Obi-wan reencontra Darth Vader em nova série
Ewan Mcgregor volta ao papel do jedi após 17 anos e defende filho do discípulo rebelde, que amou como a um irmão
SÃO PAULO Obi-wan é um mentiroso. Ao menos, “de um certo ponto de vista”, como ele mesmo diz ao jovem Luke Skywalker no “Star Wars” clássico, que não sabe que é o filho do maior vilão da galáxia.
Afinal, quando encontra um velhinho simpático de túnica franciscana no deserto, mal imagina que ele esquartejou o seu pupilo, Anakin, e o abandonou às margens de um rio de lava. Anos depois, quando vai entregar o sabre de luz para Luke, relembra os beijos, mas omite os tapas dessa história de amor.
Sim, de amor. É como define Deborah Chow, criadora e diretora de “Obi-wan Kenobi”, nova série que chega à Disney+ sobre os anos em que o jedi se exilou no planeta Tatooine, protegendo a cria de seu discípulo a distância.
“A relação entre os dois é muito especial nas prequels [os episódios um a três da franquia]. Obi-wan fala ‘você era meu irmão, Anakin, eu amava você!’”, lembra Chow, sobre o momento em que o mestre se declara ao discípulo em chamas. “Acho que esse relacionamento segue mesmo com tudo que acontece. Eles se amavam como irmãos, e é o que constitui esses personagens.” Diria o poeta que amor nenhum dispensa uma gota de ácido.
Como se sabe, o pupilo tem sua vingança logo no primeiro filme da saga, de 1977, quando Vader acaba com o mestre num curto duelo. Só décadas depois, a partir de “A Ameaça Fantasma”, de 1999, é que conhecemos um Obi-wan jovem, certinho, mas ao mesmo tempo malandro —que rende memes até hoje com suas tranças, mullets e tiradas sarcásticas.
Era um novo jedi que nascia na pele do britânico Ewan Mcgregor, aceitando o desafio de dar novo estofo ao que fez Alec Guinness, morto em 2000, nos longas originais.
Já faz 17 anos que Mcgregor não interpreta o jedi —o que espelha inclusive os cerca de 20 anos que separam os episódios três e quatro.
“Construir o personagem neste diferente ponto da vida é um dos aspecto mais desafiadores e estimulantes da série, porque temos que conectar as duas trilogias”, afirma Chow, primeira mulher a comandar uma produção “Star Wars” e que já trabalhou na série “O Mandaloriano”. Esta última, aliás, depois do Titanic que foi “A Ascensão Skywalker”, abriu a porteira para a franquia na TV, também com “O Livro de Boba Fett”.
Ainda não é um terreno garantido —nem mesmo entusiastas se deleitaram tanto com as produções mais recentes, apesar de o universo inteiro ter se rendido às fofuras do Baby Yoda.
A série vai se passar entre os dois filmes, com um Luke Skywalker ainda pequeno, sob os cuidados dos tios Owen, vivido por Joel Edgerton, e Beru Whitesun Lars, papel de Bonnie Piesse.
Daí deriva um clima de perseguição, com civis sendo ameaçados por soldados do Império —com destaque para os macabros inquisidores— quando não entregam um jedi de bandeja.
“É um período sombrio e parece apropriado [para nossa realidade], considerando tudo que passamos nos últimos anos. Gravamos a série ainda com a Covid, agora estamos em guerra. Eles também estão tentando sobreviver e ter alguma esperança.”
Se antes tinha a liberdade para criar um personagem bem diferente do de Guinness, Mcgregor agora sente a responsabilidade de se aproximar do sábio Ben Kenobi com seus primeiros pelos grisalhos. E haja cabelos brancos —depois de ter mutilado o pupilo predestinado, perdeu o grande amor da sua vida (a duquesa Satine, morta em “Clone Wars”). Sem falar nos dois sóis que racham sua cuca sob o céu de Tatooine.
Porém o que todos querem ver mesmo é o reencontro dele com Anakin, já na carapuça de Darth Vader, mas que será interpretado por Hayden Christensen, que também não habita essa pele há 17 anos.
“Sem Ewan o programa nem existiria”, defende a diretora. “Mas tive sorte de ter também o Hayden. Eles já viveram esses papéis são esses personagens aos olhos do público.” Christensen, em particular, nunca mais se deu tão bem nas telonas desde “A Vingança dos Sith”.
O que vai chegar à minissérie nesta sexta-feira, enfim, vai fazer uma versão “oficial” de acontecimentos que fãs, livros e quadrinhos já especularam à exaustão. Vai depender, porém, se o ponto de vista de Chow levará a história para a bíblia canônica de “Star Wars” ou será mais uma mentira provisória perdida na galáxia.
Obi-wan Kenobi
EUA 2022. Direção: Deborah Chow. Com: Ewan Mcgregor, Hayden Christensen e Moses Ingram. Disponível no Disney+