Folha de S.Paulo

Equilíbrio em italiano se fala Carlo Ancelotti

- Paulo Vinicius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

Em vários momentos do primeiro tempo da final entre Liverpool e Real Madrid, em Paris, era possível perceber Vinicius Junior atrás de Alexander-Arnold. Enquanto o brilhante lateral armador inglês se enfiava em diagonal e deixava a ponta direita para Salah, ou Henderson, a marcação por zona do Real deixava Casemiro atrás de uma linha de armadores, com Valverde, Modric e Kroos. Vinicius solto.

Verdade que nem sempre era assim. Por vezes, Vini se preocupava com Arnold, mas o desenho tático demonstrav­a a intenção de Ancelotti: o contra-ataque.

O gol da vitória, passe do uruguaio Valverde, no espaço concedido por Robertson, para o brasileiro Vinicius Junior, nas costas de AlexanderA­rnold, evidencia que Ancelotti sabia que o espaço possível estava nas duas asas de Klopp: os laterais.

Ancelotti não é um adepto do contra-ataque a todo custo, não é um italiano à moda antiga. Discípulo do sueco Nils Liedholm, seu treinador na Roma de Falcão campeã nacional em 1983, e de Arrigo Sacchi, bicampeão da Europa pelo Milan em 1989 e 1990, Ancelotti é o equilíbrio entre a velha e a nova escola da Itália.

Jogou a Copa de 1990 sob o comando de Azeglio Vicini, com marcação individual. Mas seus times jogam por zona. Foi o melhor ataque da Inglaterra com o Chelsea, em 2010 (103 gols) e sempre com uma defesa difícil de ser batida, sem recordes.

Na Itália da década de 1990, Arrigo Sacchi era criticado por violentar a tradição de uma escola tetracampe­ã mundial, defensivis­ta e tradiciona­lista sobre marcar homem a homem. Ancelotti é fiel ao jogo mais moderno, de Sacchi, com caracterís­ticas globais, mas com a cultura italiana presente.

Tem Tite como admirador e ensina a dizer equilíbrio, em seu idioma. A diferença é a letra ü, pronunciad­a como se houvesse trema, morto na reforma ortográfic­a.

Pode apostar que Ancelotti não ficou feliz ao ver seu time finalizar uma mísera vez contra o Liverpool, tirando o gol anulado de Benzema. Em ser campeão por ter um goleiro que decide partidas, como fez o belga Courtois.

Guardiola é o mais transforma­dor dos treinadore­s, Klopp segue seu exemplo e exige cada vez mais intensidad­e, com desarmes seguidos no campo de ataque. No sábado, La Gazzetta dello Sport definiu em um parágrafo as diferenças entre o italiano e o alemão.

“Carlo é a calma do Real Madrid, que marca também depois dos 45 do segundo tempo. Jürgen é o fogo do Liverpool, que ataca antes do primeiro minuto.”

Aos 54 segundos, os ingleses roubaram a primeira bola no campo ofensivo.

Ancelotti não é a revolução, é o conhecimen­to. Não é o ataque a todo custo. É o equilíbrio. O primeiro técnico a vencer quatro vezes a Liga dos Campeões não deixará um novo estilo grudado ao seu nome, como a pressão e posse de bola de Guardiola ou o “gegenpress­ing”, de Klopp.

O Real de 2022 é o time que acredita até o último instante e estuda os adversário­s para atacar pontos fracos. Por isso, Vinicius Junior parecia solto, às costas de AlexanderA­rnold, posicionad­o para tentar fazer o gol do título.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil