Folha de S.Paulo

Pequim propôs acordo de segurança a nações do Pacífico, indica vazamento

- Com Reuters

O chanceler da China, Wang Yi, iniciou nesta semana uma viagem de dez dias no Pacífico, com o rascunho de um acordo em mãos para estreitar laços econômicos e de segurança com oito nações. A ideia é lançar as bases para uma área de livre comércio na região, que ganhou prioridade na diplomacia chinesa.

O jornal The Guardian teve acesso ao documento e a um plano estratégic­o de cinco anos que Wang deve apresentar a seus homólogos e detalhou o conteúdo em reportagem publicada na quinta (26). O ministro visitará as Ilhas Salomão, Fiji, Kiribati, Samoa, Tonga, Vanuatu, Papuanova Guiné e Timor Leste.

O principal enfoque do pacto está na área de segurança. O documento propõe expandir a cooperação China-pacífico na área policial e no combate ao crime transnacio­nal. Também sugere que Pequim treine agentes dessas nações.

Parcerias nas áreas de cibersegur­ança, governança de dados, infraestru­tura, mineração, energia e pesca também são mencionada­s. O pacto sugere a criação de uma área de livre comércio com as nações.

Há, também, o compromiss­o de Pequim de fornecer US$ 2 milhões (R$ 9,5 mi) adicionais a esses países para ajudar no combate à Covid e às consequênc­ias da pandemia, além do envio de 200 médicos chineses nos próximos cinco anos. Cerca de 2.500 bolsas de estudo também seriam ofertadas pelo regime.

Em partes, o plano se assemelha ao que Pequim já fez com as Ilhas Salomão, país na região do Pacífico Sul, próximo à Austrália e à Nova Zelândia. Os dois governos firmaram um acordo em meados de abril que, na prática, terceiriza a segurança no arquipélag­o e coloca as forças de segurança dos comunistas à disposição do governo local.

O porta-voz da chancelari­a chinesa, Wang Wenbi, sinalizou nesta quinta que a parceria com os salomônico­s é só o primeiro passo que Pequim anseia dar. “Queremos tornar essa relação bilateral um belo exemplo de confiança política mútua e um marco para a cooperação entre China e nações do Pacífico Sul.”

Ele afirmou, ainda, que a ampliação da parceria com os países insulares da região configura uma “diretriz estratégic­a de longo prazo da diplomacia chinesa”. Wenbi aproveitou a ocasião para fazer críticas à Otan, a aliança militar ocidental —hoje no centro do conflito entre Ucrânia e Rússia—, afirmando que o grupo liderado pelos EUA tem entrado repetidame­nte na região Ásia-pacífico.

“A Otan tem transgredi­do regiões e clamado por uma nova Guerra Fria; isso é motivo suficiente para que haja alta vigilância e firme oposição da comunidade internacio­nal”, seguiu o porta-voz.

O objetivo chinês na região, porém, está longe de ser consenso. David Panuelo, presidente dos Estados Federados da Micronésia, conjunto de mais de 600 ilhas localizado a leste das Filipinas, afirmou que seu país pedirá que o acordo seja rejeitado.

“No caso de uma invasão chinesa de Taiwan, que seria equivalent­e a uma guerra entre China e EUA, a região corre o risco de ficar presa no fogo cruzado”, disse Panuelo.

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