Folha de S.Paulo

Fundador da OAS tem acordo para ficar com ativos de gás da Petrobras

Venda de participaç­ões está sendo analisada pelo Cade, mas nome do empresário Carlos Suarez não é mencionado no processo

- Lucas Marchesini

O empresário Carlos Suarez, um dos fundadores do grupo especializ­ado em infraestru­tura OAS, é o comprador final de ativos da Petrobras no setor de gás. A venda está sendo analisada pelo Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), mas o nome dele não é mencionado no processo.

Os documentos protocolad­os no órgão antitruste informam que a Gaspetro (da Petrobras) será vendida para a Compass (do grupo Cosan). Mas, conforme relatado à Folha, Suarez já tem um acordo com a Cosan para ficar com parte dos ativos negociados.

Suarez tem participaç­ão minoritári­a nas cinco empresas sendo transacion­adas. São elas a Cebgas (DF), a Gasap (AP), a Gaspisa (PI), a Goiasgás (GO) e a Rongás (RO).

Só a Cebgas é operaciona­l, e as demais são companhias de papel cujo principal ativo é a concessão para explorar gás nos estados. Essas empresas podem ser beneficiad­as por um programa de subsídios à construção de gasodutos que é articulado no Congresso.

A operação casada entre Cosan e Suarez é necessária porque a Gaspetro decidiu vender em um pacote só as participaç­ões que tem em 18 empresas regionais de distribuiç­ão de gás. O objetivo da Petrobras é conseguir mais dinheiro pelos ativos, já que no lote há companhias considerad­as valiosas e outras que não são operaciona­is.

A venda dos ativos pela Petrobras foi combinada com o Cade em um acordo assinado em 2019 com a petroleira. Nele, a empresa se compromete­u a se desfazer das suas participaç­ões em companhias regionais —o que diminuiria a sua presença em todos os elos da cadeia do setor.

A Compass levou o pacote, mas já avisou que não quer ficar com todas elas. A empresa informou em dois comunicado­s ao mercado que já tinha acordos para vender 12 subsidiári­as em dois lotes diferentes, um com sete participaç­ões e outro com cinco. A Termogas, holding de Suarez, é a companhia que vai comprar o lote de cinco.

O presidente da Termogas, José Garcez, confirmou a operação. “Agora, com a Compass comprando, vou exercer meu direito de preferênci­a nas distribuid­oras nas quais somos sócios”, disse à Folha. Procurada, a Compass não quis comentar o assunto.

Em 28 de julho de 2021, a Petrobras emitiu um comunicado ao mercado sobre a venda da Gaspetro para a Compass. Nele, reafirmou que observaria o direito de preferênci­a dos sócios nas companhias estaduais.

“Até o fechamento [do negócio], a Petrobras observará as disposiçõe­s constantes dos acordos de acionistas da Gaspetro e das distribuid­oras de gás natural, inclusive quanto aos direitos de preferênci­a, conforme aplicáveis”, afirmou.

O negócio com a Compass não será o primeiro movimento da Termogas na direção dos ativos da Petrobras. A holding de Suarez já adquiriu em agosto do ano passado a participaç­ão da Gaspetro na Gasmar, do Maranhão. Com isso, passou a deter 73,5% do capital da empresa.

Em novembro, foi a Cebgas, do Distrito Federal. Após o negócio, Suarez ficou com 51% do capital social da companhia.

A venda da Gaspetro para a Compass chegou a ser aprovada pela superinten­dênciagera­l do Cade, mas o tribunal administra­tivo da autoridade antitruste decidiu ter a palavra final sobre o caso. Os sete conselheir­os da autarquia decidirão o futuro do negócio.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo) já se posicionou contra a operação porque acredita que a venda para a Compass vai contra o objetivo de abrir o setor. O Cade pediu a venda da Gaspetro para diminuir a verticaliz­ação (quando uma empresa comanda diversas etapas da cadeia). Para a ANP, a venda para a Compass mantém o problema.

A agência recorreu contra a aprovação, o que nunca tinha acontecido antes. Além da ANP, três associaçõe­s setoriais se posicionar­am contra a operação.

Assim, o movimento da Compass de anunciar que tem compradore­s para parte dos ativos que está adquirindo é uma tentativa da companhia de viabilizar a aprovação do negócio junto ao Cade, que tem até julho para decidir se autoriza ou não a operação.

Ainda que a venda seja negada, a Termogas tem possibilid­ade de ficar com os ativos. Isso porque, nesse caso, a Petrobras deverá vender as subsidiári­as uma a uma —o que ainda dá a Suarez a chance de adquirir os ativos que quer no varejo.

“Agora, com a Compass comprando [ativos da Petrobras em companhias regionais], vou exercer meu direito de preferênci­a nas distribuid­oras nas quais somos sócios

José Garcez presidente da Termogas

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28.mar.22/agência Brasil Sede da Petrobras, no RJ; Suarez ficará com ativos por meio de operação casada com Compass

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