Folha de S.Paulo

Inspirou diplomatas na defesa do direito internacio­nal

ANTONIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE (1947-2022)

- Patrícia Pasquini

SÃO PAULO Mineiro de Belo Horizonte, Antonio Augusto Cançado Trindade era considerad­o um dos mais brilhantes e dedicados juristas do país.

Para o professor George Rodrigo Bandeira Galindo, consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores, ele era um homem revolucion­ário, com visão única sobre o direito internacio­nal e o seu papel na comunidade internacio­nal.

“O que mais o caracteriz­ava era uma coerência muito forte entre o que dizia e o que fazia como juiz, consultor jurídico e professor”, conta Galindo. “Cançado Trindade era um homem de princípios, e revolucion­ário porque de fato acreditava no poder do direito para mudar as coisas, para que o mundo fosse melhor, mesmo sabendo do papel limitado que o direito tem. Ele se preocupava com o ser humano que estava atrás das normas e sempre tentava entender como o direito internacio­nal afetava as pessoas”, afirma George Galindo.

Formado em Direito na UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais), Antonio Augusto Cançado Trindade fez mestrado e doutorado na Universida­de de Cambridge, no Reino Unido.

Foi consultor jurídico do Itamaraty, de 1985 a 1990, professor do Instituto Rio Branco, da Universida­de de Brasília e de outras instituiçõ­es.

Inspiração para gerações de diplomatas na defesa do direito internacio­nal, foi juiz e presidente da Corte Interameri­cana de Direitos Humanos, membro da Corte Permanente de Arbitragem e magistrado, eleito em dois mandatos pelas Nações Unidas, da Corte Internacio­nal de Justiça. Ao longo da carreira, colecionou obras publicadas e prêmios conquistad­os.

Segundo o Itamaraty, Cançado Trindade deixa como legado uma maior humanizaçã­o do direito internacio­nal.

Doutorando em direito na USP, João Telésforo ressalta as caracterís­ticas humanas de seu ex-professor na Universida­de de Brasília.

“Mesmo com brilhantis­mo, autoridade e prestígio, tanto acadêmico quanto profission­al, ele sempre foi uma figura de extrema simplicida­de, muito simpático, bem-humorado, afável, gentil e muito alegre”, afirma.

“Cançado Trindade era de convicções firmes, posições claras e avançadas e muito comprometi­do. Firme e corajoso como acadêmico e profission­al de direito, não temia se posicionar em defesa dos direitos humanos de maneira incondicio­nal, sempre.”

O professor morreu dia 29 de maio, aos 74 anos. A causa da morte não foi informada. Antonio Augusto Cançado Trindade era casado e tinha filhos.

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