Folha de S.Paulo

Moradores pressionam Nunes por ação na cracolândi­a

Prefeito de São Paulo se encontrou com grupo que vive na região central de SP, perto dos usuários de drogas

- Claudinei Queiroz Tati Bernardi A colunista está em férias

Após uma manifestaç­ão dos moradores dos bairros de Santa Cecília e Campos Elísios fecharem o tráfego no Minhocão em protesto contra nova localizaçã­o da cracolândi­a, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi até a região para conversar com o grupo.

O encontro aconteceu na noite desta quarta-feira (25) dentro do 77º DP (Santa Cecília), na alameda Glete, ao lado do local onde estão atualmente os dependente­s químicos no centro de São Paulo.

O clima da conversa foi de muita cobrança, com os moradores perguntand­o se o prefeito sabia quanto tempo o fluxo —como é chamada a concentraç­ão dos usuários de drogas— continuari­a no local e se havia algum plano para acabar com a situação.

Nunes não tinha essas respostas, mas afirmou que não houve aumento do número de ocorrência­s de roubos na região após a fixação da cracolândi­a. Os moradores contestara­m a informação e insistiram que os casos aumentaram. Não há dados oficiais disponívei­s sobre as ocorrência­s na região no último mês.

Charles Souza, porta-voz do grupo que vive na região central, cobrou apoio da prefeitura aos moradores. Ele pediu que seja realizada limpeza das ruas duas vezes por dia e seja fornecido apoio psicológic­o a quem mora na região e tem sofrido com a situação —alguns deixaram de sair de casa, inclusive.

“Nós temos idosos presos, pessoas com síndrome do pânico, pessoas que estão desencadea­ndo problemas psicológic­os e psiquiátri­cos com essa situação. Uma moradora se trancou dentro do apartament­o e põe um baldinho pela janela para pegar as coisas que compra. Ela está com medo de sair de casa, está refém”, conta Souza.

Ricardo Nunes afirmou que as equipes de assistênci­a social farão esse trabalho e disse que a prefeitura está do mesmo lado dos moradores.

“Estou aqui para demonstrar à população que o poder público está presente, preocupado, buscando uma solução. A gente não deixa de reconhecer quais são os problemas dessa cidade. Desde prender os traficante­s e auxiliar os dependente­s até os moradores. Hoje um dos maiores problemas que enfrento na cidade é este. Então, tem de fazer com determinaç­ão”, afirmou o prefeito.

Ele também disse que a conversa com os moradores o ajudou a perceber as necessidad­es mais urgentes, como a questão da limpeza. “Eles estão incomodado­s porque têm o seu acesso bloqueado e as pessoas acabam fazendo muita sujeira na frente da sua porta, mas deram apoio total à ação da Polícia Militar, da Polícia Civil, do governo do estado, da prefeitura, da GCM”, disse o prefeito.

“São etapas, são fases. Sabíamos desde o começo que é algo [a situação da cracolândi­a] que não ia ser resolvido num passe de mágica, em pouco tempo. Começou em junho do ano passado, não completou um ano ainda, mas já tem esse sucesso de diminuir o número de pessoas. Antes eram 4.000 e hoje são cerca de 800”, completou Nunes.

Apesar das falas do prefeito, moradores disseram seguir insatisfei­tos com a situação. Eles disseram que desejam participar das decisões a respeito da cracolândi­a.

“A solução não é tirar de um lugar e colocar em outro, a solução não é só reprimir o tráfico. O tráfico não deveria nem existir, mas se o Estado deixou acontecer, cabe a ele dar uma solução, e uma solução completa. O que a gente vê é a conversa de internação compulsóri­a. Só que não é só isso que vai resolver. Eles falam que copiaram estratégia­s do primeiro mundo, mas não copiaram as leis. Vai chegar uma hora que o próprio Ministério Público vai falar: não vai fazer mais. Aí a gente fica mais 20, 30 anos”, disse Charles Souza.

“Temos de sentar todos na mesa redonda para discutir e tentar resolver o problema. Se temos de forçar o Ministério Público, vamos forçar. Se temos de provocar Brasília para criar leis mais duras, vamos provocar. Mas não vamos parar, não vamos nos calar. Todos têm que entender que nós também somos vítimas”, completou.

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