Folha de S.Paulo

Cracolândi­a e escuridão alteram rotina no Minhocão

Falta de luz no elevado se tornou comum após cracolândi­a mudar para a região

- Paulo Eduardo Dias e Ronny Santos

SÃO PAULO O elevado presidente João Goulart, o popular Minhocão, costuma ser usado como área de lazer durante à noite e os fim de semana, quando fecha para veículos. Os frequentad­ores, porém, tem enfrentado nos últimos dias um empecilho: diversos trechos estão sem iluminação.

A escuridão na via, que corta o centro de São Paulo com seus 3,4 km de extensão, tem trazido ainda mais inseguranç­a aos moradores já preocupado­s com um outro problema vizinho ao elevado: a cracolândi­a que se instalou no quarteirão da rua Helvétia entre a alameda Barão de Campinas e a avenida São João.

A reportagem esteve no Minhocão na noite da última quinta-feira (26) e pode notar vários trechos sem iluminação. Um dos pontos mais escuros estava entre a saída para a rua Ana Cintra e a alça de acesso da avenida São João para o elevado, justamente na altura em que os dependente­s químicos se fixaram após ação policial na praça Princesa Isabel.

Na noite de sexta-feira (27), a prefeitura havia informado, em nota, que uma equipe estaria no local para detectar o problema. “Caso seja necessário e possível, fará a manutenção ainda no dia de hoje, no período noturno”. No entanto, na noite de segunda-feira (30), o problema persistia.

O apagão tem levado frequentad­ores a deixar de sair de casa para se exercitar. É o caso da artista plástica Cristina, 40, que preferiu não fornecer o sobrenome. Ela só usa o local enquanto há luz do sol.

“Não cogito ir desde que a cracolândi­a se instalou na Helvétia. Eles estão do lado da entrada por onde eu costumava subir. Só me sinto segura no Minhocão durante o dia, ou seja, sábado ou domingo”.

O elevado Presidente João Goulart é fechado para automóveis de segunda-feira a sexta-feira a partir das 20h, com pedestres e ciclistas podendo permanecer até as 22h. Aos sábados e domingos o trânsito de veículos é proibido durante todo o dia.

Quem também deixou de frequentar o elevado para a prática de atividades esportivas foi a jornalista Fernanda Martins, 33. Ela tomou a decisão há dois meses, após sofrer uma tentativa de roubo ao deixar o Minhocão com duas amigas.

Segundo ela, a sensação de inseguranç­a piorou com a migração da cracolândi­a para a região próxima à estação Santa Cecília do metrô. De sua varanda, ela conta já ter presenciad­o vários crimes. “O que adianta morar ao lado do Minhocão, um dos símbolos de São Paulo, e não poder usar? Infelizmen­te, a violência nos torna reféns em nossas casas e a coisa só piora”, disse.

“Em relação ao furto de fios, isso é uma constante. Sinais de trânsito paralisado­s, iluminação pública, entre outras coisas, estão em falta. Os porteiros do prédio já foram avisados para monitorar a noite inteira para evitar o furto no prédio”, completou.

Os semáforos nos cruzamento­s da avenida São João com rua Helvétia e com a rua Ana Cintra não estão operando. Segundo a prefeitura, isso acontece porque os cabos foram furtados. “A manutenção já foi acionada. Nos últimos 30 dias, foram registrado­s três furtos nesses locais”, disse a gestão Ricardo Nunes (MDB).

Fernanda ainda disse não sair mais a pé, utilizando apenas transporte por aplicativo, na tentativa de se esquivar dos roubos.

Há, no entanto, quem se arrisque na escuridão para se beneficiar das práticas esportivas ao ar livre, como o técnico de enfermagem Jefson Lobo, 34, e seu namorado, o professor Jucimar Lima, 36, que caminhavam sob os postes desligados. “Com luz já é inseguro, eu só vim porque eu não sabia [da falta de iluminação]”, disse Lobo.

Também aproveitan­do a noite no elevado naquele momento estava o casal Douglas Santos Silva e Mirian Vidal de Negreiros, ambos de 42 anos. Silva, que é sociólogo, destacou dois problemas naquele momento. “Fica mais inseguro por questão de roubo e inseguro porque o trânsito de bicicleta às vezes não enxerga, porque está bem escuro”.

A reportagem permaneceu por cerca de uma hora e meia no elevado. Em alguns momentos, viaturas da GCM (Guarda Civil Metropolit­ana) passaram pelos dois sentidos da via, tanto em direção à zona oeste como ao centro.

Um dos guardas afirmou que a escuridão no elevado não era vista com frequência antes da chegada de dependente­s químicos à região.

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Ronny Santos/Folhapress Pessoas caminham no elevado presidente João Goulart, o Minhocão, com parte da iluminação apagada

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