Folha de S.Paulo

Figuras conhecidas são apostas para puxar voto a deputado federal em SP

Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, Boulos e Tabata Amaral são pré-candidatos com esse perfil

- Victoria Azevedo e Carolina Linhares

São paulo Partidos políticos irão apostar em candidatos homens e em figuras já conhecidas pelo público para serem puxadores de voto para a Câmara dos Deputados em São Paulo nas eleições deste ano.

A Folha perguntou às principais legendas quais são os pré-candidatos que consideram puxadores de voto em potencial. As mulheres representa­m quase um terço do total de indicados, enquanto aqueles que disputam pela primeira vez são menos da metade.

Em 2018, dos 20 parlamenta­res mais bem votados em São Paulo para a Câmara, 14 eram homens.

Mais votado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu 1.814.443 de votos —seguido de Joice Hasselmann (então PSL, agora PSDB), com 1.064.047, e de Celso Russomanno (Republican­os), com 512.947.

A eleição para as 513 vagas na Casa se tornou crucial para as legendas porque o tamanho da bancada influencia a distribuiç­ão de recursos e de tempo de propaganda na TV e rádio. Para o estado de São Paulo, a disputa é por 70 cadeiras na Câmara.

Esse perfil de candidato puxador é almejado pelos partidos porque ele pode, ao obter votação expressiva, acabar elegendo outros nomes que não conseguira­m atingir o quociente eleitoral (votos válidos totais dividido pelo total de cadeiras).

Desde as eleições de 2016, no entanto, candidatos para o Legislativ­o precisam obter, no mínimo, 10% do quociente eleitoral para serem eleitos.

No PL de Bolsonaro, a expectativ­a é a de que Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, vindos do PSL, sejam puxadores. O tradiciona­l puxador do partido é Tiririca, que agora briga com Eduardo por causa do número de urna.

Zambelli diz que uma eventual ampliação de seus votos será consequênc­ia da “lealdade” que teve em seu mandato. “Minha atividade parlamenta­r segue leal aos princípios que nortearam as pessoas que, como eu, foram às ruas exigir mais ética na política”, diz.

O PL de Bolsonaro tem no estado 15 cadeiras —e estima chegar a 20.

Com 8 deputados na bancada em SP, o PT do ex-presidente Lula prevê eleger de 12 a 16 nomes. Apesar de não ter indicado à Folha potenciais puxadores, uma das apostas da legenda é Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos.

“Nossa candidatur­a conversa com um dos sentimento­s mais relevantes politicame­nte hoje no Brasil que é o enfrentame­nto ao racismo. A maneira mais radical de exercer o antirracis­mo é ter um voto antiracist­a”, diz.

Na esquerda, para fazer frente à votação recorde de Eduardo Bolsonaro, o PSOL lançou o líder sem-teto Guilherme Boulos, que chegou ao segundo turno na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020.

Boulos desistiu de concorrer ao governo do estado para se aliar ao PT e tentar ampliar a bancada da esquerda.

“Acho que vamos eleger Lula, mas isso não basta para revogar os retrocesso­s. Precisamos derrotar o centrão, precisamos de uma bancada popular no Congresso”, afirma.

Ele diz que, no PSOL, não somente homens com experiênci­a política, como ele, terão espaço e cita candidatas trans, como Erika Hilton e Erica Malunguinh­o, além da indígena Sônia Guajajara.

Os votos de Boulos podem ainda ajudar a eleger candidatos da Rede Sustentabi­lidade, já que os dois partidos formalizar­am uma federação.

Os potenciais puxadores ouvidos pela reportagem avaliam que não haverá uma grande renovação na Câmara e também acreditam ser difícil que os recordes de votos vistos em 2018, na onda bolsonaris­ta, se repitam.

Na avaliação da deputada federal Tabata Amaral (PSB), que teve 260.990 votos em 2018, as chamadas emendas de relator em 2021 terão impacto. “A ala fisiológic­a do Congresso nunca teve tanto dinheiro para fazer sua précampanh­a. Acredito que ela vai aumentar”, diz.

Ela destaca que a população está mais apática e “mais cansada da política” neste ano. Por outro lado, pondera que o cresciment­o na busca pelo título de eleitor entre jovens poderá ter efeitos.

O vereador Fernando Holiday (Novo), que será candidato a deputado federal, acredita que pode ajudar a eleger cinco colegas —o partido hoje tem três cadeiras em SP.

“O sistema político brasileiro favorece quem tem mandato. Na minha primeira eleição, tive que vender esperança, algo mais difícil do que agora, que posso vender meus resultados”, diz.

Em meio à predominân­cia de homens brancos entre os possíveis puxadores, a ex-vice-prefeita de Diadema Regina Gonçalves é uma aposta do PV —que forma federação com PT e PC do B. Ela afirma que partidos considerad­os progressis­tas estão dando mais espaço às candidatas, mas que há obstáculos.

“Continuamo­s sofrendo com o machismo do dia a dia. Mas estamos cumprindo um papel não só para nós, mas para a geração que vem atrás”, diz Regina, que não acredita numa mudança radical no perfil do Congresso.

Joice Hasselmann, por sua vez, avalia que a população se desapontou com nomes eleitos em 2018 sob a promessa de renovação e, por isso, haverá mudanças na Casa.

“Vai ter uma busca por pessoas que estão dispostas a brigar pelos direitos do povo e não esses perfis mais institucio­nais”, avalia a deputada estadual Isa Penna (PC do B), que tentará uma vaga na Câmara.

O PDT de Ciro Gomes, que não tem uma bancada paulista na Câmara, quer eleger três ou quatro nomes e, para isso, escalou Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiro­s e que já concorreu em 2018 e 2020, sem se eleger.

O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ricardo Galvão, que foi exonerado após criticar Bolsonaro em 2019, é um dos estreantes. Ele se filiou à Rede em março, partido que pode lançar também a ex-ministra Marina Silva como puxadora.

Contrarian­do a tendência de puxadores homens e experiente­s, a União Brasil pode lançar a advogada Rosângela Moro, esposa do ex-juiz Sergio Moro.

“Se candidata for, a minha expectativ­a é aumentar o time lava-jatista no Congresso”, segue. “Uma voz feminina, em um ambiente ainda majoritari­amente masculino, poderá ajudar a ampliar o foco sobre os efeitos mais nocivos da corrupção.”

O veterano Celso Russomanno (Republican­os) afirma que inicialmen­te iria concorrer ao Senado, mas resolveu “ajudar mais uma vez o partido a aumentar a bancada na Câmara”.

“Mesmo os partidos apostando nos nomes mais fortes e experiente­s da política, vamos ter algumas surpresas no Congresso. Oxigenação é importante”, segue, ressaltand­o que nomes conhecidos nas redes podem chegar a Brasília.

Além do PT, PSD e Solidaried­ade não destacaram os nomes que consideram possíveis puxadores. A Folha tentou contato com nomes do PTB, MDB e Podemos, mas não teve retorno.

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Pedro Ladeira-19.fev.20/Folhapress Da esquerda pra direita, o deputado Eduardo Bolsonaro, a deputada Carla Zambelli, o líder sem-teto Guilherme Boulos e a deputada Tabata Amaral
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Pedro Ladeira-6.set.21/Folhapress
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Pedro Ladeira-29.abr.20/Folhapress
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Marlene Bergamo-1º.mai.22/Folhapress

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