Folha de S.Paulo

Popular e festivo, era o ‘maluco beleza’ de Tupã (SP)

ELIAS PINHEIRO (1962-2022)

- Cristina Camargo coluna.obituario@grupofolha.com.br

SÃO PAULO Fã de Raul Seixas, o impressor e distribuid­or de jornais Elias Pinheiro, o Lia, tinha um verso do cantor e compositor como lema de vida: “E, quando todos praguejava­m contra o frio, eu fiz a cama na varanda”.

Otrechode “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, clássico de Raul, tem mesmo tudo a ver com o jeito que ele escolheu para levar o dia a dia. Alegre, engraçado, um tom acima, Lia não admitia ficar fora de nenhuma festa em Tupã, no interior de São Paulo, onde morava. Conhecia todo mundo e era empolgado até na hora de cumpriment­ar as pessoas.

“O pessoal brincava: o Lia tem um parafuso a menos. Eu prefiro achar que ele tinha um coração a mais”, diz o jornalista João Pedro Feza, amigo há quase 30 anos.

Feza viveu ao lado dele uma cena que resume o estilo do “maluco beleza” de Tupã. No começo da amizade, Lia chamou o jornalista para uma festa de casamento. Os dois foram barrados na porta porque o impressor não havia sido convidado. Insistente, Lia pediu para chamarem o noivo, que cumpriment­ou com o entusiasmo de sempre. E conquistou o direito a uma das melhores mesas do evento.

Atualmente responsáve­l pela logística de distribuiç­ão no Diário de Tupã, era conhecido como “Lia do jornal” por causa dos anos em que passou em outra publicação, a extinta Folha do Povo, onde foi entregador, pestapista e impressor. Era tão ligado ao jornal que morou nos fundos da Redação.

Também era famoso por “bater ponto” em uma padaria de Tupã. Foi lá que passou as últimas horas de vida, no domingo (23). Saiu do local à tarde, na garupa da bicicleta de um amigo, para um almoço. Caiu no caminho, bateu a cabeça, foi levado para a Santa Casa da cidade e morreu em seguida, aos 60 anos.

“Ele deixou um ensinament­o: ser uma pessoa bacana sem precisar de muita coisa”, disse a cunhada, Maria Auxiliador­a Pacheco de Campos Pinto. Segundo ela, o único interesse de Lia era viver com alegria.

Amigos foram às redes sociais para homenageá-lo. Alguns lembraram dele como torcedor do São Paulo. Outros citaram o jeito engraçado que usava para chamar as pessoas, “pissita”.

“Os amigos precisarão se acostumar a não contar mais com toda aquela festa que ele fazia nos encontros na rua, na padaria, por telefone”, disse Feza.

O “maluco beleza” foi sepultado na segunda-feira (23). O coveiro Nilson Aparecido colocou uma playlist de Raul Seixas para tocar no celular, em um último tributo ao amigo, de quem sempre ganhava um exemplar do jornal do dia.

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