Folha de S.Paulo

Como Lula em 2006, Bolsonaro deve ir a debate só no 2º turno

Presidente diz querer evitar ‘pancada’ de rivais e sugere perguntas combinadas

- Marianna Holanda

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terçafeira (31) que deve participar de debates eleitorais, mas apenas do segundo turno.

Ele afirmou que evitará participar no primeiro turno por acreditar que receberá “pancada” de todos os candidatos sem ter tempo para se defender das acusações.

Em 2018, Bolsonaro compareceu apenas a dois debates no primeiro turno. Depois, justificou a ausência devido à facada que recebeu no dia 6 de setembro daquele ano.

“No segundo turno, vou participar. Se eu for pro segundo turno, devo ir, vou participar”, disse em entrevista ao programa do Ratinho. “No primeiro turno, a gente pensa, porque, se eu for, os dez candidatos ali vão querer o tempo todo dar pancada em mim e eu não vou ter tempo de responder pra eles.”

Se adotar essa estratégia, o atual presidente repetirá a tática de Lula (PT) em 2006, que em sua tentativa de reeleição naquele ano só foi a debates após a primeira votação.

Nesta terça, Bolsonaro defendeu ainda que as perguntas deveriam ser acertadas previament­e entre a organizaçã­o do debate e os candidatos, “para não baixar o nível”.

Normalment­e, as perguntas feitas por organizado­res não são previament­e informadas aos candidatos durante os debates. Além disso, os próprios candidatos costumam ter tempo para fazer perguntas uns aos outros.

Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas de inten

“No primeiro turno, a gente pensa, porque, se eu for [no debate], os dez candidatos ali vão querer o tempo todo dar pancada em mim e eu não vou ter tempo de responder pra eles Jair Bolsonaro presidente

ção de voto, atrás de Lula. No último Datafolha, Lula liderava a disputa com 48% das intenções de voto, contra 27% do atual presidente.

Em novembro do ano passado, o presidente havia dito que participar­ia dos debates eleitorais, mas não responderi­a a perguntas sobre seus familiares e amigos.

Há quatro anos, o então candidato Bolsonaro recebeu alta do hospital Albert Einstein no dia 29 de setembro de 2018, fez sete transmissõ­es ao vivo nas redes sociais, deu nove entrevista­s à imprensa, gravou programas eleitorais e participou de um evento com seus apoiadores no Rio de Janeiro.

O candidato, porém, declinou o convite para participar de debates marcados para o segundo turno, em outubro: na Band, na Gazeta, na Rede TV!, na Folha (em parceria com UOL e SBT) e na Globo.

O comando da campanha de Lula também pretende restringir a participaç­ão do petista em debates neste ano. Ele vai propor aos adversário­s a realização de debates em pool de órgãos de imprensa, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.

Pela proposta, já defendida publicamen­te por Lula, a ideia é que sejam dois debates no primeiro turno e um terceiro no segundo.

O plano é que a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), apresente a proposta aos partidos adversário­s, cabendo aos coordenado­res de comunicaçã­o da campanha, o deputado Rui Falcão (SP) e o prefeito Edinho Silva, a negociação com os veículos de imprensa.

Em janeiro, Lula defendeu a ideia durante entrevista a uma emissora de rádio do Pará. Na ocasião, o ex-presidente publicou seu argumento nas redes sociais.

“Eu acho que tem que ter um pool de TVs para fazer dois ou três debates, porque não dá para atender cada TV, rádio, rede social, se não a gente se tranca no estúdio. Os debates são importante­s para que a sociedade possa fazer a avaliação de que tipo de candidato ela deseja”, publicou.

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Alan Santos/Presidênci­a da República O presidente Jair Bolsonaro (PL) come carne durante evento na cidade de Jataí, em Goiás

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