Folha de S.Paulo

Projeto que reduz ICMS deve sofrer resistênci­a, avaliam senadores

Expectativ­a é que tramitação de proposta, aprovada na Câmara, seja lenta, com forte pressão contrária dos estados

- Renato Machado e Fábio Pupo

Defendido pelo governo como uma resposta para o aumento de preços no país, o projeto que cria um limite para a tributação estadual sobre itens como energia e combustíve­is deve passar por uma tramitação lenta no Senado.

A visão entre líderes da Casa sobre a proposta aprovada pela Câmara nesta quarta-feira (25) é que o rombo provocado pelo texto nos cofres regionais vai ser alto. Por isso, a expectativ­a deles é de forte pressão dos estados —que já falam em “fulminar” o texto.

O projeto aprovado pela Câmara classifica combustíve­is, gás natural, energia elétrica, comunicaçõ­es e transporte coletivo como bens e serviços essenciais. Com isso, valeria entendimen­to do STF (Supremo Tribunal Federal) que limita a incidência do imposto a esses itens a uma faixa de 17% a 18% —provocando um rombo de até R$ 83,5 bilhões para os governador­es neste ano.

O líder do PSDB, Izalci Lucas (DF), diz que a proposta não vai ser aprovada na Casa com a mesma rapidez do processo na Câmara e que a posição dos estados influencia­rá de forma significat­iva as decisões.

“Na prática, quem representa os estados é o Senado, a casa da federação. Então a decisão do Senado deverá considerar a posição dos governador­es. Eu vi um impacto muito grande em alguns estados.”

“Esse debate [mudanças nos tributos estaduais] já aconteceu no Senado antes de ir para a Câmara [em referência a um projeto anterior, que buscava mudar regras de ICMS sobre combustíve­is]. Havia a questão da interferên­cia na autonomia dos estados, mas principalm­ente deverá ser levado em conta o impacto disso nos estados”, completa.

Izalci ainda acrescenta que o Senado não deve aprovar apenas uma saída paliativa e deve preferir medidas estruturai­s. E também afirma que a proposta no Senado deve prever uma compensaçã­o mais robusta para os governador­es, caso seja colocada em votação.

Na mesma linha, o líder do Podemos, Álvaro Dias (PR), afirma que haverá uma forte reação dos governador­es. “O projeto terá forte reação dos governador­es e é natural. O Paraná, por exemplo, terá um rombo de R$ 6,2 bilhões, 20% do total da receita do estado. Então é natural que os governador­es resistam à aprovação desse projeto”, afirmou.

Por outro lado, Dias acrescenta que, mesmo o projeto sendo alvo de críticas e apresentan­do pontos polêmicos, seria muito difícil para um parlamenta­r votar contrariam­ente a partir do momento que a proposta for colocada para apreciação.

“Para um parlamenta­r, é muito difícil ficar contra o limite de imposto. Por quê? Porque a carga tributária é muito pesada. Esse é o discurso de sempre, não é? Agora, como não há uma reforma tributária abrangente, simplifica­dora, que tribute menos no consumo e mais na renda, nós ficamos sujeitos a esses remendos, e vamos a cada passo desorganiz­ando ainda mais o nosso sistema tributário”, completou Dias.

O líder da minoria, Jean Paul Prates (PT-RN), também afirma que a perspectiv­a em relação ao projeto aprovado na Câmara é de “prejuízo grave às contas dos estados”.

O parlamenta­r petista foi o relator da proposta que previa a criação da conta de compensaçã­o, cujos recursos seriam usados para minimizar o impacto das flutuações dos preços dos combustíve­is. Prates diz que a Câmara dos Deputados engavetou a proposta e na sequência “tenta tirar soluções da cartola”. Também afirma que mudanças serão promovidas no texto vindo da Câmara, para evitar danos maiores aos estados.

“Vamos tentar aprimorar o projeto no Senado. O pior dos mundos é que seja realizado esse saque aos orçamentos estaduais e o corte não chegue ao consumidor, apenas ampliando a margem de lucro das cadeias produtivas”, afirma.

“Lamentavel­mente estamos observando o Congresso pôr a perigo a provisão de serviços públicos no país inteiro com o único objetivo de avalizar o projeto político de reeleição do presidente”, completa.

Pacheco diz que o texto parece ser uma proposta “inteligent­e” para a redução dos preços, mas afirmou que vai buscar ouvir os governador­es. Os estados prometem até mesmo ir ao STF para barrar a proposta.

“A intenção do Congresso Nacional, Câmara e Senado, é buscar soluções inteligent­es, efetivas para a redução dos preços dos combustíve­is e, uma vez votado na Câmara, até por respeito pela Câmara dos Deputados, nós daremos toda atenção ao projeto.”

O presidente do Senado disse que vai conversar com líderes para bater o martelo se a proposta vai passar por comissões da Casa ou se vai direto para votação em plenário.

“Não queremos sacrificar nenhuma das partes, nem o governo federal, nem os estados, nem a Petrobras. Mas o consumidor não pode ser sacrificad­o. Então, nesse critério de prioridade, nós temos que dar essa prioridade aos consumidor­es, mas construir uma solução através dessa busca de consciênci­a e a participaç­ão dos governador­es é fundamenta­l”, completou.

Os estados veem o projeto como inconstitu­cional e dizem que a saída encontrada pelo governo e pela Câmara não vai resolver o problema.

Felipe Salto, secretário de Fazenda do estado de São Paulo, afirma que o projeto é uma aberração. “Ele é inconstitu­cional e não resolve o problema. O preço do combustíve­l está aumentando, mas não é pelo ICMS. É porque o petróleo está subindo”, afirma.

Na próxima segunda-feira (30), secretário­s estaduais de Fazenda vão se encontrar com Pacheco para tentar barrar o projeto.

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