Petrolífera está protegida contra interferência na política de preços, segundo analistas
RIODEJANEIROESÃOPAULO As primeiras reações nas Bolsas à nova troca no comando da Petrobras foram negativas, mas analistas e gestoras brasileiros ainda apostam que a estatal está protegida contra interferências em sua política de preços, alvo de críticas do governo Jair Bolsonaro.
A demissão de José Mauro Coelho com apenas 40 dias no cargo levantou novas críticas a respeito de possível ingerência na gestão da empresa e, no governo, a expectativa é que algum tipo de trava seja criada para segurar repasses.
Para analistas dos bancos UBS BB e Goldman Sachs, porém, o curto mandato de seu substituto, Caio Paes de Andrade, e os riscos de responsabilização por eventuais mudanças que prejudiquem a estatal podem conter o ímpeto por interferências.
“Não esperamos mudanças na política de preços ou na estratégia da Petrobras”, escreveram os analistas do UBS BB Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos, que veem a troca como uma sinalização do governo para demonstrar preocupação com a alta de preços.
“A curto prazo, o estatuto da Petrobras e a lei brasileira reduzem a possibilidade de intervenções”, acrescentam os analistas do Goldman Sachs, Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins.
Os dois bancos mantêm recomendação de compra de ações da companhia, baseada na expectativa de distribuição de elevados dividendos. A retornar aos seus acionistas R$ 101 bilhões pelo desempenho de 2021, a Petrobras entrou na lista das empresas conhecidas pelo mercado como “vacas leiteiras”.
Waldir Morgado, sócio Nexgen Capital, também mantém a recomendação, acreditando no pagamento de fartos dividendos no ano. E ressalta que o governo já promoveu três trocas no comando da estatal sem que houvesse mudança na política de paridade com as cotações internacionais.
Ele acredita que os preços dos combustíveis continuarão seguindo o mercado internacional, mas podem ter reajustes mais espaçados, estratégia que já vinha sendo adotada informalmente pelos dois antecessores de Paes de Andrade.
A gasolina, por exemplo, já não é reajustada há mais de 70 dias e tem hoje defasagem média de R$ 0,10 por litro em relação ao preço de paridade de importação. A diferença já foi maior, mas recuou com a valorização do real frente ao dólar nos últimos dias.
Na avaliação de Morgado, por outro lado, a indicação de um nome próximo aos ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, poderia acelerar os estudos pela privatização da estatal, o que vê como positivo.
VanDyck Silveira, presidente-executivo da Trevisan Escola de Negócio, diz que a frequência com que o governo muda o comando da Petrobras
já tem impacto sobre a gestão da companhia. Os resultados serão ainda piores, diz se o governo conseguir “baixar a fórceps” o preço dos combustíveis.
“Estamos chegando à quarta substituição em um pouco mais de três anos de governo. Isso é algo inenarrável, inexplicável e inaceitável para uma empresa do tamanho da Petrobras”, afirma. “A maior empresa do país está à mercê de um controlador que quer fazer política eleitoreira.”
Segundo André Gordon, sócio-fundador da gestora GTI Administração de Recursos, o anúncio não chegou a causar uma grande surpresa, tendo em vista declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro (PL) a respeito da Petrobras.
Gordon não espera por uma mudança radical na política de preços com a troca no comando da estatal, embora não descarte também alguma medida que ajude a suavizar os constantes reajustes nos combustíveis, eventualmente com um intervalo maior entre os anúncios.
“Às vezes o governo erra um pouco ao não aproveitar as boas notícias a seu favor, já que o aumento na distribuição de proventos pela Petrobras beneficia a União”, diz o gestor da GTI. “O fato de a empresa ser uma das mais rentáveis do mundo no setor é bom [para o governo], e não ruim.”
A petroleira reportou lucro líquido de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre, uma alta de cerca de 3.700% em relação ao mesmo período do ano anterior, com a distribuição de dividendos aos acionistas da ordem de R$ 48,5 bilhões.
Com 28,67% das ações da estatal, a União terá direito a cerca de R$ 14 bilhões do total de dividendos. O BNDES tem outros 8% e ficará com R$ 3,9 bilhões.
Gordon diz também que, em um cenário de forte alta nos preços das commodities, sem que a oferta aumente na mesma proporção, a Petrobras já é, e deve continuar sendo, uma das principais posições nas carteiras dos fundos sob sua gestão. “Mesmo com a forte alta das ações recentemente, a Petrobras certamente continua sendo uma das petroleiras mais baratas do mercado global.”