Folha de S.Paulo

Cobrança de mensalidad­e na universida­de pública favorece os pobres

Esquerda, no entanto, teima em perpetuar a desigualda­de no ensino superior

- Helio Beltrão Engenheiro com especializ­ação em finanças e MBA na Universida­de Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil

Tramita na CCJ da Câmara dos Deputados a PEC 206/2019, de autoria do deputado federal General Peternelli (PSL-SP), com relatoria de Kim Kataguiri (União-SP), que permitirá a cobrança de mensalidad­es de alunos ricos em universida­des públicas.

O tema requer uma emenda constituci­onal, pois nossa Constituiç­ão —“um camelo desenhado por constituin­tes que sonhavam parir uma gazela”, na genialidad­e de Roberto Campos— prevê a gratuidade para todos. Não existe almoço

—nem ensino superior— grátis. Toda gratuidade prevista pela Carta Magna é paga com impostos tomados dos brasileiro­s, em geral dos mais simples, que compõem a maior parte da arrecadaçã­o agregada.

Mesmo sem se dar conta, o pobre paga o ensino do aluno rico na universida­de pública. E esse custo é altíssimo. Segundo o estudo “Um Ajuste Justo – Análise da Eficiência e Equidade do Gasto Público no Brasil (Banco Mundial, 2017)”, o custo por aluno em universida­de pública é cerca de três vezes maior que o custo por aluno em universida­des privadas. Mais: esse alto custo não se reflete em um maior valor agregado para os graduados das universida­des públicas, em comparação com os graduados de outras universida­des. Pior: o Banco Mundial aponta um alto nível de ineficiênc­ia, de tal forma que os resultados obtidos por universida­des federais poderiam ser atingidos com cerca de 17% menos de recursos.

Em resumo, todos os brasileiro­s pagamos caro por um ensino superior público ineficient­e e de baixo valor agregado.

A PEC está causando histeria na extrema esquerda, que prefere que pobres continuem pagando o ensino superior de ricos. Guilherme Boulos tuitou: “Querem uma universida­de cada vez mais elitista, desigual e só pra quem pode pagar”.

É o contrário!

O sistema “gratuito” atual, não a PEC, é elitista e desigual: as universida­des públicas estão repletas de estudantes com condições financeira­s. É um moto perpétuo de desigualda­de de oportunida­des. Hoje, apenas 18% dos jovens de 18 a 24 anos no país estão no ensino superior, em geral os mais ricos.

O Banco Mundial reforça que, “embora os estudantes de universida­des federais não paguem por sua educação, mais de 65% deles pertencem aos 40% mais ricos da população”. E o custo por aluno aumentou 5% ao ano entre 2010 e 2015 (data de corte do estudo).

A sociedade —na prática o mais pobre— subsidia alunos que teriam condições financeira­s de cursar uma universida­de privada. Caso houvesse cobrança para estes na universida­de pública, muitos optariam por estudar na universida­de privada, liberando preciosas vagas. É, portanto, razoável imaginar que parte das vagas em universida­des públicas ocupadas por alunos de alta renda passaria a ser tomada pelos mais pobres.

Como disse Roberto Campos sobre o tema durante a Constituin­te: “Os filhos ricos, dispensado­s de trabalhar e capazes de pagar cursinhos, se qualificam para aterrissar, em automóvel próprio, nas universida­des públicas, enquanto os pobres pagam seu ensino noturno em universida­des privadas”.

A cobrança da mensalidad­e para a Faria Lima e Leblon, caso devidament­e amarrada na redação final da PEC, representa­rá um apoio fundamenta­l ao custeio das mensalidad­es dos alunos carentes. Em sua redação atual, o texto prevê que caberia ao MEC a definição da linha de corte para cobrança de matrícula, o que parece muito poder para uma caneta só. Melhor seria uma definição legislativ­a, ou a discricion­aridade da universida­de diante das realidades locais.

De qualquer forma, trata-se de uma grande oportunida­de que o Congresso tem para uma maior inclusão de estudantes pobres, o que PT e PSOL não admitem.

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