Diretor de ‘Oldboy’ diminui gana por sexo e violência e conduz novelão excêntrico
Depois de receber o novelão francês “Frère et Soeur”, que pouco agradou aos críticos, o Festival de Cannes exibiu mais um drama carregado, dessa vez, da Coreia do Sul. “Decision to Leave”, algo como decisão de ir embora, mostrou como manipular as emoções do público é algo que se pode fazer com classe e originalidade, sem abrir mão de afetações rocambolescas.
Não que novelões agradem a todos. As palmas no fim da sessão do longa não corresponderam à excitação que contaminavam a sala enquanto os créditos iniciais subiam. Era o efeito Park Chan-Wook, que em “A Criada”, de 2016, eletrizou Cannes com uma boa dose de erotismo e sagacidade.
Em “Decision to Leave”, ele decidiu soterrar sua sede por sexo e violência, abrindo espaço para uma maior idealização e certa inocência na história de amor. Ela é protagonizada por um detetive que investiga uma morte —tudo aponta para um acidente, mas ele não compra a solução óbvia.
Ao se aprofundar nos acontecimentos que levaram um homem a cair de um penhasco, ele se envolve com a viúva da vítima, também a principal suspeita do que ele acredita ser um homicídio. O protagonista é casado e certinho, mas é com muito cuidado que Chan-Wook deixa seu personagem, e o próprio público, ser seduzido pela mulher.
O amor e a investigação florescem e rendem frutos paralelamente, embalados por uma trilha sonora densa, um tanto óbvia, mas que casa com a afetação que Chan-Wook já demonstrou em trabalhos anteriores. Não estamos falando de um cineasta sutil, e “Decision to Leave” tampouco o é.
O flerte com o onírico se repete, enquanto o sul-coreano mais uma vez deixa seus personagens se perderem no espaço-tempo. O longa nem sempre avança de forma cronológica, como foi com “A Criada”, que apresentava diferentes capítulos e perspectivas para narrar os mesmos fatos.
Chan-Wook tenta ganhar sua primeira Palma de Ouro, depois de ter recebido o grande prêmio e o prêmio do júri por “Oldboy” e “Sede de Sangue”, nesta ordem. A segunda semana do festival reserva alguns dos principais filmes desta edição, mas “Decision to Leave” deve ganhar tração até o encerramento, no sábado.
Outro drama recém-exibido na mostra principal foi “Les Amandiers”, de Valeria Bruni Tedeschi. Ambientado nos anos 1980, ele acompanha um grupo de alunos da prestigiada escola de atuação que dá nome ao filme, criada por Patrice Chéreau e Pierre Romans.
Não há nada que já não tenhamos visto no cinema. Testemunhamos o amadurecimento de uma juventude inconsequente, que assim que entra na escola passa a lidar com uma série de traumas.
Paixão, doença, dinheiro e carreira atraem e opõem os personagens a toda hora, anunciando que suas vidas podem ser tão trágicas quanto as peças que encenam na escola francesa.