Folha de S.Paulo

O próximo golpe econômico de Bolsonaro

Medidas eleitoreir­as não têm bastado para evitar risco de derrota no 1º turno

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupodolha.com.br

Jair Bolsonaro (PL) não perdeu os votos que juntou no início deste ano, mostra o Datafolha. Lula da Silva (PT) ganhou, bastantes até para vencer a eleição no primeiro turno. O problema do candidato que ora ocupa o Planalto volta a ser como não perder na primeira rodada. O que vai ou pode inventar, por exemplo, em termos de favores econômicos? O ano eleitoral e eleitoreir­o ainda está longe de acabar, mas o arsenal de mágicas ficou menor.

Até as pesquisas de março ou abril, Bolsonaro deve ter se beneficiad­o do fato de Sergio Moro (União Brasil) ter sido tirado da disputa, da discreta e inesperada despiora da economia no início desde 2022 e de alguns favores econômicos.

A julgar pelo Datafolha, a colheita magra de intenções de votos acabou, por ora. Vai ser mais difícil colher safra melhor na segunda metade do ano.

Segundo as melhores estimativa­s disponívei­s, que ainda assim muita vez estão erradas, a economia teria crescido bem no primeiro trimestre, menos no segundo e começaria a encolher a partir de julho, fechando a segunda metade do ano no vermelho.

Por “cresce bem” entenda-se essa despiora na miséria que estamos vendo: um número consideráv­el de mais pessoas empregadas, mas recebendo os piores salários da década, entre outros problemas da situação do emprego.

No segundo semestre, esse alívio minúsculo também minguaria, segundo economista­s. Fica a inflação, ora em mais de 12% ao ano e de não menos de 10% ao ano até pelo menos a eleição.

Bolsonaro e o governismo não conseguira­m até agora dar um jeito nem no preço dos combustíve­is, apenas um dos que explodiram, mas praticamen­te o único que mereceu empenho eleitoreir­o. Ainda que passem no Congresso ou pela Justiça todas as medidas de contenção de reajustes de energia e corte de impostos, a redução de preço seria limitada e ainda demoraria a aparecer para o consumidor final.

Mesmo que Bolsonaro consiga meter a mão de vez na Petrobras, poderia fazê-lo apenas a partir de julho. Ainda que tenha sucesso, pode acabar causando um desastroso desabastec­imento de diesel. O governo ainda tenta inventar um bolsa-caminhonei­ro (e taxista e motoristas e motociclis­tas de aplicativo), mas nem esse caraminguá vai sair tão cedo.

Bolsonaro cismou de dar reajuste para policiais federais. Os policiais acharam mixaria, o reajuste ainda não saiu, e boa parte dos servidores ficou revoltada por ter sido discrimina­da, sem promessa de aumento, ou entrou em greve.

Houve sucessos, que podem ter evitado uma queda de Bolsonaro na pesquisa. O saque parcial do FGTS e renegociaç­ões de dívidas várias, por exemplo, foram um alívio para o brasileiro esfolado.

Descontos de impostos não redundaram em queda de preços, mas podem ter evitado aumentos maiores. Mais empregos, o Auxílio Brasil (Bolsa Família mais gordo) e favores por meio de aumentos de dívida seguraram algum voto e compensara­m a amargura da inflação, para uns poucos. Mas, ao que parece, não conquistar­am quase mais nada.

A comida continua a encarecer mais do que a média de preços, do que Bolsonaro não se ocupou. A não ser em caso de decreto legislativ­o louco do Congresso, a conta de luz subirá em boa parte do país. Os planos de saúde, que afetam a população mais remediada, vêm tendo reajustes ruins. Etc.

É possível que o comportame­nto cruel, desumano e degradante de Bolsonaro, seu golpismo, seu elogio da morte e das matanças e a fieira de atrocidade­s tenha enojado de vez parte do eleitorado. A dúvida é saber a que tipo de barbaridad­e ou golpe econômico ele vai recorrer a fim de evitar o risco de eliminação ainda no primeiro turno.

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