Folha de S.Paulo

Conheça a história de algumas vítimas do massacre em escola no Texas

- Tradução de Clara Allain

Jailah Silguero, 10, era a caçula de quatro irmãos, a “nenê” da família, disse seu pai. Adorava ir à escola e ver as amigas. Ela foi uma das crianças mortas na escola de ensino fundamenta­l Robb, no Texas.

Na noite da segunda-feira (23), véspera do ataque, Jailah disse ao pai, Jacob, 35, que queria ficar em casa na terça. Não foi uma atitude caracterís­tica dela, e, na manhã seguinte, conta Silguero, a menina parecia ter esquecido o assunto: vestiuse e foi à escola como todos os dias. “Não consigo acreditar que isso aconteceu com a minha filha, meu bebê”, diz ele. “Sempre tive medo de perder um de meus filhos.”

Silguero conta que os irmãos de Jailah estão inconforma­dos. “Eles só querem ter a irmã de volta.” A menina é uma das 21 pessoas —19 crianças e duas adultas— mortas no massacre na terça-feira.

Duas primas e colegas

Jackie Cazares e Annabelle Rodriguez eram primas e colegas de classe na escola Robb, em Uvalde. Jackie, que fez sua primeira comunhão duas semanas atrás, era a mais comunicati­va, segundo Polly Flores, tia da menina e tiaavó de Annabelle. “Ela era extroverti­da. Gostava de ser o centro das atenções”, diz. “Era minha pequena diva.”

Annabelle, uma das melhores alunas da classe, tinha personalid­ade mais quieta. Mas ela e a prima eram amigas íntimas, tanto que a irmã gêmea de Annabelle, que estudava em casa no sistema de home schooling, “vivia com ciúmes”, como conta Flores. “Somos uma família muito unida. Isso é devastador.”

Uma garotinha que amava suas amigas

Amerie Jo Garza, 10, era comunicati­va e gostava de brincar com massinha de modelar. Era “brincalhon­a, piadista, vivia sorrindo”, conta o pai, Alfred Garza 3º, em entrevista rápida pelo telefone.

Ela não falava muito sobre a escola, mas gostava de ficar com as amigas na hora do almoço, no playground e no recreio. “Ela era muito sociável, conversava com todo mundo.” A família extensa de Amerie Jo estava reunida na sala quando a polícia transmitiu a notícia medonha, na noite de terçafeira. Nos últimos dois anos a família já perdera vários entes queridos, mortos por Covid.

“Estávamos numa fase melhor, ninguém estava morrendo”, diz Garza. “E então isso.” Após receber a notícia, olhou fotos da menina. “Só então a emoção tomou conta de mim”, diz. “Comecei a chorar.”

‘Ela unia a vizinhança’

Eva Mireles, de quarenta e poucos anos, adorava lecionar na escola Robb, mais recentemen­te dando aulas para o quarto ano. Os vizinhos afirmam que era uma pessoa bem-humorada e sorridente. “Ela unia a vizinhança”, comenta Javier Garcia, 18. “Eva amava aquelas crianças.”

Um primo dela, Joe Costilla, 40, conta que, fora do trabalho, ela gostava de correr maratonas e praticar esportes. “Sempre passávamos tempo junto, íamos a churrascos — era uma pessoa maravilhos­a”, diz, segurando as lágrimas.

‘Um cara durão’

José Flores, 10, tinha uma camiseta estampada com a frase “homens durões andam de cor-de-rosa”. O avô, George Rodriguez, o chamava de “meu pequeno Josesito” e carregava uma foto dele na carteira.

Rodriguez, que também perdeu uma sobrinha no massacre, recebeu atendiment­o psicológic­o no centro cívico de Uvalde, mas diz que isso não aliviou sua dor. “Eram crianças lindas, inocentes.”

Na lista dos melhores alunos

No dia em que foi morto, Xavier López, 10, entrou para a lista dos melhores alunos da sala. Estava ansioso para voltar para casa e compartilh­ar a notícia com os três irmãos, mas os avós disseram que, em vez disso, ele decidiu ficar na escola mais um pouco para assistir a um filme e comer pipoca com os colegas.

Diante da casa da família, na quarta-feira, o avô Leonard Sandoval, 54, tentava entender o incompreen­sível. “Por quê?”, questionou. “Por que ele? Por que as crianças?”

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