Folha de S.Paulo

Obi-wan reencontra Darth Vader em nova série

Ewan Mcgregor volta ao papel do jedi após 17 anos e defende filho do discípulo rebelde, que amou como a um irmão

- Henrique Artuni

SÃO PAULO Obi-wan é um mentiroso. Ao menos, “de um certo ponto de vista”, como ele mesmo diz ao jovem Luke Skywalker no “Star Wars” clássico, que não sabe que é o filho do maior vilão da galáxia.

Afinal, quando encontra um velhinho simpático de túnica franciscan­a no deserto, mal imagina que ele esquartejo­u o seu pupilo, Anakin, e o abandonou às margens de um rio de lava. Anos depois, quando vai entregar o sabre de luz para Luke, relembra os beijos, mas omite os tapas dessa história de amor.

Sim, de amor. É como define Deborah Chow, criadora e diretora de “Obi-wan Kenobi”, nova série que chega à Disney+ sobre os anos em que o jedi se exilou no planeta Tatooine, protegendo a cria de seu discípulo a distância.

“A relação entre os dois é muito especial nas prequels [os episódios um a três da franquia]. Obi-wan fala ‘você era meu irmão, Anakin, eu amava você!’”, lembra Chow, sobre o momento em que o mestre se declara ao discípulo em chamas. “Acho que esse relacionam­ento segue mesmo com tudo que acontece. Eles se amavam como irmãos, e é o que constitui esses personagen­s.” Diria o poeta que amor nenhum dispensa uma gota de ácido.

Como se sabe, o pupilo tem sua vingança logo no primeiro filme da saga, de 1977, quando Vader acaba com o mestre num curto duelo. Só décadas depois, a partir de “A Ameaça Fantasma”, de 1999, é que conhecemos um Obi-wan jovem, certinho, mas ao mesmo tempo malandro —que rende memes até hoje com suas tranças, mullets e tiradas sarcástica­s.

Era um novo jedi que nascia na pele do britânico Ewan Mcgregor, aceitando o desafio de dar novo estofo ao que fez Alec Guinness, morto em 2000, nos longas originais.

Já faz 17 anos que Mcgregor não interpreta o jedi —o que espelha inclusive os cerca de 20 anos que separam os episódios três e quatro.

“Construir o personagem neste diferente ponto da vida é um dos aspecto mais desafiador­es e estimulant­es da série, porque temos que conectar as duas trilogias”, afirma Chow, primeira mulher a comandar uma produção “Star Wars” e que já trabalhou na série “O Mandaloria­no”. Esta última, aliás, depois do Titanic que foi “A Ascensão Skywalker”, abriu a porteira para a franquia na TV, também com “O Livro de Boba Fett”.

Ainda não é um terreno garantido —nem mesmo entusiasta­s se deleitaram tanto com as produções mais recentes, apesar de o universo inteiro ter se rendido às fofuras do Baby Yoda.

A série vai se passar entre os dois filmes, com um Luke Skywalker ainda pequeno, sob os cuidados dos tios Owen, vivido por Joel Edgerton, e Beru Whitesun Lars, papel de Bonnie Piesse.

Daí deriva um clima de perseguiçã­o, com civis sendo ameaçados por soldados do Império —com destaque para os macabros inquisidor­es— quando não entregam um jedi de bandeja.

“É um período sombrio e parece apropriado [para nossa realidade], consideran­do tudo que passamos nos últimos anos. Gravamos a série ainda com a Covid, agora estamos em guerra. Eles também estão tentando sobreviver e ter alguma esperança.”

Se antes tinha a liberdade para criar um personagem bem diferente do de Guinness, Mcgregor agora sente a responsabi­lidade de se aproximar do sábio Ben Kenobi com seus primeiros pelos grisalhos. E haja cabelos brancos —depois de ter mutilado o pupilo predestina­do, perdeu o grande amor da sua vida (a duquesa Satine, morta em “Clone Wars”). Sem falar nos dois sóis que racham sua cuca sob o céu de Tatooine.

Porém o que todos querem ver mesmo é o reencontro dele com Anakin, já na carapuça de Darth Vader, mas que será interpreta­do por Hayden Christense­n, que também não habita essa pele há 17 anos.

“Sem Ewan o programa nem existiria”, defende a diretora. “Mas tive sorte de ter também o Hayden. Eles já viveram esses papéis são esses personagen­s aos olhos do público.” Christense­n, em particular, nunca mais se deu tão bem nas telonas desde “A Vingança dos Sith”.

O que vai chegar à minissérie nesta sexta-feira, enfim, vai fazer uma versão “oficial” de acontecime­ntos que fãs, livros e quadrinhos já especulara­m à exaustão. Vai depender, porém, se o ponto de vista de Chow levará a história para a bíblia canônica de “Star Wars” ou será mais uma mentira provisória perdida na galáxia.

Obi-wan Kenobi

EUA 2022. Direção: Deborah Chow. Com: Ewan Mcgregor, Hayden Christense­n e Moses Ingram. Disponível no Disney+

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Lucasfilm Ltd./divulgação Ewan Mcgregor em cena da série ‘Obi-wan Kenobi’, da Disney+

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