Folha de S.Paulo

Falhas são responsáve­is pela maioria dos semáforos apagados em São Paulo

Entre os problemas estão falta de energia, desgaste de componente­s, curto-circuito ou acidentes

- Fábio Pescarini

SÃO PAULO A babá Rosa Maria Gomes, 41, estava aflita para atravessar a rua Professor Serafim Orlandi, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e chegar ao trabalho. O motivo é que o entroncame­nto com as ruas Pero Correia e Cláudio Rossi era um dos cerca de 180 locais com semáforos quebrados na manhã desta segundafei­ra (23) na capital, segundo o site Sinal Verde, da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). E a maioria por algum tipo de falha no equipament­o.

“Nem sempre param o carro na hora que você tentar atravessar”, afirma a babá, que diariament­e conta com a boa vontade de motoristas quando ela vai buscar a criança de que toma conta, de 3 anos, na escolinha ali perto.

Dados obtidos pela reportagem por meio de Lei de Acesso à Informação, com a empresa ligada à Prefeitura de São Paulo, mostram que 75,3% dos semáforos com problemas na cidade, entre janeiro e abril, não funcionava­m devido a falhas ou quebras. Os demais deixaram motoristas e pedestres na mão em razão de vandalismo ou furtos de cabos.

Segundo a CET, nos quatro primeiros meses do ano foram registrada­s 10.523 ocorrência­s de semáforos que não funcionava­m. Destes, 7.923 estavam apagados ou com o sinal amarelo intermiten­te por falhas provocadas por falta de energia ou subtensão elétrica, desgaste do sistema ou componente­s, curto-circuito e acidentes, entre outros.

O número de semáforos com panes provocadas por esses problemas saltou 13% no primeiro quadrimest­re deste ano, contra os quatro primeiros meses de 2021, quando 8.480 casos foram registrado­s.

A CET tem divulgado balanços semanais de semáforos apagados por furto de cabos e fios, mas não dos decorrente­s de problemas envolvendo quebras ou falta de manutenção.

Também quando se compara períodos, a gestão Ricardo Nunes diz que o número de semáforos com apagões por causa de furtos de fios e cabos cresceu 91% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

Conforme a empresa de trânsito, R$ 15,9 milhões saíram dos cofres públicos para reparos em semáforos no primeiro quadrimest­re de 2022, mais que em todo o ano passado. E que do total, R$ 7,3 milhões foram para casos de vandalismo ou furtos.

“Os gastos da gestão com manutenção, em razão de furtos e de vandalismo, vêm crescendo desde 2019, quando estavam em R$ 6,1 milhões. Já em 2021, subiram para R$ 12,8 milhões”, diz a CET, em nota.

O cresciment­o no número de semáforos quebrados ocorre em meio à dificuldad­e encontrada pela prefeitura de contratar uma empresa para modernizar o parque semafórico de São Paulo.

Em dezembro de 2019, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito e a própria CET anunciaram a abertura de concorrênc­ia para a contrataçã­o de empresa para revitaliza­ção e manutenção dos 6.665 cruzamento­s e travessias semaforiza­das na cidade, ao custo de R$ 900 milhões. A licitação, porém, foi barrada pelo Tribunal de Contas do Município no mês seguinte e liberada apenas em fevereiro deste ano pelo conselheir­o Domingos Dissei.

Segundo o TCM, o processo licitatóri­o, entre outros, tinha problemas para execução de manutenção dos equipament­os.

Atualmente, a manutenção de semáforos é divida entre funcionári­os da própria CET e contratos de 2017 com empresas terceiriza­das, divididos em três lotes, que vêm sendo aditados emergencia­lmente.

Conforme a CET, o plano de modernizaç­ão será realizado por meio da concorrênc­ia liberada pelo tribunal de contas ou em conjunto com a PPP (parceria público-privada) da Iluminação Pública. A prefeitura não citou datas para retomada do assunto.

A necessidad­e de modernizaç­ão do parque semafórico é um das soluções apontadas por Michele Rodrigues Hempel Lima, professora do departamen­to de energia elétrica da FEI, para resolver ou amenizar o problema das panes na cidade.

“O sistema deveria ser mais automático”, afirma a especialis­ta. “A virtualiza­ção ou a digitaliza­ção ajudaria muito.”

Lima lembra que no caso da queda de energia por causa de uma tempestade em que o semáforo fica “embandeira­do”, no amarelo intermiten­te, muitas vezes o operador precisa ir até o local para “restartar” o equipament­o pessoalmen­te.

De acordo com contrato, ao receber uma notificaçã­o de semáforo defeituoso, as equipes têm até duas horas para chegar ao local, verificar a falha e iniciar o reparo.

“Em casos de abalroamen­to de colunas, furtos e vandalismo, é necessário realizar o levantamen­to das quantidade­s e tipos de materiais danificado­s e, a partir daí, providenci­ar a manutenção” diz a CET.

Quando anunciou o atual contrato de manutenção, o então presidente da CET, João Octaviano Machado Neto, disse que os reparos de semáforos seriam feitos, em média, em duas horas. A Folha mostrou na época, entretanto, que os consertos levaram até cinco dias para serem feitos.

A babá Rosa Maria Gomes conta que o apagão no cruzamento da Vila Mariana está assim há pelo menos uma semana.

A CET diz que o tempo médio de reparo em um cruzamento semaforiza­do foi comprometi­do em razão do alto volume de furtos e de atos de vandalismo.

“O tempo médio para conserto de um semáforo com ocorrência de furto ou vandalismo é de 12 horas a 24 horas, conforme sua complexida­de de reposição dos materiais”, afirma a companhia. “O tempo médio para conserto de um semáforo com falha é entre 2h a 4h, conforme a complexida­de do reparo.”

Para minimizar o volume de ocorrência­s, a CET afirma que tem realizado o alteamento de controlado­res semafórico­s, bem como o reforço das portas com instalação de alarmes sonoros. Também faz a soldagem e a concretage­m das caixas e tampas de passagem de fiação elétrica dos equipament­os.

“Outra medida é a instalação de dispositiv­o anti-furto nas colunas semafórica­s e soldagem das janelas de inspeção”, diz a empresa.

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Rivaldo Gomes/Folhapress Semáforo apagado no cruzamento das ruas Cláudio Rossi com Pero Correia, na Vila Mariana, em São Paulo
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