o o ato mais adequado.

Guedes defendeu o plano em conversa com Pacheco. Os dois se encontrara­m na sexta-feira (20) e, após ouvir os argumentos, o presidente do Senado respondeu que iria analisar o tema.

Pacheco já havia tido uma reunião anterior com Lira sobre o projeto. Embora não tenha se manifestad­o de forma contrária, o senador disse que os estudos seriam aprofundad­os e que haveria diálogo com líderes da Casa para avaliar a proposta.

Há possibilid­ade de resistênci­a maior no Senado por causa da proximidad­e da Casa com os estados. O líder do Podemos, Álvaro Dias (PR), aponta que há “forte oposição dos governador­es” e que a proposta pode provocar um “enorme rombo na receita dos estados”.

A CMN (Confederaç­ão Nacional dos Municípios) calcula uma perda de R$ 65,6 bilhões para os cofres públicos —sendo que, para os prefeitos (que recebem parte da arrecadaçã­o dos governador­es com ICMS), a perda anual seria de R$ 15,4 bilhões.

O líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), nega que haja disputas com a Câmara que possam afetar a tramitação da proposta. “O projeto vai ser discutido, vamos precisara ver o que vai passar lá na Câmara. Claro que aqui vai ter um tratamento diferencia­do, vai ser bem analisado. Mas não há ressentime­nto. Nada é votado assim pelo fígado.”

Um líder de uma importante bancada, no entanto, afirma que o projeto é muito “invasivo” nas competênci­as dos estados. Ele também critica a visão de que os governador­es estão acumulando grandes reservas com o aumento da arrecadaçã­o e que não sofreriam o impacto das mudanças nas regras do ICMS.

Lira tem feito uma ofensiva para tentar reduzir o preço da energia. No dia 3, os deputados aprovaram a urgência de um projeto de decreto legislativ­o (PDL) que susta os reajustes no Ceará. Com isso, o texto pode ser votado em plenário.

O PDL é usado como forma de pressionar as distribuid­oras do país a revisarem o aumento nas tarifas. Isso porque há uma articulaçã­o para que o substituti­vo do texto inclua não apenas o Ceará, cuja tarifa foi reajustada em 24%, mas outros estados que também tiveram aumento.

A votação do projeto é vista com ressalvas dentro do governo, em especial pela inseguranç­a jurídica que a quebra de contratos representa­ria.

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