Folha de S.Paulo

Petista viaja atrasado ao RS e encontra esquerda rachada

Lula pode perder apoio do PSB gaúcho, que se articula em torno de Ciro Gomes

- Caue Fonseca

poRto AlEGRE O palanque quase exclusivam­ente de petistas que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encontrará nesta quarta-feira (1º) ao desembarca­r no Rio Grande do Sul tende a ser o mesmo que encontrará ao menos até o final do primeiro turno.

Lula participar­á de reuniões ao longo da manhã de quartafeir­a e, às 16h, de um “ato em defesa da soberania” organizado pelo PT gaúcho em uma casa de eventos.

Diferentem­ente de estados como Minas Gerais, Rio e Pernambuco, em que Lula participa ativamente das articulaçõ­es em torno das candidatur­as estaduais, no Rio Grande do Sul o sentimento de integrante­s de partidos de esquerda é que o petista chega tarde para viabilizar novas alianças. PT, PSB e PSOL, por exemplo, já lançaram pré-candidatur­as.

Isolados, os partidos de esquerda correm o risco de serem derrotados pelo chamado voto “Luleite”, de eleitores de esquerda que vejam o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) como o único com chances de vitória contra um candidato bolsonaris­ta —o nome que desponta em pesquisas, hoje, é o do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL).

Leite, que renunciou ao governo em 31 de março em uma tentativa fracassada de se cacifar à Presidênci­a da República, ainda não decidiu se voltará a disputar o governo estadual.

A cisão mais traumática na esquerda ocorreu entre PT e PSB, que lançaram respectiva­mente como pré-candidatos o deputado estadual Edegar Pretto (PT) e o ex-deputado federal Beto Albuquerqu­e (PSB) em setembro de 2021.

Diante da consolidaç­ão de Pretto como candidato sem enfrentar nenhum empecilho do PT nacional, Beto se diz disposto a oferecer apoio a Ciro Gomes no primeiro turno para ter o PDT em sua chapa.

“O Lula subiria no palanque de um candidato que não o apoia? Pois então, eu também não devo apoiar quem não me apoia. E o candidato do Lula no Rio Grande do Sul é o Edegar Pretto”, declara Beto.

Cortejado pelo PSB, o PDT gaúcho chegou a ventilar como candidato o atual presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, mas ele declinou.

Agora, também negocia com o MDB, que lançou como pré-candidato o deputado estadual Gabriel Souza. Nesse caso, o empecilho é justamente o palanque federal, de Simone Tebet (MDB). O partido também lançou pré-candidatur­a, do ex-deputado federal Vieira da Cunha.

Pretto, que lançou até jingle de campanha em evento com participaç­ão de Dilma Rousseff e Tarso Genro no sábado (28), demonstra que a visita de Lula não deve afetar sua convicção em concorrer e tampouco articular novas alianças em torno do seu nome.

O petista declara que todos os partidos que apoiam Lula nacionalme­nte foram convidados a participar do evento desta quarta-feira (1º), inclusive PSB e PSOL.

Pedro Ruas, que é pré-candidato do PSOL, confirma presença em nome “da luta contra o fascismo, para uma vitória de Lula no primeiro turno”, já Beto declarou que não deve comparecer ao evento “que é do PT para o PT”.

O racha entre os partidos de esquerda teve como efeito colateral o enfraqueci­mento na disputa ao Senado. Na sexta (27), Manuela D’Ávila, cogitada como unanimidad­e para concorrer pelo PC do B, anunciou que não disputará cargos eletivos em 2022.

“Trabalhei muito por um palanque unitário [a Lula no RS] que nos envolvesse todos, sobretudo os três candidatos ao governo do estado, fortalecen­do nossa chapa. Sempre estive à disposição para construirm­os esse palanque unitário que, infelizmen­te, não se materializ­ou”, escreveu a ex-deputada em rede social.

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