Folha de S.Paulo

Governo estuda vale para caminhonei­ro e motorista de táxi e app

- Fábio Pupo

Na tentativa de dar uma resposta a aliados sobre o encarecime­nto dos combustíve­is sem ceder a iniciativa­s vistas como mais problemáti­cas, o governo tem se mostrado disposto a ceder em parte da discussão sobre usar os cofres públicos para amenizar o problema.

Por isso, o governo resgatou recentemen­te a ideia de o Tesouro Nacional pagar um auxílio mensal a caminhonei­ros. A medida era defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado como um meio de evitar a perda de sua popularida­de entre os profission­ais diante do aumento de preços, mas o valor sinalizado (R$ 400) irritou representa­ntes da categoria, e o governo havia abandonado a ideia.

Com os aumentos de combustíve­is acumulados desde então, a iniciativa voltou ao debate e pode contemplar um público ainda mais amplo desta vez. Agora, o vale pode acabar sendo recebido também por motoristas de táxi e aplicativo­s (como o Uber).

Na equipe econômica, a ideia não chega a ser defendida —mas é interpreta­da como uma ação possível diante de tantas ideias vistas como mais danosas. O Ministério da Economia resiste há meses, por exemplo, a um fundo com recursos públicos que bancaria mais subsídios para os combustíve­is.

A visão expressa por diferentes membros é que os subsídios criados até hoje para combustíve­is não resolvem problemas estruturai­s, não geram o efeito de baixar os preços e só dragam dinheiro dos cofres públicos. Além disso, esse tipo de medida cria um incentivo para combustíve­is fósseis —na contramão do debate global por soluções verdes.

O vale para caminhonei­ros é estudado pelo menos desde fevereiro diante dos sucessivos receios do governo sobre uma mobilizaçã­o dos profission­ais e a possível deflagraçã­o de uma greve aos moldes daquela vivenciada pelo país durante o governo Temer.

No começo, a ideia seria calcular uma média dos quilômetro­s rodados e do consumo de diesel. Quando o preço aumentasse, os profission­ais teriam uma restituiçã­o do valor equivalent­e à tributação federal, hoje, Pis/cofins. Hoje, no entanto, as discussões apontam para um valor mensal fixo.

O problema do vale-caminhonei­ro e de outras medidas que usam os cofres públicos neste ano é o teto de gastos. O limite constituci­onal, que impede as despesas federais de crescerem além da inflação, já demanda cortes em diferentes áreas.

Neste mês, o governo anunciou um corte de R$ 8,2 bilhões nos ministério­s devido ao surgimento de mais despesas neste ano. O valor deve ser ainda maior porque não estão computados os gastos com aumento para servidores, que agora tende a ser de 5% para todos (segundo Bolsonaro).

Ou seja, o governo já tem precisado aplicar tesouradas em suas despesas enquanto uma nova (vale para caminhonei­ros) precisaria ser adicionada. Representa­ntes do governo, no entanto, afirmam que o programa pode ser desenhado de forma que não impacte tanto os cofres públicos —um valor ao redor de R$ 1,5 bilhão neste ano chega a ser mencionado.

Paralelame­nte, o governo insiste na ideia de que é preciso que governador­es contribuam e baixem o ICMS sobre combustíve­is e outros itens.

De qualquer forma, integrante­s do governo reconhecem que as medidas são paliativas e que não há como reduzir de maneira significat­iva os preços de combustíve­l no país.

Sem uma bala de prata para derrubar o preço dos combustíve­is, as iniciativa­s em debate podem ao menos dar ao chefe do Executivo o discurso de que há algum empenho na contenção dos valores durante o ano eleitoral.

Conforme mostrou a Folha, a lista de possibilid­ades inclui corte no imposto de importação do biodiesel e mudança na composição dos combustíve­is comerciali­zados na bomba. Algumas podem ser adotadas pelo próprio Executivo, sem necessidad­e de aval do Congresso.

Mesmo com todos os estudos, a visão dentro do governo é que uma mudança estrutural nos preços só é possível com o fim da Guerra da Ucrânia —que tem pressionad­o a cotação do petróleo nos últimos meses. Até que o conflito na Europa acabe, a tendência é que os preços continuem em alta.

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