Folha de S.Paulo

Aras decide arquivar investigaç­ão sobre Moraes

Arquivamen­to da ação apresentad­a por Bolsonaro foi decidido para evitar duplicidad­e com processo similar do STF

- José Marques

O procurador-geral da República, Augusto Aras, arquivou na noite desta quinta(26) a representa­ção do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O argumento de Aras, segundo a Folha apurou com interlocut­or da PGR, é de que o arquivamen­to foi decidido para que não haja duplicidad­e, já que há uma ação idêntica no STF. O procedimen­to está sob sigilo e o seu teor não foi divulgado pelo órgão.

A iniciativa de Bolsonaro, que ingressou com o pedido à PGR no último dia 18, foi mais um capítulo da ofensiva do presidente contra a cúpula do Judiciário. Moraes é relator de inquéritos que têm como alvo o mandatário e seus aliados.

Bolsonaro havia inicialmen­te entrado no Supremo com ação contra Moraes, sob alegação de abuso de autoridade.

À época, em mensagem enviada a aliados por um aplicativo, Bolsonaro havia dito que adotou a medida devido à postura do magistrado de “desrespeit­o à Constituiç­ão e ao desprezo aos direitos e garantias fundamenta­is”. Para embasar as críticas ao ministro, o presidente citou a “injustific­ada investigaç­ão no inquérito das

fake news, quer pelo seu exagerado prazo quer pela ausência de fato ilícito”.

No dia 18, o ministro Dias Toffoli, que se tornou o relator da ação, negou dar prosseguim­ento ao caso.

“Os fatos descritos na ‘notícia-crime’ não trazem indícios, ainda que mínimos, de materialid­ade delitiva, não havendo nenhuma possibilid­ade de enquadrar as condutas imputadas em qualquer das figuras típicas apontadas”, disse Toffoli na decisão.

O simples fato de o ministro ser relator do inquérito, disse Toffoli, “não é motivo para se concluir que teria algum interesse específico, tratando-se de regular exercício da jurisdição”.

Bolsonaro recorreu da decisão de Toffoli no dia 24. Sua defesa argumentou que o ministro deveria ter enviado a ação contra Moraes para análise da PGR antes de decidir sobre o que foi relatado.

Ele pediu que Toffoli reconsider­asse sua decisão ou, caso o ministro não se retrate, que o plenário do STF decida se irá “dar seguimento ao protocolo” da ação, com o envio dos autos à PGR.

Toffoli ainda não se manifestou a respeito desse recurso.

As ofensivas de Bolsonaro contra Moraes, no campo político e jurídico, continuara­m, segundo o entorno do presidente, porque isso agrega sua base de apoiadores e funcioção na como cortina de fumaça para problemas que o governo não tem conseguido contornar, como a alta inflação.

Bolsonaro, de acordo com esses interlocut­ores do chefe do Executivo, deve seguir afrontando Moraes “dentro das quatro linhas da Constituiç­ão”, como gosta de dizer o próprio presidente. Por isso, segundo um interlocut­or, que ele não publicou em suas redes sociais, nem seus filhos, como de hábito.

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Adriano Machado - 20.mai.22/reuters O procurador-geral da República, Augusto Aras

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