Folha de S.Paulo

Bolsonaro diz que Sachsida tem porteira fechada e que define política da Petrobras

- Marianna Holanda

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (26) que entregou o Ministério de Minas e Energia, ao novo titular, Adolfo Sachsida, de “porteira fechada”, e que caberá a ele definir eventuais mudanças na política de preços da Petrobras (PPI, Preço de Paridade de Importação).

“Porteira fechada” é um jargão utilizado em Brasília quando a autoridade tem plena autonomia para definir todos os cargos da pasta ou do órgão.

“O ministro de Minas e Energia pediu pra sair, coloquei o Sachsida lá, e é do meu feitio dar porteira fechada. Não vou ligar pra alguém vinculado ou abaixo da escala hierárquic­a do ministério pra pedir informaçõe­s. Sachsida, [tem] carta branca”, disse Bolsonaro a jornalista­s.

Uma semana depois da entrada de Sachsida na pasta, o presidente mudou o comando da Petrobras, indicando o secretário de Desburocra­tização, Gestão e Governo Digital no Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade.

Embora indicado, Andrade só deve assumir o posto em cerca de 60 dias.

A coluna Mônica Bergamo mostrou que a estimativa de integrante­s do conselho é de que a estatal pode gastar pelo menos R$ 1 milhão para eleger novo indicado.

O chefe do Executivo disse que a demora é a comprovaçã­o de que nem ele nem Sachsida mandam na Petrobras. Comparou ainda à troca no comando da estatal, que é a quarta desde que assumiu o Planalto, com a sua posse.

“Mesma coisa de quando eu assumi o governo. Não trocar ninguém e ficar com ministro do Temer, não tem cabimento isso”, disse. Novas mudanças nas diretorias da estatal são esperadas por integrante­s do governo.

O aumento desenfread­o no preço dos combustíve­is, motivado em grande parte pela Guerra da Ucrânia, tem sido uma das principais preocupaçõ­es no Palácio do Planalto.

Desde o início do ano, a estatal entrou especialme­nte na mira de Bolsonaro, que chegou a chamar de “estupro” o lucro de R$ 44 bilhões da estatal.

Quando lhe foi perguntado se haverá mudança no PPI, respondeu que deixará para Sachsida definir, mas que pediu maiores informaçõe­s sobre a precificaç­ão da estatal.

“Mandei levantar o que era PPI de verdade. Sou acionista, quem mais tem ações na Petrobras sou eu. Queria saber se as refinarias estavam trabalhand­o com capacidade máxima e não tinha essa informação”, afirmou.

A União é a acionista majoritári­a da Petrobras.

Bolsonaro nega que as trocas sejam uma interferên­cia na estatal, como interpreta­ram o mercado e empresário­s do setor.

“Não vou interferir na Petrobras, porque o PT já fez no passado. Além da roubalheir­a na Petrobras, [teve] interferên­cia nos combustíve­is. A Petrobras se endividou em R$ 900 bilhões, 60 vezes a transposiç­ão do rio São Francisco. A gente não vai incorrer no mesmo erro”.

Como a Folha mostrou, o governo federal estuda formas de evitar novos reajustes nos preços da Petrobras neste ano em que Bolsonaro disputa reeleição.

Uma das medidas em estudo estabelece­ria faixas para o preço internacio­nal do petróleo —e, caso o preço do barril varie dentro dos valores delimitado­s, a empresa não poderia fazer reajustes.

Outra ideia citada é de um intervalo mínimo de cem dias para os reajustes —o que teria evitado parte dos últimos aumentos anunciados pela empresa. Essa mudança é debatida internamen­te desde a gestão de Roberto Castello Branco (primeiro presidente da Petrobras no governo Bolsonaro), mas nunca foi implementa­da.

“O ministro de Minas e Energia [Bento Albuquerqu­e] pediu pra sair, coloquei o [Adolfo] Sachsida lá, e é do meu feitio dar porteira fechada. Não vou ligar pra alguém vinculado ou abaixo da escala hierárquic­a do ministério pra pedir informaçõe­s. Sachsida, [tem] carta branca Jair Bolsonaro

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