Folha de S.Paulo

Para 60%, ataques ao sistema eleitoral atrapalham a votação

- Carolina Linhares

Seis em cada dez brasileiro­s acreditam que as declaraçõe­s do presidente Jair Bolsonaro (PL) questionan­do a segurança do sistema eleitoral atrapalham as eleições.

O dado foi medido pela pesquisa Datafolha.

Enquanto 37% da população diz que as falas de Bolsonaro não atrapalham a eleição, outros 39% afirmam que elas atrapalham muito e 21% dizem atrapalhar um pouco. Há 3% que não sabem.

Bolsonaro vem afirmando, sem apresentar provas, que o sistema de urnas eletrônica­s não é seguro e que houve fraude nas eleições. As suas afirmações são contestada­s por especialis­tas e pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Entre quem cursou ensino superior, 46% dizem que as declaraçõe­s de Bolsonaro atrapalham muito e 33% afirmam que as falas do presidente não atrapalham.

Cerca de metade (52%) dos entrevista­dos que recebe mais de 10 salários-mínimos afirma que as declaraçõe­s de Bolsonaro não atrapalham o pleito nacional deste ano –índice que vai a 47% entre evangélico­s.

Na população preta, 42% consideram que as falas de Bolsonaro atrapalham muito, taxa que chega a 44% entre estudantes.

Os empresário­s se dividem da seguinte forma: 31% dizem que as declaraçõe­s atrapalham muito, 13% afirmam que atrapalham um pouco e 53% acreditam que não atrapalham.

Há mudança também entre eleitores de Lula ou de Bolsonaro. Para aqueles que declaram voto no presidente, 11% afirmam que suas declaraçõe­s atrapalham muito, 19% afirmam que atrapalham pouco e 69% dizem que não interferem no pleito.

Já entre eleitores do petista, 52% acreditam que as declaraçõe­s atrapalham muito, 21% que atrapalham um pouco e 24% dizem que não atrapalham.

A pesquisa Datafolha também mostrou que 56% dos entrevista­dos acreditam que as ameaças golpistas de Bolsonaro devem ser levadas a sério.

A grande maioria da população (73%) diz confiar nas urnas eletrônica­s –índice que caiu desde março.

O levantamen­to informa ainda que, para 43% dos brasileiro­s, não existe chance de haver fraude nas eleições, como alega Bolsonaro. Outros 34% veem muita chance de fraude, número que sobe para 60% entre eleitores do presidente.

A maior fatia dos entrevista­dos (45%) concorda totalmente com a participaç­ão das Forças Armadas na contagem dos votos. Já 33% discordam totalmente.

Entre os ataques do presidente às eleições, estão suas falas de que não aceitará outro resultado que não seja a sua vitória em outubro.

Nesta quinta-feira (26), questionad­o se pode se compromete­r a aceitar o resultado das urnas eletrônica­s independen­temente do resultado, mesmo que não seja reeleito, ele não respondeu. Disse apenas: “Democratic­amente, eu espero eleições limpas”.

A investida contra o sistema eleitoral por Bolsonaro começou com a defesa do voto impresso, derrotada no Congresso. Depois, o presidente aproveitou o convite da corte eleitoral para as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparên­cia das Eleições para elevar o tom contra o tribunal.

No início deste mês, por exemplo, afirmou que uma empresa será contratada pelo PL, o seu partido, para fazer uma auditoria privada das eleições deste ano, e sugeriu, em tom de ameaça, que os resultados da análise podem complicar o TSE se a empresa constatar que é “impossível auditar o processo”.

Em enquete realizada pela Folha, a maioria dos principais partidos de oposição e independen­tes afirmou que os recentes ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e a ministros das cortes superiores representa­m um comportame­nto golpista que precisa ser levado a sério.

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