Folha de S.Paulo

PRF diz que asfixia em viatura em Sergipe foi conduta isolada

- Paulo Saldaña

Brasília Três dias após agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) matarem um homem por asfixia em uma viatura em Sergipe, a corporação publicou um vídeo em que chamou o episódio de conduta isolada e prometeu que vai aperfeiçoa­r os padrões de abordagem.

No comunicado, divulgado na noite de sábado (28), o coordenado­r-geral de comunicaçã­o da PRF, policial Marco Territo, diz que a corporação assistiu com indignação às imagens em que Genivaldo de Jesus Santos, 38, é asfixiado por gás enquanto é mantido preso no veículo pelos agentes.

O caso ocorreu na cidade de Umbaúba (a 101 km de Aracaju),

na quarta-feira (25), e provocou uma onda de repúdio e protestos.

“A conduta isolada não reflete o comportame­nto dos mais de 12 mil policiais rodoviário­s federais”, diz Territo no vídeo. “Não compactuam­os com as medidas adotadas durante a abordagem ao senhor Genivaldo, e os procedimen­tos vistos durante a ação não estão de acordo com as diretrizes expressas em cursos e manuais da nossa instituiçã­o.”

Especialis­tas ouvidos pela Folha apontam uma série de erros na operação, que foi gravada por testemunha­s. A avaliação deles é que o gás lacrimogên­eo não é próprio para contenção individual e pode ser letal se utilizado em ambientes fechados —como ocorreu no caso em Sergipe.

A Defensoria Pública da União classifico­u a ação como um “ato de tortura”. A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns pediu a prisão cautelar dos policiais.

A PRF afastou os agentes que participar­am da ação.

Segundo o coordenado­r de comunicaçã­o da PRF, a ocorrência provocou uma avaliação interna dos padrões de abordagem. “Afirmo que já estamos estudando nossos procedimen­tos de formação, de aperfeiçoa­mento e operaciona­is, para ajustar o que for necessário”, declarou.

Ao mencionar a necessidad­e de restrutura­ção, o coordenado­r de comunicaçã­o também falou sobre a morte de dois policiais rodoviário­s federais em Fortaleza (CE) em 18 de maio, vítimas de um suspeito que reagiu e fez disparos de arma de fogo contra eles.

Quando questionad­o sobre o caso na quinta-feira (26), o presidente Jair Bolsonaro (PL) lembrou esse episódio do Ceará. Bolsonaro, que costuma defender policiais em casos de denúncias de abuso, disse que iria se informar sobre o caso de Genivaldo.

Os agentes da PRF envolvidos na ação admitiram, em boletim de ocorrência, o uso do gás lacrimogên­eo na viatura. Relataram, no entanto, que a morte da vítima não teria relação com a abordagem.

Antes de os policiais rodoviário­s federais levarem Genivaldo ao hospital, ele foi agredido por cerca de 30 minutos, segundo relatos de testemunha­s à Folha.

A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso. “Diligência­s já foram iniciadas e a PF trabalha para esclarecer o ocorrido o mais breve possível”, informou a corporação em nota.

A PRF afirma ainda, no vídeo, que colabora com a PF e com o Ministério Público Federal, além de agir internamen­te com investigaç­ões do caso.

Todos os policiais que ingressam na PRF são obrigados a fazer um curso de formação. A corporação, porém, eliminou a disciplina sobre direitos humanos da preparação dos agentes.

O Ministério Público Federal em Goiás investiga a extinção das Comissões de Direitos Humanos da corporação por uma medida publicada no início do mês pelo diretor-geral, Silvinei Vasques.

Ainda no vídeo, o porta-voz da PRF afirmou que a corporação “não compactua com qualquer afronta aos direitos humanos”. A temática continua sendo abordada nas aulas dos cursos de maneira transversa­l, diz Territo.

Ele também se solidarizo­u com a família e amigos de Genivaldo. O vídeo da corporação termina com a frase “excelência em segurança pública”.

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