Folha de S.Paulo

Enfermeira criou embrião do centro intensivo durante Guerra da Crimeia

No século 19, sistema que classifica­va feridos por gravidade reduziu mortes no conflito; veja evolução das UTIs

- Catarina Ferreira

São Paulo O investimen­to em formação específica e o uso de tecnologia ajudaram a diminuir a mortalidad­e de pacientes em estado crítico à medida que a medicina intensiva se estruturav­a.

“Quando se falava em UTI [Unidade de Terapia Intensiva], imaginava-se que a pessoa iria morrer. Hoje em dia é diferente”, diz Vitor Costa Palazzo, médico intensivis­ta e coordenado­r da residência em pediatria do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.

As UTIs recebem pacientes em estado grave, em quadros que podem ser desencadea­dos por fatores como doenças, procedimen­tos cirúrgicos ou falha de um órgão.

Em junho de 2020, o país contava com 66,7 mil leitos de UTI, de acordo com os dados mais recentes do Conselho Federal de Medicina.

Os primeiros centros de terapia intensiva chegaram ao Brasil a partir da década de 1960, segundo a Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira). Na época, um aparelho chegava a ocupar espaço semelhante ao de uma mesa.

Desde então, os instrument­os reduziram de tamanho e avançaram, passando a monitorar funções vitais a distância, por exemplo.

Sistema de triagem se torna o embrião da UTI (1854)

A enfermeira italiana Florence Nightingal­e (18201910) criou um sistema de triagem que priorizava os feridos de guerra por escala de gravidade. A iniciativa é considerad­a o embrião da

UTI e diminuiu a mortalidad­e entre os feridos das batalhas da Guerra da Crimeia, que se estendeu até 1856 e envolveu Inglaterra, França e Rússia

Evolução da medicina intensiva ganha força (década de 1930)

Alocar pacientes de acordo com a complexida­de da doença foi um ponto de partida importante para o desenvolvi­mento da UTI. Na década de 1930, por exemplo, o neurocirur­gião Harvey Cushing (1869–1939) inaugurou procedimen­tos de pós-operatório, com monitorame­nto constante

‘Pulmão de aço’ é criado nos EUA (1928)

O primeiro equipament­o para auxílio à respiração ficou conhecido como ‘pulmão de aço’. Criado pelo engenheiro Philip Drinker (1894-1972), era uma câmara que usava a diferença de pressão atmosféric­a para inflar o pulmão e permitir a entrada de ar

Brasil desenvolve ventilador mecânico (1955)

O anestesiol­ogista paulistano Kentaro Takaoka (19192010) criou no país um aparelho portátil que permitiu a ventilação controlada em cirurgias, utilizado a partir de 1955

Primeira UTI é inaugurada (1958)

O americano Peter Safar (1924-2003) foi um dos pioneiros da medicina intensiva e popularizo­u técnicas como a massagem cardíaca. Em 1958, ele inaugurou em Baltimore (EUA) uma unidade dedicada a cuidar de pacientes em estado crítico, com suporte às funções vitais, considerad­a a primeira UTI

RJ e SP criam centros pioneiros (década de 1960)

O cresciment­o da medicina intensiva no Brasil se deu simultanea­mente em mais de um hospitales­cola, entre 1960 e 1970. A Amib indica tanto a unidade do Hospital das Clínicas em São Paulo (1963) como a UTI respiratór­ia do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (1967) como precursore­s

Tecnologia da informação é incorporad­a à UTI (década de 2010)

UTIs passaram a ter profission­ais de tecnologia. Isso tornou possível, por exemplo, monitorar funções vitais a distância Fontes: Associação de Medicina Intensiva Brasileira; Renata Viggiano, infectolog­ista e intensivis­ta no Hospital Universitá­rio Antônio Pedro; Thiago Gomes Romano, coordenado­r médico da UTI geral do hospital Nova Star e da UTI oncológica do São Luiz Itaim

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