Folha de S.Paulo

Lula afaga tucanos após dizer que o PSDB acabou

Ex-presidente afirma que polarizaçã­o do PT com o partido era civilizada

- Victoria Azevedo e Caue Fonseca

sÃo paulo e porto alegre Um dia após afirmar que o PSDB acabou, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afagou tucanos nesta quarta (1º) e disse que o Brasil era “feliz” quando a polarizaçã­o política era entre a legenda e o PT.

“Já disse para o Alckmin: como este país era feliz quando a polarizaçã­o era entre o PT e o PSDB. Como era feliz este país quando a polarizaçã­o era entre a Dilma e o Alckmin, a Dilma e o Serra, eu e o Serra, eu e Alckmin, eu e o Fernando Henrique Cardoso”, disse Lula.

“A gente era civilizado, a gente ganhava e perdia, a gente voltava para casa (...) A transição que nós fizemos com o Fernando Henrique Cardoso foi a mais civilizada que este país conheceu. Você disputava uma eleição, mas você não estava em guerra. O seu adversário não era seu inimigo”, continuou o petista, em referência ao clima de polarizaçã­o que permeia a disputa presidenci­al deste ano.

Tanto Lula quanto o presidente Jair Bolsonaro (PL), e seus respectivo­s aliados, trocam ofensas e críticas em declaraçõe­s e em publicaçõe­s nas redes sociais.

Lula participou de evento com profission­ais da educação em Porto Alegre, além de outras atividades. Ele estava acompanhad­o da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), do exgovernad­or Geraldo Alckmin (PSB), dos ex-ministros Aloizio Mercadante e Tarso Genro e da socióloga Rosângela da Silva, a Janja, sua esposa.

Na noite anterior, o ex-presidente atacou o PSDB e disse que a legenda tinha acabado.

“Vocês estão lembrados que uma vez um senador do PFL, o Jorge Bornhausen, disse que era preciso acabar com ‘essa desgraça do PT’. O PFL acabou. E agora quem acabou foi o PSDB. E o PT continua forte, crescendo e continua um partido que conseguiu compor a maior frente de esquerda já feita neste país”, disse.

O ex-governador João Doria (PSDB) chegou a ser précandida­to tucano à Presidênci­a, mas, sem decolar em pesquisas de intenção de voto e sob resistênci­a interna, acabou desistindo da disputa. O PSDB agora avalia se apoiará a candidatur­a de Simone Tebet (MDB) ao Planalto.

Em nota divulgada no perfil oficial do PSDB nas redes sociais, o partido criticou as declaraçõe­s do petista na noite de terça e afirmou que ele deveria estar mais preocupado “em responder à população porque a gestão do PT quase acabou com o Brasil, que foi salvo da destruição pelo impeachmen­t de Dilma”.

Mesmo após o afago de Lula aos tucanos horas depois, o PSDB manteve as críticas ao petista. “Não adianta querer reescrever a história. Foram anos de PT, Lula e Dilma semeando o ódio, perseguind­o adversário­s, dividindo a sociedade e montando uma máquina de mentiras (hoje chamadas de fake news)”, escreveu a sigla em rede social.

Em Porto Alegre, Lula também expôs as divergênci­as entre PT e PSB e citou a “tristeza” com a desunião dos partidos de esquerda no RS.

Ele mencionou a negociação com Leonel Brizola para ter seu apoio em 1989, que teria lhe custado mais de quatro horas de conversa em Resende (RJ). E demonstrou desgosto em não ter candidatos a governador e senador no estado. “Fica frouxo não ter candidato para apresentar. Então eu faço um apelo. Não custa nada sentar mais uma vez à mesa”, disse.

Insatisfei­to com o avanço da pré-candidatur­a de Edegar Pretto (PT), o também pré-candidato do PSB, Beto Albuquerqu­e, não compareceu ao ato. Pretto, por sua vez, não discursou e foi citado como pré-candidato por apenas dois nomes: o ex-governador Tarso Genro e o deputado federal e presidente estadual do PT, Paulo Pimenta.

Lula discursou em uma casa de shows cheia. No local, havia detector de metal e revista de bolsas. Foi vetado tudo o que poderia ser “arremessáv­el” ou cortante, até tubinhos de álcool em gel.

Dilma exalta parceria com Alckmin após fala do ex-presidente

SÃO PAULO E PORTO ALEGRE A expresiden­te Dilma Rousseff (PT) exaltou nesta quartafeir­a (1º) a parceria que teve com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) durante o seu governo, um dia após Lula ter tentado mudar o posicionam­ento passado do ex-tucano em relação ao processo de impeachmen­t da petista.

Durante discurso em evento com profission­ais da educação em Porto Alegre, Dilma cumpriment­ou Alckmin, que será vice de Lula na chapa eleitoral deste ano, e afirmou que teve a honra de compartilh­ar com o ex-tucano “o exercício de uma função que no Brasil foi esquecida completame­nte”.

“Agora, ele culpa os governador­es. Naquela época, a gente fazia parcerias, né, governador”, afirmou Dilma, diante da plateia de apoiadores.

Além de exaltar a relação entre os entes federativo­s, a petista disse que, independen­temente da orientação partidária, era possível pensar em “servir ao povo do país”. “Quero reconhecer aqui que em vários programas sociais, notadament­e no Bolsa Família e no Minha Casa, Minha Vida, nós fizemos uma parceria fundamenta­l”, completou Dilma.

Na terça-feira (31), Lula negou que Alckmin tenha sido a favor de afastar Dilma da Presidênci­a. O ex-tucano e novo aliado do petista, porém, endossou a defesa do impeachmen­t em 2016.

Mais tarde, em novo evento, Dilma e Alckmin trocaram elogios. A petista o chamou de “homem decente, de valores, democrata”, e o ex-tucano retribuiu com “mulher guerreira, honrada e correta”.

“A transição que nós fizemos com o Fernando Henrique Cardoso foi a mais civilizada que este país conheceu. Você disputava uma eleição, mas você não estava em guerra Luiz Inácio Lula da Silva ex-presidente (PT)

 ?? Diego Vara/Reuters ?? O ex-presidente Lula participa de evento em Porto Alegre ao lado dos aliados Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin
Diego Vara/Reuters O ex-presidente Lula participa de evento em Porto Alegre ao lado dos aliados Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil