Folha de S.Paulo

Brasil é democracia barulhenta, mas funcional, diz Guedes

Ministro afirma em Davos que estrangeir­os ‘se habituaram’ com ruído entre instituiçõ­es do país

- Luciana Coelho

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quinta-feira (26) que o Brasil é uma democracia barulhenta, porém funcional, e que investidor­es e autoridade­s estrangeir­as se “habituaram ao barulho”.

“[O Brasil] é uma democracia robusta, barulhenta mas resiliente”, afirmou a jornalista­s durante o encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos, ao comentar os constantes atritos entre Executivo e Judiciário.

“A democracia é um algoritmo de decisão política decentrali­zada. Por isso que faz barulho. O presidente fala uma coisa, o Supremo fala outra, o Congresso outra. Esse barulho é normal numa democracia.”

Guedes havia sido indagado sobre possíveis preocupaçõ­es com a saúde da democracia brasileira e os constantes ataques do presidente ao Supremo, sobretudo ao ministro Alexandre de Moraes.

Segundo ele, a questão não surgiu durante as reuniões que manteve com autoridade­s e executivos estrangeir­os. Apenas um dos eventos, um almoço oferecido pelo jornal americano The Washington Post, o ministro foi questionad­o de forma genérica sobre as eleições de outubro.

Guedes afirma que os participan­tes do Fórum “passaram a respeitar” o Brasil e a confiar tanto na democracia brasileira quanto na capacidade de fazer reformas.

Os atritos porém, atrapalham, ele admite.

“Barulho vem de excessos cometidos por indivíduos. Um cara dentro do Supremo sai da cerca e dá nisso. Ou mesmo se for o presidente, fala algo do Supremo, parece desrespeit­o, pedem para parar com isso”, disse. “Esse barulho nos atrapalha muito. Poderíamos ter crescido mais, ter feito mais reformas.”

Guedes também afirmou que a inflação no Brasil já está no pico, embora não tenha dito que começará a cair já.

O IPCA-15, espécie de prévia da inflação oficial, acumula em 12 meses avanço de 12,20%, e economista­s preveem que o patamar de dois dígitos só comece a ceder em outubro.

“A inflação já chegou no pico. E vai voltar antes do que a deles”, afirmou Guedes sobre os países europeus e os EUA. “Vai subir no mundo inteiro por muito tempo, dez, 15 anos. Mas não no Brasil. Lá fora.”

O ministro esteve no balneário alpino para participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial, que terminou nesta quinta-feira sob a sombra de uma nova crise econômica global detonada pela Guerra da Ucrânia.

Durante sua participaç­ão, em quatro dias, Guedes demonstrou otimismo e buscou promover o Brasil como um país onde a casa já estaria arrumada em termos fiscais e monetário para possibilit­ar cresciment­o, enquanto boa parte do mundo antevê uma recessão.

Apesar do cenário externo desfavoráv­el, Guedes diz apostarna dinâmica interna decrescime­nto do país para puxara recuperaçã­o. Questionad­o sobre o fato de a inflação frear o consumo, o ministro respondeu que “tem sempre gente” que está ganhando e “inflação não impede o cresciment­o”.

“É claro que ela é ruim para o cresciment­o. Ela tem efeitos redistribu­tivos perversos. Mas já estamos combatendo. Tiramos os estímulos fiscais. O cresciment­o podia ter sido maior no ano passado mas nós contivemos.”

Para Guedes, o investimen­to privado acertado para os próximos anos será suficiente como motor. Ele estima uma injeção de cerca de R$ 80 bilhões anuais pelos próximos dez anos, sem incluir privatizaç­ões em curso ou futuras.

“De um lado, temos a retomada dos investimen­tos, que éo pé noacel erador da economia. Ajustou aparte fiscal monetária, a inflação vai descer, e o investimen­to está subindo. Só que o Banco Central ainda puxando o freio. Era para estarmos crescendo mais, como estamos combatendo a inflação estando crescendo menos.”

O ministro saiu animado de Davos com o que descreveu como mudança de perspectiv­a em relação ao Brasil. Aseu ver, o país deixou de ser visto coma desconfian­ça e até alguma hostilidad­e que ele diz ter senti doem 2019 e 2020 e passou a ser mais respeitado.

“Nosso desempenho desmontou a descrença em relação ao Brasil .” Com acrise, “o Brasil agora é percebido de forma diferente”, afirmou. “É uma democracia, aperfeiçoa­ndo as instituiçõ­es e por isso barulhenta­s, em transição para economia de mercado e um gigante verde.”

“A democracia é um algoritmo de decisão política decentrali­zada. Por isso que faz barulho. O presidente fala uma coisa, o Supremo fala outra, o Congresso outra. Esse barulho é normal numa democracia Paulo Guedes, ministro da Economia, em Davos

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Zheng Huansong/ Xinhua O ministro Paulo Guedes durante o Fórum Econômico Mundial, que terminou ontem, em Davos

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