Folha de S.Paulo

Tebet tem maioria no MDB, mas cenário é incerto até convenção

Ala que resiste a ter uma candidatur­a própria diz que, se candidata não decolar, apoios podem ser revertidos

- Julia Chaib, Renato Machado e Thiago Resende

brasília Depois de ter a précandida­tura aprovada pela direção do MDB, Simone Tebet (MDB-MS) encara uma série de desafios para consolidar seu nome na disputa pela Presidênci­a da República.

Levantamen­to feito pela Folha indica que, se a convenção fosse hoje, a candidatur­a da senadora teria votos suficiente­s para ser aprovada pelo partido.

Para traçar a tendência de votos, a reportagem conversou nos últimos dias com dirigentes estaduais e com delegados, que têm direito a voto no encontro.

Atualmente, em pelo menos 19 diretórios há indicação de apoio por unanimidad­e ou por maioria dos convencion­ais à candidatur­a.

A projeção de dirigentes estaduais é que Tebet conseguiri­a reunir ao menos 65% dos votos na convenção.

No entanto, o cenário pode mudar até o meio do ano, quando ocorrerá a reunião. Alguns líderes de diretórios regionais e políticos do partido apontam que o apoio pode ser revertido, se a candidatur­a não decolar.

O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (MDBSP), diz que Tebet conta com o apoio de 90% do partido.

Emedebista­s que resistem à senadora e mesmo apoiadores da parlamenta­r que conhecem bem o partido, porém, dizem que a sigla está dividida e, na convenção, o resultado pode ser mais apertado do que a direção planeja.

Isso porque, no encontro, cada estado tem um número determinad­o de delegados, aptos a votar, e cada um deles tem uma quantidade de votos calculada com base no cargo que ocupa na direção estadual e nacional da sigla e suas funções públicas. Ou seja, uma pessoa pode acumular votos.

Ex-presidente­s do partido também têm direito a voto. O encontro deverá ser realizado no intervalo entre 20 de julho e 5 de agosto —prazo previsto pelas regras eleitorais.

Entre os principais desafios, Tebet precisará trabalhar para sair do índice de 2% de intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, e assegurar que a maioria dos pares a aprovará na convenção do partido.

A própria cúpula do MDB reconhece que a candidatur­a de Tebet no momento é apenas política, garantindo o apoio para que seja chancelada na convenção. Falta ainda o componente eleitoral.

Caso a senadora não se mostre viável, ganhará força o cenário em que os diretórios ficam livres para escolher se ligarem ao presidente Jair Bolsonaro (PL) ou ao ex-presidente

“Somos partidário­s. Mas é uma candidatur­a difícil e aqui, no Maranhão, a presença de Lula é muito forte. Se o candidato não for viável, isso tira nosso entusiasmo João Alberto Souza delegado do MDB no Maranhão

Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Essa posição já é defendida principalm­ente pela ala do MDB que enxerga na aliança com Lula uma chance maior de bons resultados na política local.

Esse grupo prefere o apoio ao petista porque a aliança com o ex-presidente dá força aos palanques locais, além de aumentar as chances de participaç­ão em um eventual governo.

Não seria inédita a situação em que emedebista­s apoiam outros candidatos na disputa nacional. Foi assim na eleição de 2018, quando o candidato do partido foi Henrique Meirelles.

Membros de diretórios estaduais do MDB fazem uma comparação entre a candidatur­a de Meirelles e um possível cenário para Tebet neste ano.

A cúpula do MDB já conta com a resistênci­a à senadora em estados como Alagoas, Ceará, Amazonas e Paraíba. No entanto, o comando do partido em outras unidades da federação, como Bahia e Sergipe, ainda evita se posicionar publicamen­te sobre a candidatur­a de Tebet por ora.

“Pessoalmen­te, a minha defesa é pelo [ex-]presidente Lula. Mas ainda não tivemos a reunião da comissão estadual”, disse Jackson Barreto, presidente do diretório do partido em Sergipe.

Há estados, porém, em que a presença tanto de Lula como de Bolsonaro é forte e seus dirigentes preferem candidatur­a própria para não se compromete­rem com uma posição.

O presidente do diretório do Rio, Leonardo Picciani, defende a candidatur­a de Tebet, segundo aliados, e uma das razões é evitar se compromete­r com a polarizaçã­o.

O Rio tem 26 votos e por lá, a posição na convenção será dividida. Isso porque Picciani tem ascendênci­a sobre uma ala dos convencion­ais, mas o deputado Washington Reis também tem influência sobre um grupo e deve abrir uma dissidênci­a pró-Bolsonaro na convenção.

Além das divisões internas no Rio de Janeiro, outros estados apresentam disputa sobre o rumo a ser tomado pelo partido na corrida presidenci­al.

No Rio Grande do Sul, a maioria dos votos deve ser a favor de Tebet. Mas a ala ligada ao deputado Osmar Terra, que foi ministro do governo Bolsonaro, tende a rifar a senadora para tentar criar alianças com partidos bolsonaris­tas.

Há mesmo dirigentes partidário­s que manifestam publicamen­te apoio à candidatur­a, mas reconhecem nos bastidores que seguem discutindo alianças com os outros candidatos e que aguardam para analisar o comportame­nto de Tebet nas pesquisas.

O MDB costuma ser um partido dividido e já teve disputas apertadas em convenções.

Em uma delas, em 2006, o ex-governador fluminense Anthony Garotinho foi rifado da disputa pela Presidênci­a da República depois de a convenção optar por não ter candidatur­a própria.

O placar foi apertado: 303 votos de convencion­ais a favor de um nome do MDB na disputa, e 351 contrários. Naquela época, o ex-presidente Itamar Franco também queria disputar o Palácio do Planalto.

Em outras convenções, como as de 1998 (quando foi decidido o apoio à reeleição de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB) e 1987, as divergênci­as no partido, que se chamava PMDB, resultaram em xingamento­s, brigas e agressões.

A convenção para tentar chancelar o nome de Tebet à disputa presidenci­al ainda não foi convocada.

Além dos embates internos no MDB, a senadora busca o apoio de outros partidos da terceira via em meio a dúvidas sobre o potencial eleitoral de candidatos numa eleição, até o momento, concentrad­a em Lula e Bolsonaro.

Para ganhar tração na disputa presidenci­al, o MDB negocia uma aliança com o PSDB. As conversas apontam para os tucanos indicarem um vice na chapa com Tebet após João Doria, ex-governador de São Paulo, desistir de concorrer à Presidênci­a da República na eleição deste ano.

Mas ainda há impasses regionais, como em Pernambuco, onde o MDB tem uma aliança local para apoiar Danilo Cabral, do PSB, apesar da pré-candidatur­a de Raquel Lyra, do PSDB.

“Nós temos uma aliança consistent­e com o PSB. Será um prazer ter uma aliança nacional com o PSDB, mas não vejo isso no plano local”, disse o presidente do MDB de Pernambuco e deputado federal, Raul Henry.

O diretório estadual, segundo ele, irá apoiar a campanha presidenci­al de Tebet com exceção de algumas prefeitura­s, como em Paulista (PE).

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Pedro Ladeira-25.mai.22/Folhapress A senadora Simone Tebet (MDB), pré-candidata ao Planalto pelo MDB

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