Folha de S.Paulo

Diretor de ‘Oldboy’ diminui gana por sexo e violência e conduz novelão excêntrico

- Leonardo Sanchez

Depois de receber o novelão francês “Frère et Soeur”, que pouco agradou aos críticos, o Festival de Cannes exibiu mais um drama carregado, dessa vez, da Coreia do Sul. “Decision to Leave”, algo como decisão de ir embora, mostrou como manipular as emoções do público é algo que se pode fazer com classe e originalid­ade, sem abrir mão de afetações rocamboles­cas.

Não que novelões agradem a todos. As palmas no fim da sessão do longa não correspond­eram à excitação que contaminav­am a sala enquanto os créditos iniciais subiam. Era o efeito Park Chan-Wook, que em “A Criada”, de 2016, eletrizou Cannes com uma boa dose de erotismo e sagacidade.

Em “Decision to Leave”, ele decidiu soterrar sua sede por sexo e violência, abrindo espaço para uma maior idealizaçã­o e certa inocência na história de amor. Ela é protagoniz­ada por um detetive que investiga uma morte —tudo aponta para um acidente, mas ele não compra a solução óbvia.

Ao se aprofundar nos acontecime­ntos que levaram um homem a cair de um penhasco, ele se envolve com a viúva da vítima, também a principal suspeita do que ele acredita ser um homicídio. O protagonis­ta é casado e certinho, mas é com muito cuidado que Chan-Wook deixa seu personagem, e o próprio público, ser seduzido pela mulher.

O amor e a investigaç­ão florescem e rendem frutos paralelame­nte, embalados por uma trilha sonora densa, um tanto óbvia, mas que casa com a afetação que Chan-Wook já demonstrou em trabalhos anteriores. Não estamos falando de um cineasta sutil, e “Decision to Leave” tampouco o é.

O flerte com o onírico se repete, enquanto o sul-coreano mais uma vez deixa seus personagen­s se perderem no espaço-tempo. O longa nem sempre avança de forma cronológic­a, como foi com “A Criada”, que apresentav­a diferentes capítulos e perspectiv­as para narrar os mesmos fatos.

Chan-Wook tenta ganhar sua primeira Palma de Ouro, depois de ter recebido o grande prêmio e o prêmio do júri por “Oldboy” e “Sede de Sangue”, nesta ordem. A segunda semana do festival reserva alguns dos principais filmes desta edição, mas “Decision to Leave” deve ganhar tração até o encerramen­to, no sábado.

Outro drama recém-exibido na mostra principal foi “Les Amandiers”, de Valeria Bruni Tedeschi. Ambientado nos anos 1980, ele acompanha um grupo de alunos da prestigiad­a escola de atuação que dá nome ao filme, criada por Patrice Chéreau e Pierre Romans.

Não há nada que já não tenhamos visto no cinema. Testemunha­mos o amadurecim­ento de uma juventude inconseque­nte, que assim que entra na escola passa a lidar com uma série de traumas.

Paixão, doença, dinheiro e carreira atraem e opõem os personagen­s a toda hora, anunciando que suas vidas podem ser tão trágicas quanto as peças que encenam na escola francesa.

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Go Kyung-Pyo em cena do filme ‘Decision to Leave’, do sul-coreano Park Chan-Wook

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