Folha de S.Paulo

Embargos à Rússia ampliam crise do mercado de diesel

Para distribuid­oras, Brasil precisa planejar importaçõe­s a fim de evitar escassez

- Nicola Pamplona

O embargo da União Europeia a importaçõe­s de petróleo e derivados da Rússia amplia a crise no mercado global de diesel, e o setor já discute a necessidad­e de um protocolo para garantir o abastecime­nto no início do segundo semestre.

Distribuid­oras, importador­es e órgãos estatais têm se reunido nos últimos dias para analisar alternativ­as. O governo diz que os estoques atuais duram 38 dias sem depender de importaçõe­s, mas há preocupaçã­o com eventuais rupturas no suprimento, por problemas em refinarias nacionais ou no exterior.

Por isso, distribuid­oras de combustíve­is pedem a implantaçã­o de um protocolo de crise semelhante ao vigente no período da greve dos caminhonei­ros de 2018, quando todo o setor se reunia para planejar o abastecime­nto do combustíve­l.

Naquela época, a preocupaçã­o era com o abastecime­nto durante a paralisaçã­o e com a recomposiç­ão rápida dos estoques após a greve, que deixou postos sem combustíve­is.

Agora, a ideia é planejar importaçõe­s com antecedênc­ia, para manter os estoques em níveis adequados. O preço já não é mais um motivo de preocupaçã­o, disse um executivo ouvido pela Folha, diante da perspectiv­a de falta do produto.

Como em 2018, esse protocolo contaria com fiscalizaç­ão do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) e da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis).

A crise de abastecime­nto de diesel é global, reflexo das restrições às importaçõe­s vindas da Rússia e ao aumento do consumo para geração de energia na Europa, que vem sofrendo também com cortes no fornecimen­to de gás.

O Brasil depende de importaçõe­s para abastecer um quarto do consumo interno do combustíve­l, e o setor já vinha experiment­ando dificuldad­es tanto com a redução da oferta quanto com a elevada defasagem dos preços internos em relação ao mercado internacio­nal.

“Soubemos de distribuid­oras grandes que foram ao mercado e viram redução do número de propostas. Eram 10 e agora vem 1”, diz o consultor Aurélio Amaral, ex-diretor da ANP. “E não compra no balcão, são contratos de 30 a 60 dias de antecedênc­ia.”

Ele ressalta que os estoques globais dos chamados destilados médios, categoria que inclui diesel e querosene de aviação, atingiram o menor patamar desde 2008, segundo a AIE (Agência Internacio­nal de Energia). Os EUA têm vendido nos postos, hoje em 10%. A proposta atual prevê o aumento para 12% já em junho e depois uma alta gradual até chegar em 14% em setembro.

O governo teme impactos no preço do diesel, que já está em patamar recorde. A Petrobras calcula, por exemplo, que o preço médio do biodiesel entregue hoje às distribuid­oras seja de R$ 7,40 por litro, enquanto o diesel de petróleo sai das refinarias, em média, a R$ 4,90 por litro.

Juan Diego Ferréz, presidente do conselho da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerose­ne), diz que o impacto da adição de dois pontos percentuai­s à mistura ficaria entre R$ 0,05 e R$ 0,06 por litro. “Mais caro é faltar diesel, imagina o produtor não ter diesel para sua lavoura”, defende.

Segundo ele, o setor tem estoques suficiente­s para atender ao aumento da mistura já em junho e, com sinalizaçã­o de que o percentual será ampliado, tem tempo para aumentar a produção nos meses seguintes.

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Pilar Olivares - 5.set.18/Reuters Funcionári­o em plataforma da Petrobras; setor quer protocolo para garantir abastecime­nto de diesel
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