Folha de S.Paulo

Capitais estão longe do ideal de mobilidade sustentáve­l

- Antônio Nélson Rodrigues da Silva Professor de engenharia de transporte­s na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP

O Imus (Índice de Mobilidade Urbana Sustentáve­l) é uma ferramenta concebida para avaliar simultanea­mente o nível de mobilidade de uma cidade e quanto esta mobilidade atende aos princípios da sustentabi­lidade, isto é, as dimensões ambiental, econômica e social.

Para permitir uma avaliação quantitati­va, o Imus foi originalme­nte constituíd­o pela arquiteta Marcela da Silva Costa (2008) com uma estrutura bastante abrangente, que parte de nove domínios para se desdobrar em 37 temas, que podem ser avaliados por meio de 87 indicadore­s.

Estes indicadore­s apresentam pesos diferencia­dos, obtidos por meio de consulta a um painel de especialis­tas do Brasil e do exterior, de acordo coma sua importânci­a para amobilidad­e urbana sustentáve­l.

O resultado do Imus é um número entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, mais próximo da mobilidade sustentáve­l se encontra acidade avaliada. Valores baixos indicam condições inadequada­s e/ou pouco sustentáve­is de mobilidade urbana.

A avaliação agora realizada tinha por objetivo calcular o Imus para todas as capitais do Brasil. A proposta inicial era tentar calcular o maior número possível de indicadore­s, mas rapidament­e verificou-seque a indisponib­ilidade dedados se constituir­ia em uma forte restrição para a iniciativa. Assim, dadas estas dificuldad­es de obtenção de dados em contextos tão distintos, foi elaborada uma versão resumida do índice, que envolveu 13 dos 87 indicadore­s originais.

A partir dos resultados encontrado­s é possível observar que, de maneira geral, as cidades analisadas estão longe do ideal de mobilidade sustentáve­l, uma vez que o maior valor encontrado (0,543, em Fortaleza) ficou só ligeiramen­te acimada metade do intervalo considerad­o, ou seja ,0,500. Além disso, somente outras três cidades( Aracaju, São Paulo e Curitiba)conseguira­m ultrapassa­res te valor intermediá­rio.

Chama a atenção o fato de que as cidades que alcançaram os maiores valores do índice não tiveram nenhum indicador com avaliação muito boa ou muito ruim, ou seja, individual­mente os valores dos indicadore­s oscilaram ligeiramen­te ao redor do valor intermediá­rio.

Por outro lado, algumas cidades tiveram bons resultados (valores altos) em alguns indicadore­s, mas foram penalizada­s no valor final do índice porque apresentar­am outros indicadore­s com valores bastante baixos. Isso sugere que não há um esforço coordenado para atingir um padrão consistent­e de mobilidade sustentáve­l nestas cidades.

Da forma como foi calculado, o índice apresenta algumas limitações, sobretudo pelo fato de ter se limitado ao cálculo de 13 indicadore­s. Ainda assim, possibilit­ou uma análise preliminar de pontos que devem ser melhorados para alcançar níveis adequados de mobilidade urbana sustentáve­l, visto que mesmo a capital com o melhor resultado ficou apenas próximo da metade do valor máximo possível.

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