Folha de S.Paulo

Clínicas privadas montam lista de interesse em vacina da Covid em SP

Redes da capital avaliam demanda antes de comprar as doses, que têm prazo de validade curto

- Fábio Pescarini O colunista excepciona­lmente não escreve nesta edição Atila Iamarino

SÃO PAULO Clínicas particular­es da cidade de São Paulo começaram a montar listas para aplicação de vacinas contra a Covid-19.

As clínicas passaram a receber o imunizante da AstraZenec­a, importado, na segundafei­ra (30). O preço da aplicação da dose deve variar entre R$ 300 e R$ 350, segundo a ABCvac (Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas).

Fábio Gil Affonso, um dos donos da rede Vacinarte, com unidades na Lapa e em Perdizes, na zona oeste, no Tatuapé, na zona leste, e em Guarulhos, na Grande São Paulo, afirmou que cada lista terá de oito a dez pessoas.

Affonso diz que só comprará as vacinas para oferecer as doses quando ao menos seis listas estiverem confirmada­s. Não há expectativ­a de quando começará a imunização contra a Covid-19 na rede.

“O problema é que um frasco, com dez doses, tem validade de apenas 48 horas. Assim, se fecharmos um grupo com oito doses e sobrarem duas, o desperdíci­o não será muito grande”, afirmou Affonso, destacando que, por contrato, a clínica tem que fazer uma compra mínima dez frascos, com validade até agosto.

“É diferente da vacina da gripe, que pode ser guardada ao longo do ano”, afirma.

Segundo ele, as clínicas já estão recebendo telefonema­s de pessoas em busca de informaçõe­s sobre a aplicação.

A reportagem ligou nesta terça (31) para 25 clínicas particular­es ou hospitais que aplicam vacinas, em todas as regiões da cidade de São Paulo e no ABC. Nenhum desses locais afirmou ter a vacina contra a Covid-19 disponível. Os atendentes também não informaram sobre a previsão de chegada dos imunizante­s.

Dois funcionári­os de clínicas disseram que havia a possibilid­ade de o cliente deixar o contato para ser avisado de quando as doses chegarem.

Em uma clínica da Vila Leopoldina, na zona oeste, o atendente afirmou que a oferta do imunizante contra a Covid não estava nos planos por enquanto, devido ao curto prazo de validade do imunizante quando aberto.

Segundo a rede Vacinarte, há a procura de informaçõe­s sobre a aplicação da quarta dose de vacina para pessoas com menos 60 anos, grupo que não faz parte do Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde nessa etapa de imunização.

De acordo com Affonso, para a aplicação no público entre 18 e 59 anos será necessária a prescrição médica, segundo Affonso. A exigência é uma recomendaç­ão da ABCVac.

Em nota, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Santiária) afirmou não “regulament­ar o uso off label” de medicament­o, ou seja, prescrito por conta e risco de médico.

A quarta dose não consta na bula da AstraZenec­a.

De acordo com a ABCVac, a vacina da rede privada é igual à aplicada na pública, tendo sido importada diretament­e da fabricante —apenas as embalagens são diferentes.

A AstraZenec­a afirmou que possui cerca de 2 milhões de doses disponívei­s para a rede privada, sendo que 1 milhão já está sendo distribuíd­a. O restante deve chegar nos próximos meses.

No dia 22 de abril, o governo de Jair Bolsonaro (PL) anunciou o fim da emergência sanitária no país. Pela regra, 30 dias após a decisão, clínicas e empresas privadas passaram a poder adquirir vacinas contra a Covid-19 sem necessidad­e de doação ao SUS (Sistema Único de Saúde).

Até então, a rede particular já poderia adquirir os imunizante­s contra a Covid, mas era a obrigada a doar para o sistema público.

A vacinação na rede particular começa apesar de o país registrar dificuldad­es para completar, na rede pública, os ciclos recomendad­os, com cobertura infantil estagnada, reforço baixo entre jovens e apenas 10% dos idosos com a quarta dose.

Segundo análise feita pela Folha com dados do Ministério da Saúde e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a), até o dia 24, a cobertura com o primeiro ciclo —duas doses ou dose única da Janssen— atingiu 81,5% entre os brasileiro­s de 18 a 29 anos.

A maioria deles, no entanto, não voltou após quatro meses para receber o reforço.

As aplicações não decolaram nesta faixa etária e estão em queda desde março. Segundo o levantamen­to, apenas um terço dos jovens tomou a terceira dose (33%).

A quarta dose entre os idosos também apresenta baixa adesão. A cobertura com este segundo reforço é de somente 18% entre os brasileiro­s de 80 anos ou mais, elegíveis desde março em todo o território nacional.

O problema é que um frasco, com dez doses, tem validade de apenas 48 horas. Assim, se fecharmos um grupo com oito doses e sobrarem duas, o desperdíci­o não será muito grande

Fábio Gil Affonso

da rede Vacinarte

 ?? Rivaldo Gomes - 13.set.21/Folhapress ?? Vacinação contra a Covid-19 na zona leste de São Paulo
Rivaldo Gomes - 13.set.21/Folhapress Vacinação contra a Covid-19 na zona leste de São Paulo

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