Folha de S.Paulo

Regramento atual é entrave ao cresciment­o econômico

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Os participan­tes do painel de abertura do seminário Inovação e Segurança nas estradas foram unânimes em afirmar que a regulação brasileira no setor de transporte­s rodoviário­s está obsoleta. Entraves regulatóri­os dificultam a entrada de novos players dispostos a investir em tecnologia­s que ampliam a segurança das estradas e, ao mesmo tempo, reduzem os custos para os passageiro­s.

“No âmbito federal, tem havido pouca evolução”, afirmou Hildo Rocha, deputado federal e presidente da Comissão de Viação e Transporte­s da Câmara dos Deputados. “Precisamos flexibiliz­ar a legislação para termos mais opções, menores preços, mais conforto à disposição dos usuários. A ANTT [Agência Nacional de Transporte­s Terrestres] tem de levar em consideraç­ão que impedir que se melhore a oferta de serviços não é a melhor forma de fiscalizar o setor.”

Entre as regras vigentes que atrapalham o desempenho do segmento, foi especialme­nte criticada no debate a do circuito fechado no transporte rodoviário interestad­ual de passageiro­s por fretamento, que obriga que o grupo de pessoas na viagem de ida seja o mesmo na da volta, de acordo com um decreto de 1998. Por exemplo, um grupo que saia do interior de São Paulo para embarcar em um cruzeiro no porto de Santos deve ser o mesmo que retorna para o interior, mesmo que a viagem de navio dure semanas.

“O decreto é prejudicia­l ao país, os empresário­s deixam de gerar oportunida­des”, comentou Rafa Zimbaldi, deputado estadual e ex-presidente da Comissão de Transporte­s da Assembleia Legislativ­a de São Paulo. “Se for suspenso, o impulsiona­mento do turismo será muito grande”, afirmou Marcelo Nunes, presidente da Abrafrec (Associação Brasileira dos Fretadores Colaborati­vos).

O Projeto de Decreto Legislativ­o 494/2020 tramita na Câmara dos Deputados com o intuito de suspender a regra do circuito fechado. Por sua vez, o PDL 69/2022, também em trâmite na Câmara, busca sustar a Portaria 27 da ANTT, de março deste ano, a que elenca como transporte clandestin­o o serviço prestado por empresas de fretamento em circuito aberto.

Dados da LCA Consultori­a apontam que o fim do circuito fechado pode acirrar a concorrênc­ia, reduzindo preços e atraindo mais passageiro­s, o que irá gerar um impacto de R$ 2,7 bilhões no PIB, aumentando em R$ 500 milhões a arrecadaçã­o e criando cerca de 65 mil novos empregos.

Porém, na seara política, os caminhos para viabilizar a abertura passam por um trabalho de convencime­nto dos parlamenta­res, que precisam, segundo Hildo Rocha, ser sensibiliz­ados da necessidad­e da livre concorrênc­ia de mercado. “Muitos têm uma ideologia contrária a isso”, disse o deputado federal.

Em São Paulo, a legislação é um pouco mais avançada em relação ao fretamento no transporte rodoviário, mas há muito a avançar. Um dos grandes entraves para mudanças, destacou Zimbaldi, está justamente na constituiç­ão de monopólios no segmento. “Atingem inclusive o transporte público coletivo municipal, que muitas vezes é caro e de qualidade péssima”, disse.

“Os grandes empresário­s do setor de transporte­s estão acostumado­s a mandar no mercado e a cobrar os preços que querem”, disse Nunes.

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