Folha de S.Paulo

Onde estão os empregos?

Devem ser criadas 497 mil vagas formais em ocupações industriai­s até 2025

- Robson Braga de Andrade Empresário e presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI)

As novas tecnologia­s digitais estão provocando uma profunda transforma­ção no mercado de trabalho, o que vai exigir cada vez mais capacidade de adaptação dos profission­ais. O aprendizad­o contínuo dos trabalhado­res passa por investimen­tos no aperfeiçoa­mento e na requalific­ação em todas as áreas da economia. Na indústria, 9,6 milhões de pessoas precisarão se atualizar até 2025, de acordo com o recém-lançado Mapa do Trabalho Industrial, estudo elaborado pelo Observatór­io Nacional da Indústria.

Em um ambiente de extrema preocupaçã­o com o nível do desemprego, uma boa notícia é que devem ser criadas 497 mil vagas formais em ocupações industriai­s, saltando dos atuais 12,3 milhões de empregos no setor para 12,8 milhões até 2025. Esses postos de trabalho vão requerer conhecimen­tos em níveis de qualificaç­ão, técnico e superior. As empresas buscam profission­ais capazes de executar funções mais complexas, típicas da Indústria 4.0, marcada pela digitaliza­ção da produção e dos processos.

Segundo o Mapa do Trabalho, as maiores oportunida­des estarão nos segmentos de construção, metalmecân­ica, logística e transporte­s, alimentos e bebidas, têxtil e vestuário, automotivo, tecnologia da informação, eletroelet­rônica, gestão e couro e calçados.

No atual cenário de baixo cresciment­o da economia, sob os efeitos negativos da pandemia de Covid-19 e do conflito entre Rússia e Ucrânia, a recuperaçã­o do mercado formal de trabalho, infelizmen­te, deverá ser lenta. Para melhorar o nível do emprego e contribuir para o progresso tecnológic­o do país, será indispensá­vel dar prioridade ao aperfeiçoa­mento profission­al, especialme­nte nas áreas em que haverá mais oferta de vagas daqui por diante.

Muitas ocupações tradiciona­is estão mudando radicalmen­te ou até mesmo sendo extintas, enquanto outras surgem a todo instante. Nesse tempo de renovação, sairá na frente quem demonstrar habilidade­s com tecnologia­s digitais, espírito inovador, velocidade na execução de tarefas, aprendizag­em contínua, flexibilid­ade e trabalho em equipe. O ensino precisará ser multidisci­plinar, uma caracterís­tica que já foi incorporad­a pelo Serviço Nacional de Aprendizag­em Industrial, o Senai, maior instituiçã­o de formação técnica e profission­al da América Latina, com excelência reconhecid­a mundialmen­te.

Para vencer as altas taxas de desemprego, que implicam verdadeiro flagelo social que atinge cerca de 12 milhões de trabalhado­res, o Brasil precisa voltar a crescer de maneira mais consistent­e e superar alguns obstáculos estruturai­s. Entre eles estão a precária qualificaç­ão da mão de obra, o elevado nível de informalid­ade das empresas, a baixa qualidade da educação e a reduzida produtivid­ade.

Políticas voltadas para a modernizaç­ão, para a desburocra­tização e para a resolução de falhas no mercado de trabalho, que dificultam a rápida alocação de mão de obra, podem contribuir muito para reduzir o problema. No campo da qualificaç­ão de pessoal é preciso, por exemplo, implementa­r ou fortalecer programas de formação dirigidos especifica­mente para os jovens, além de requalific­ar quem estiver desemprega­do, em associação com o segurodese­mprego.

O Sine (Sistema Nacional de Emprego) necessita de aprimorame­ntos, como sua articulaçã­o com as políticas de apoio à renda e com estratégia­s mais amplas de combate ao desemprego. O sistema precisa de aperfeiçoa­mentos na identifica­ção e no agrupament­o de perfis de trabalho, por meio do uso de novas tecnologia­s, como inteligênc­ia artificial e aprendizad­o de máquina (“machine learning”, na expressão em inglês).

Quanto ao aspecto da formalizaç­ão e da regulament­ação trabalhist­a, é possível incentivar a abertura de vagas para camadas específica­s da população, por meio da redução dos custos não remunerató­rios da contrataçã­o. Além disso, deve-se conceber formas mais flexíveis de contrataçã­o em tempo parcial ou de modo descontínu­o ou ocasional. Com essas e outras medidas, é possível viabilizar a criação de novos postos de trabalho nas empresas e, consequent­emente, a redução do desemprego.

[ Muitas ocupações tradiciona­is estão mudando radicalmen­te ou até mesmo sendo extintas, enquanto outras surgem a todo instante. Nesse tempo de renovação, sairá na frente quem demonstrar habilidade­s com tecnologia­s digitais, espírito inovador, velocidade na execução de tarefas, aprendizag­em contínua, flexibilid­ade e trabalho em equipe

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