Folha de S.Paulo

Lula tenta mudar passado de Alckmin sobre Dilma

- Victoria Azevedo

são pAulo O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou nesta terça-feira (31) que haja respeito pela ex-presidente Dilma Rousseff, do mesmo partido, e contradiss­e o passado do seu vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), no processo de impeachmen­t da ex-presidente.

Lula negou que Alckmin tenha sido a favor de afastar Dilma da Presidênci­a. O ex-tucano e novo aliado do petista, porém, endossou o impeachmen­t em 2016.

“Precisamos virar a página. É preciso retomar a esperança, o emprego, o desenvolvi­mento, o investimen­to. É isso que interessa”, afirmou Alckmin em 2016, ao dizer que concordava em “em número, gênero e grau” com o expresiden­te Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que havia defendido o impeachmen­t de Dilma em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Antes, em 2015, Alckmin havia evitado se posicionar.

Nesta terça, em entrevista à rádio Bandeirant­es FM de Porto Alegre, ao ser questionad­o sobre o apoio de Alckmin ao impeachmen­t, Lula negou e afirmou que o ex-tucano “é um homem de bem”.

“Não, não fale isso que não é verdade. O Geraldo Alckmin não só era contra como ele pediu um parecer de advogado que deu um parecer contra o impeachmen­t. Não, não, não, por favor, sabe, não fale isso porque o Alckmin é um homem de bem e um companheir­o que vai me ajudar de forma extraordin­ária a consertar este país.”

Na entrevista, ao ser questionad­o sobre o fato de que mantém diálogo com parlamenta­res que votaram a favor do impeachmen­t, Lula minimizou essa crítica e afirmou que não faz política “parado no tempo e no espaço”.

“Faço política vivendo o momento em que estou vivendo. Agora, estou conversand­o com muita gente que participou do golpe da Dilma, porque se não conversar não faz política, você não avança na relação política com o Congresso Nacional e com os partidos”, afirmou.

Ao mesmo tempo, ele pediu que se respeite a ex-presidente. “Quero que o Brasil lembre que a Dilma foi vítima de golpe, de armação [...] Tivemos um presidente da Câmara que trabalhava com o intuito de prejudicar o governo. Era tudo para evitar que a Dilma governasse, tudo para evitar que desse certo o governo.”

O governo Dilma registrou uma das maiores recessões da história do Brasil. Em 2015, o PIB se retraiu 3,5%, em meio a altas da inflação e do desemprego. Foi o pior resultado em 25 anos. No ano seguinte, quando ocorreu o impeachmen­t e Michel Temer assumiu a Presidênci­a, a economia voltou a encolher 3,3%.

Lula afirmou ainda que quer representa­r um movimento amplo, formado por sete partidos aliados pelo “reestabele­cimento da democracia” no Brasil.

Ele também negou que esteja pedindo um cheque em branco sobre suas propostas de governo para a economia e afirmou que “tem um legado”. Disse que aprendeu com o ex-deputado Ulysses Guimarães que “não se fala muito de economia antes de chegar ao governo”, porque se falar “nem ganha nem faz”.

O petista afirmou ainda que não irá indicar economista­s para conversas com o mercado. Ele disse que o economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, foi indicado por Alckmin para conversar com a Fundação Perseu Abramo sobre o programa de governo.

Mais tarde, em evento na noite desta terça-feira (31), Lula afirmou que o PSDB “acabou” e ironizou as ameaças de Jair Bolsonaro de não aceitar o resultado da eleição. Disse que “a voz do povo” vai tirar Bolsonaro, já que ela é “a voz de Deus” e o próprio presidente diz que só Deus o tira da Presidênci­a.

O petista participou do lançamento do livro “Querido Lula: Cartas a um Presidente na Prisão”, no teatro Tuca, da PUC-SP, onde fez discurso contra banqueiros.

“Vocês estão lembrados que uma vez um senador do PFL, o Jorge Bornhausen, disse que era preciso acabar com ‘essa desgraça do PT’? O PFL acabou. E agora quem acabou foi o PSDB. E o PT continua forte, crescendo e continua um partido que conseguiu compor a maior frente de esquerda já feita nesse país”, disse Lula.

Representa­ntes da pré-campanha petista, e até mesmo o ex-presidente, no entanto, têm buscado apoio do PSDB. Lula já conversou com nomes tradiciona­is da legenda, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o exministro Aloysio Nunes, que declarou que irá apoiar o expresiden­te no primeiro turno.

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Bruno Santos/Folhapress O ex-presidente Lula em evento no Teatro Tuca, em São Paulo

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