Folha de S.Paulo

Efeito Datena trava acordo, e Lula apela a França por chapa única em SP

Incerteza sobre a candidatur­a do apresentad­or ao Senado ameaça atrasar aliança com Haddad

- Victoria Azevedo e Artur Rodrigues

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer buscar, em um encontro com o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB), a solução final do imbróglio sobre uma chapa única do campo da esquerda na disputa ao Palácio dos Bandeirant­es.

O encontro estava previsto para ocorrer na tarde desta quinta-feira (26). Com a notícia da morte do ex-prefeito e um dos fundadores do PT Jacó Bittar, Lula, França e o exgovernad­or Geraldo Alckmin (PSB) foram juntos para Campinas, no interior de SP, para acompanhar o velório.

Lá, França comentou que a reunião estava mantida, mas não deu pista sobre se vai concorrer ao Senado ou se vai manter a pré-candidatur­a.

Segundo relatos, ficou acordado que um novo encontro será realizado na próxima semana —agora com a participaç­ão dos presidente­s dos partidos Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Siqueira (PSB).

A previsão é que essa nova reunião ocorra antes de o expresiden­te viajar para o Sul do país. Ele deverá visitar o Rio Grande do Sul e Santa Catarina entre quarta e sexta-feira.

O PT defende a candidatur­a do ex-prefeito Fernando Haddad, que lidera as pesquisas de intenção de voto no estado, enquanto França resiste à ideia de desistir de ser candidato ao governo paulista.

Segundo a Folha apurou, Lula tem afirmado que espera uma posição definitiva do exgovernad­or para essa questão.

Na tentativa de atrair o apoio de França, petistas teriam oferecido duas vagas na chapa majoritári­a ao PSB: a vice e o Senado, que estaria reservada para França.

A avaliação entre petistas e pessebista­s, no entanto, é que um fator que pesa na decisão do ex-governador é a possível candidatur­a de José Luiz Datena (PSC-SP) para o Senado. Isso porque, nessa avaliação, a candidatur­a do apresentad­or seria competitiv­a e um risco para França.

Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira diz que Lula afirmou em almoço com presidente­s dos partidos da coligação, na segunda (23), sobre sua intenção de buscar França, em um esforço para tentar unificar os palanques. “Ainda temos esperança que seja um palanque só”, afirmou.

Siqueira diz ainda que o critério para definir qual dos dois candidatos deve manter a candidatur­a é “político” —e refuta a realização de pesquisa, instrument­o defendido por França. “Critério para mim é sempre político. Tenho pavor dessa história de pesquisa.”

O presidente do PT em São Paulo, Luiz Marinho, também afirma não ver necessidad­e de realizar uma nova pesquisa, diante da liderança consolidad­a de Haddad em uma ampla variedade delas.

“Creio que o melhor é a gente somar esforços numa candidatur­a única para o estado e o Senado”, diz. “Temos tudo para eleger a vaga do Senado desde que se lance uma liderança consolidad­a como a do Márcio França.”

No começo do mês, em sabatina da Folha e do UOL, França prometeu sua candidatur­a até o fim se acordo com PT naufragass­e. “Se não houver acordo, vamos com a candidatur­a até o fim”, afirmou. “Se eles não toparem a [definição por] pesquisa, nós teremos duas candidatur­as.”

O ex-governador argumenta que sua campanha teria mais facilidade do que a do ex-prefeito Haddad em atrair eleitores refratário­s à esquerda.

Um interlocut­or de França afirma que ele está com vontade de disputar o Executivo estadual e que joga com o tempo para ver se consegue pontuar melhor nas pesquisas —e, por isso, gostaria de esticar a decisão para julho.

Ele ressalta, no entanto, que há pontos que pesam contra a permanênci­a do ex-governador na disputa.

Entre eles o fato de o PSB não estar coligado com ninguém no estado, a tendência de cresciment­o nas pesquisas do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republican­os), nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), e o peso da máquina estadual na candidatur­a do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB).

Além do risco de queda de França nas pesquisas, o peso financeiro da campanha em um partido de tamanho médio como o PSB, com campanhas importante­s também no Maranhão, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco pela frente, não é algo a ser desconside­rado. Petistas ouvidos afirmam que, por parte da legenda, há disposição para que as candidatur­as sejam unificadas, que a sigla tem evitado entrar em embates com França e que respeita a candidatur­a do pessebista.

“Quem aposta no entendimen­to não precisa ficar cutucando o outro” afirmou um membro do partido.

Há o entendimen­to de que é preciso uma resolução rápida, até mesmo para acomodar demais partidos que pretendem apoiar Haddad na chapa majoritári­a, como o PSOL — partido que, por sua vez, ainda precisa discutir internamen­te se irá apoiar ou não o petista.

O núcleo de Haddad tem visão menos otimista e acredita que a tendência é que França concorra mesmo ao governo.

A avaliação é baseada nos sinais emitidos por França de que pretende insistir na candidatur­a, apesar de haver o entendimen­to da existência de esforços de um grupo importante do PSB a favor de que se chegue a um acordo.

Com França na corrida eleitoral, o ex-governador Geraldo Alckmin tem afirmado a interlocut­ores que não faria campanha para Haddad no primeiro turno.

O grupo que atua junto ao ex-prefeito minimiza esse fato e diz que, em 2012, a ex-presidente Dilma Rousseff apoiou seu nome para a Prefeitura de SP e o então vice-presidente Michel Temer apoiou o candidato Gabriel Chalita, sem efeitos colaterais.

Apesar disso, não haveria um clima ruim entre ambas as candidatur­as. Em eventual cenário de manutenção dos dois nomes, será mantido um debate propositiv­o sem ataques ou gestos que possam azedar o clima na aliança nacional entre as siglas, avaliam os petistas.

Ainda temos esperança de que seja um palanque só (...) O critério é sempre político

Carlos Siqueira presidente nacional do PSB

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil