Folha de S.Paulo

Meu marido foi assassinad­o e estamos sem sustento, diz viúva

- Eliene Andrade

Genivaldo de Jesus Santos saiu cedo de casa. No bolso da calça, levava uma caixa de remédios. O destino era a casa de sua irmã, na mesma cidade, Umbaúba, interior de Sergipe. Não chegou até lá. Terminou morto dentro de uma viatura da PRF (Polícia Rodoviária Federal), após ser abordado pelos policiais em um posto de combustíve­l.

O sergipano de 38 anos era pai de um menino de sete anos. A criança ainda não entende o que aconteceu ao seu pai, conta a mãe. A viúva, Maria Fabiana dos Santos, disse não saber o que fará agora que seu marido morreu, pois era dele o dinheiro que sustentava a família.

“Além de viver um pesadelo, estamos agora sem saber como faremos para nos sustentar. Era o dinheiro do meu marido que dava conta do sustento da casa e que garantia um ensino de qualidade para nosso filho”, disse Fabiana, que agora busca ajuda da Defensoria Pública da União.

Ainda segundo os familiares, a vítima tinha esquizofre­nia e tomava remédios controlado­s havia cerca de 20 anos.

“Estávamos juntos há 17 anos, e por 20 anos ele conviveu com a esquizofre­nia. Nunca foi agressivo e sempre foi prestativo, nunca fez nada de errado. Na escola do nosso filho, ele sempre estava presente para garantir que ele comeria o lanche”, lembra Fabiana, ao relatar também que o filho tem histórico de convulsões e precisa ser monitorado a todo tempo.

Genivaldo foi morto na última quarta-feira (25) em Umbaúba após ser abordado por policiais rodoviário­s federais.

Santos foi colocado dentro do porta-malas de viatura, onde inalou gás lacrimogên­eo, segundo divulgou a PRF na tarde desta quinta-feira (26).

Para a família, Genivaldo foi assassinad­o e “agiram com crueldade para matar”.

Para Claudemir dos Santos, primo da vítima, os policiais agiram com truculênci­a, mesmo após saber que o homem era esquizofrê­nico.

“Todas as pessoas que testemunha­ram a abordagem viram que ele [Genivaldo] não tinha sido agressivo. A gente conseguia ouvir os gritos do meu primo e mesmo assim continuara­m com a tortura”, conta o familiar, ao lembrar que o primo não era violento.

Procurada para comentar as críticas dos familiares da vítima, a PRF não se manifestou.

Mais cedo, em nota, a corporação disse que “está comprometi­da com a apuração inequívoca das circunstân­cias relativas à ocorrência” no Sergipe, “colaborand­o com as autoridade­s responsáve­is pela investigaç­ão”.

A PRF instaurou processo disciplina­r “para elucidar os fatos e os agentes envolvidos foram afastados das atividades de policiamen­to”, diz o comunicado.

“A instituiçã­o reforça seu compromiss­o com a transparên­cia e isenção, valores que sempre pautaram sua atuação em 93 anos de história”, finaliza a nota.

Estávamos juntos há 17 anos, e por 20 anos ele conviveu com a esquizofre­nia. Nunca foi agressivo e sempre foi prestativo, nunca fez nada de errado

Maria Fabiana dos Santos

viúva de Genivaldo de Jesus Santos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil