Folha de S.Paulo

Assinado há 25 anos, pacto entre Moscou e Otan agora parece utopia

- Renan Marra

“São novos tempos”, declarava Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, no dia da assinatura do primeiro acordo de cooperação econômica e militar depois da Guerra Fria entre a Rússia e a Otan, hoje em lados opostos na Guerra da Ucrânia.

O pacto, à época inesperado, foi chamado de Ato Fundador Otan-rússia e assinado em 27 de maio de 1997, há 25 anos, eliminando formalment­e os últimos vestígios da Guerra Fria oito anos depois da queda do Muro de Berlim.

Boris Ieltsin, na Presidênci­a da Rússia, celebrou a aproximaçã­o com o Ocidente declarando que os mísseis nucleares de seu país —hoje trazidos à baila por figuras do regime de Vladimir Putin— não estariam mais direcionad­os para alvos de membros da Otan. A aliança militar liderada pelos EUA, por outro lado, se comprometi­a a consultar Mosco una tomada de decisões e anão desloca rum grande contingent­e militar e armamentos nucleares para as fronteiras russas.

“AO tanvai trabalhar junto coma Rússia, não contra ela ”, disse Clinton sobre o acordo, em termos que hoje, à luz de declaraçõe­s de Putin, soam deslocados. Anos antes, a aliança militar teria se comprometi­do anã ose expandir para o Leste Europeu, onde estão ex-repúblicas soviéticas.

“O texto gerou uma série de avanços, mas ainda assim sempre houve grande resistênci­a contra uma aproximaçã­o militardiz leonardo trevisan, professor de relações internacio­nais da PUC-SP.

“Ieltsin, quando estava na Presidênci­a, tinha outra visão de mundo, que não incluía a mentalidad­e de restabelec­era Rússia como grande potência. Putin, por sua vez, sempre desconfiou do Ocidente”, diz Gunther Rudzit, professor de relações internacio­nais da ESPM

A ofensiva russa contra a Geórgia, em 2008, provocou reações do Ocidente e fez o acordo ficar congelado. Anos mais tarde, a anexação russa da Crimeia, em 2014, considerad­o um ensaio do conflito atual na Ucrânia, foi o fator decisivo para, segundo o especialis­ta, “enterrar o caixão” do Ato Fundador Otan-rússia.

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