Ciro, Tebet e Bivar se fragilizam com partidos fragmentados e dissidências
Desistência de Doria estreita centro, mas pré-candidatos enfrentam grandes divisões internas
A desistência do exgovernador de São Paulo, João Doria (PSDB), estreitou as candidaturas de centro à Presidência da República, mas não reduziu os desafios dos pré-candidatos que devem concorrer com o presidente jair bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mesmo com recursos robustos do fundo eleitoral e grande contingente de deputados, prefeitos e vereadores país afora, Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Luciano Bivar (União Brasil) enfrentam divisões internas, palanques duplos e até esvaziamento em seus próprios partidos.
Os três terão como desafios frear a debandada de aliados, conquistar palanques fiéis nos estados e mobilizar uma militância que consiga medir forças com apoiadores do presidente e do ex-presidente, ambos com ampla base social.
Disputando a Presidência pela quarta vez, Ciro Gomes é o único dos três pré-candidatos de partidos de centro que tem uma militância mais orgânica nas ruas e, principalmente, nas redes sociais.
Seu ponto fraco para a eleição são os palanques frágeis na maioria dos estados. Dentre os maiores colégios eleitorais, o PDT só disputará governos estaduais com nomes competitivos no Ceará, Rio de Janeiro e Maranhão.
No Ceará, base eleitoral de Ciro, o partido vive uma crise com o PT em torno da escolha do candidato à sucessão.
Os petistas endossam a reeleição da governadora Izolda Cela (PDT), que assumiu o governo em abril com a renúncia de Camilo Santana (PT). Mas o núcleo mais ligado aos irmãos Gomes defende candidatura de Roberto Cláudio (PDT), exprefeito de Fortaleza.
A disputa interna escalou nas últimas semanas, com ameaças de rompimento de lado a lado. Se mantida a parceria, Ciro terá que dividir o palanque com Lula.
No Rio e no Maranhão, os pré-candidatos do PDT flertam abertamente com a candidatura petista ao Planalto.
Em sabatina ao UOL e à Folha, Rodrigo Neves, pré-candidato ao Governo do Rio, criticou os ataques de Ciro a Lula e disse que o petista foi “o melhor presidente do Brasil desde a redemocratização”.
No Maranhão, o senador Weverton Rocha (PDT), précandidato ao governo, tem apoio de parte do PT e fechou nesta terça (24) aliança com o PL, partido de Bolsonaro.
Com os novos apoios, deixou a eleição nacional em segundo plano. Em vídeo para apoiadores de Imperatriz, cidade com economia ancorada no agronegócio e forte viés bolsonarista, Weverton deixou clara sua estratégia.
“Não quero nem saber quem vai ser o próximo presidente da República. Eu vou bater na porta e lutar pelo desenvolvimento não só do sul do Maranhão, mas de todo o nosso estado”, afirmou.
Mesmo com palanques divididos nos estados, o PDT aposta na militância e no plano de governo de Ciro para conquistar novos eleitores e alavancar a votação para a Presidência e para o Congresso Nacional.
De porte médio, o PDT tem 19 deputados, 1 governador, mais de 300 prefeitos eleitos em 2020 e terá cerca de R$ 250 milhões de fundo eleitoral, segundo estimativa da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político).
Pré-candidata ao Planalto pelo MDB, a senadora Simone Tebet vive cenário semelhante, com dissidências dentro de seu próprio partido e conflitos nos estados com os potenciais aliados PSDB e Cidadania.
Ela é vista como um nome leve que pode ser apoiado nos estados sem gerar rejeição para os candidatos locais.
Por ser mulher, também não gera discussões quanto ao uso do fundo eleitoral, já que 30% dos cerca de R$ 350 milhões que o partido terá de fundo eleitoral deve ser obrigatoriamente usado em candidaturas de mulheres.
Mas aliados avaliam que lhe falta musculatura política para garantir engajamento dos aliados na campanha ao Planalto. Mesmo a parceria com o PSDB ainda é incerta, já que grupos tucanos resistem a ela.
Os rachas nos estados tampouco ajudam. A trinca MDB, PSDB e Cidadania só está junta em torno de um nome próprio no estado de São Paulo, com a pré-candidatura à reeleição do governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Mas união não é garantia de engajamento, já que Rodrigo tem em suas alianças partidos que vão apoiar Bolsonaro, caso do PP.
Em outros cinco estados da federação, espera-se embates diretos dos partidos da coalizão, caso do Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Amazonas e Rio Grande do Sul.
Neste último, há chance de composição entre PSDB e MDB se o ex-governador tucano Eduardo Leite concorrer a novo mandato em outubro.
Presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP) vê com otimismo a pré-candidatura de Tebet. Ele diz que pesquisa que balizou a escolha da senadora mostrou que 59% dos brasileiros consideram a polarização ruim para país e e 40% do eleitorado quer “uma novidade com experiência”.
Ele ainda afirma que as negociações para alinhamento nos estados ficarão para um segundo momento.
Mas o partido precisa enfrentar dissidências internas: no Nordeste, diretórios do MDB dos nove estados estarão em palanques ligados a Lula.
Mesmo em estados da região onde o partido terá candidatura própria, como Alagoas e da Paraíba, a ordem é de apoio a Lula. Diretórios do Ceará e Piauí também darão apoio ostensivo ao petista.
Pré-candidato a governador da Paraíba, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) elogiou Tebet, disse que está aberto a recebê-la no estado, mas reafirmou apoio à Lula.
Fora do Nordeste, em estados onde o MDB tem candidatos competitivos, caso de Roraima, Amazonas e Pará, os aliados devem apoiar Tebet, mas com menor engajamento na campanha nacional para buscar votos tanto de lulistas como de bolsonaristas.
Até em Mato Grosso do Sul, seu estado natal, Tebet não é unanimidade. Na pré-campanha ao governo do estado, o ex-governador André Puccinelli não a cita. Ela foi vice-governadora de Puccinelli entre 2011 e 2014, mas a relação se estremeceu em 2018, quando ela desistiu de assumir a candidatura ao governo do estado após ele ter sido preso.
Apadrinhado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), o pré-candidato tucano Eduardo Riedel já abandonou uma possível candidatura da terceira via e informou que está “fechado com Bolsonaro”. O presidente deve retribuir o apoio ao tucano nos próximos dias.
A candidatura de Luciano Bivar (União Brasil) é a que tem mais isolamento e chances de sucumbir. O partido criado com a fusão do PSL e do Democratas vai para a eleição como o mais rico, com fundo estimado em R$ 770 milhões.
Mas ele deve ser um candidato à Presidência com baixa taxa de conhecimento do eleitorado e baixo engajamento nas redes sociais.