Folha de S.Paulo

Armas e família sustentam apoio do agro a Bolsonaro

Combate a invasões de terra também está entre os pontos de convergênc­ia

- Marcelo Toledo Colaborou Mário Bittencour­t

A possibilid­ade de ter armas na fazenda e a preocupaçã­o com a invasão de terras são dois dos principais motivos citados por lideranças rurais para manter o apoio à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

Lideranças nacionais do agronegóci­o ouvidas pela Folha entre abril e maio também apontam como um de seus principais méritos a manutenção da ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS) na pasta da Agricultur­a.

A defesa dos valores da família também é um ponto citado pelos que dizem apoiálo, embora a aprovação ao governo venha sendo afetada pelo atraso na liberação de recursos para o Plano Safra deste ano.

O corolário de argumentos favoráveis a Bolsonaro entre os 12 líderes do agro ouvidos —a maioria na condição de anonimato— inclui o combate ao MST (Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra), a defesa da exploração de terra em áreas protegidas no Norte —como terras indígenas— e a possibilid­ade de manter o trabalho agropecuár­io durante a pandemia, que, de acordo com eles, teria evitado uma inflação ainda mais alta no país.

A inflação atingiu 12,13% no acumulado em 12 meses até abril, segundo o IPCA, maior nível desde outubro de 2003, quando alcançou 13,98%.

“O armamento foi essencial. Está em fazenda e não pode se proteger? Agora não, você pode se proteger. Fazenda tem muito produto caro, principalm­ente defensivos agrícolas, que são de mais fácil comerciali­zação. Com esse armamento, e muito bemfeito, não é qualquer um, isso nos deu mais tranquilid­ade de defender nossa área, o patrimônio do produtor rural. São várias coisas que levaram o agropecuar­ista a ter uma visão boa do presidente”, disse Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), organizado­ra da Expozebu, em Uberaba, no Triângulo Mineiro.

Na abertura da feira pecuária, Borges Júnior não conseguiu fazer seu discurso, já que o público presente —grupos bolsonaris­tas convocados por redes sociais— pedia que Bolsonaro falasse.

O discurso não lido de Borges Júnior continha muitos trechos semelhante­s a argumentos de pecuarista­s ouvidos pela reportagem na feira mineira.

“Temos a obrigação de, neste momento, em que os olhos do mundo se voltam aqui para a Expozebu, na presença de tão importante­s meios de comunicaçã­o, defender, com vigor, a liberdade e a democracia. Somos brasileiro­s, com orgulho. Somos verde-amarelo. Não podemos esquecer isso. Não podemos, em nenhum momento, colocar em risco a soberania do povo. É inadmissív­el que de forma velada e silenciosa tentem pregar o comunismo. Somos espectador­es do fracasso de países que se desarmaram e foram invadidos, bombardead­os”, dizia trecho do discurso.

Entre os presentes ao evento em Uberaba, o pecuarista mineiro João Carlos Peixoto disse que no agro as famílias vivem juntas no campo e que Bolsonaro tem essa visão de união.

“Entregar a titulação de terras, como tem feito, acabou com invasões dos sem-terra. Ele valorizou isso de um lado e, do outro, permitiu termos meios de nos defender.”

Em quase três anos e meio de mandato, Bolsonaro intensific­ou ação iniciada por Michel Temer (MDB) e transformo­u o programa de reforma agrária no país, ao entregar 337 mil títulos a assentados, um recorde, numa política comandada por ruralistas.

Bolsonaro tem respondido ao apoio com visitas frequentes às feiras agrícolas realizados na retomada deste ano.

Além de abrir a Agrishow (Feira Internacio­nal de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão, e a Expozebu, ele visitou a Expoingá, em Maringá, a Feibanana, em Pariquera-Açu, e a Bahia Farm Show, em Luís Eduardo Magalhães (BA), nesta terça-feira (31) —quando repetiu o discurso de defesa da propriedad­e privada e da posse de armas.

O pré-candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, por seu lado, não compareceu a grandes eventos de empresário­s do agronegóci­o neste ano.

Ciro Gomes, do PDT, compareceu à Agrishow, mas foi hostilizad­o e se envolveu em discussões com um apoiador de Bolsonaro. João Doria, na época ainda na corrida presidenci­al, passou incólume pelos corredores do evento.

É comum nos eventos do agro, e não só neles, Bolsonaro estar acompanhad­o do locutor de rodeios Cuiabano Lima, que também é produtor rural e atua como uma espécie de mestre de cerimônias nas agendas do presidente das quais participa.

“O presidente Jair Messias Bolsonaro é um predestina­do e um escolhido por Deus para estar no comando da nação [...] Esse presidente apoia o humilde, o sertanejo, o brasileiro, as medidas. Aqui não tem mimimi, não tem o politicame­nte correto, a gente tem de fazer o que precisa ser feito e doa a quem doer”, disse em Uberaba Cuiabano, que é secretário do Turismo de Barretos (a 427 km de São Paulo) e um dos locutores da tradiciona­l Festa do Peão de Boiadeiro, na mesma cidade.

Nesse segmento, Bolsonaro também é bem-visto. Desfilou num cavalo na arena de Barretos, ironicamen­te projetada pelo comunista Oscar Niemeyer (1907-2012), e participou dos últimos eventos presenciai­s ocorridos na cidade, onde anunciou a flexibiliz­ação da lei sobre rodeios.

Ainda instituiu o Dia Nacional do Rodeio, em 4 de outubro, dia do padroeiro dos animais, são Francisco de Assis.

Líderes do agro não reclamam da atuação do Ministério da Agricultur­a nos governos do ex-presidente Lula —o ex-ministro Roberto Rodrigues é elogiado—, mas se queixam do Meio Ambiente, que, na visão deles, interferia muito nos assuntos do agronegóci­o.

Uma das principais queixas em relação a Bolsonaro refere-se ao Plano Safra.

A indústria de máquinas agrícolas cresceu 9% no primeiro trimestre, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os), com viés de alta para o ano, mas o setor pediu a liberação de R$ 44 bilhões em créditos agrícolas via Moderfrota e Pronaf (Programa de Fortalecim­ento da Agricultur­a Familiar), sendo R$ 32 bilhões para o primeiro programa, e o restante, para o segundo.

O pedido foi feito há um mês em Ribeirão Preto, mas a não sinalizaçã­o governamen­tal nos dias posteriore­s gerou frustração entre ruralistas integrante­s de associaçõe­s.

“O armamento foi essencial. Está em fazenda e não pode se proteger? Agora não, você pode se proteger. Fazenda tem muito produto caro, principalm­ente defensivos agrícolas, que são de mais fácil comerciali­zação

Rivaldo Machado Borges Júnior presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), organizado­ra da Expozebu, em Uberaba, no Triângulo Mineiro

 ?? Isac Nóbrega/Divulgação Presidênci­a ?? O presidente Jair Bolsonaro em evento do agronegóci­o em Luís Eduardo Magalhães (BA)
Isac Nóbrega/Divulgação Presidênci­a O presidente Jair Bolsonaro em evento do agronegóci­o em Luís Eduardo Magalhães (BA)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil