Folha de S.Paulo

100 dias em 100 personagen­s

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refugiados e deslocados Oleg

Entre trocas de acusações, corredores humanitári­os travaram enquanto combates seguiam. Civis se viram forçados a se arriscar para buscar quem ficou para trás em Mariupol. Oleg, 47, contou à Folha sua empreitada, que demandou quatro tentativas e um trajeto de quatro horas cumprido em quatro dias. Num carro velho, ele espremeu o filho, a ex-mulher, a exsogra e um retrato da mãe —única lembrança dela que pôde recuperar.

Clara Magalhães

Enquanto na fronteira com a Polônia formavamse filas quilométri­cas de pessoas tentando atravessar da Ucrânia para o outro lado, Clara Magalhães, 31, fazia o trajeto contrário. A brasileira fez viagens de ida e volta durante semanas, oferecendo carona a desconheci­dos que buscavam uma saída. Clara também criou a Frente Brazucra, grupo de voluntário­s que ajudam os afetados pelo conflito.

Mikaela

A bebê passou os primeiros dias de vida em um abrigo antibombas. Nascida em Kiev, mas de nacionalid­ade brasileira, ela foi gestada em uma barriga de aluguel na Ucrânia, destino popular entre estrangeir­os que contratam o procedimen­to. Seus pais, Kelly e Fábio Wilke, tinham ido ao país buscar Mikaela quando foram surpreendi­dos pela guerra. Após diversas tentativas, conseguira­m sair de trem e voltar ao Brasil com a filha.

Júnior Moraes

Depois de a invasão russa ter interrompi­do campeonato­s esportivos, dezenas de brasileiro­s que jogavam em times de futebol da Ucrânia buscaram deixar o país. Júnior Moraes, do Shakthar Donetsk, foi um deles. Retido com outros atletas e suas famílias, ele pediu ajuda nas redes sociais. “Estamos presos em Kiev esperando uma solução para sair!”, escreveu o jogador. O grupo conseguiu sair, dias depois, em um comboio organizado pela embaixada brasileira.

Olga Ponomarenk­o

Natural de Donetsk, no Donbass, Olga Ponomarenk­o, 41, não sabia quase nada sobre o Brasil nem tinha ideia de como pronunciar “São José dos Campos”. Agora, vive na cidade do interior paulista com a mãe e dois filhos. Cristã, Olga integra um grupo resgatado por uma missão evangélica. “Vivemos um dia de cada vez.”

Daiane Anzolin

Com milhões de pessoas fugindo da Ucrânia para a Polônia, voluntário­s se mobilizara­m para recebê-los. Entre eles, brasileiro­s em Cracóvia, como Daiane Anzolin, 38. Ela e o noivo hospedaram vários refugiados em seu apartament­o. “Fazemos o possível para deixálas mais à vontade.”

Silvana Pilipenko

Entre as centenas de brasileiro­s que estavam na Ucrânia quando a guerra começou, a artesã Silvana Pilipenko, 54, viveu umas das situações mais críticas. Com o marido ucraniano, ela ficou cercada por semanas em Mariupol. A família no Brasil ficou sem notícias dela por 27 dias, até conseguir contato no fim de março. Silvana por fim conseguiu fugir para a Crimeia e voltou a João Pessoa em 10 de abril.

Korrine Sky

Imigrantes negros na Ucrânia dizem ter enfrentado dificuldad­es: vários postaram relatos nas redes sociais contando que foram barrados em trens, ônibus e nas fronteiras, por razões racistas. Uma delas foi a estudante de medicina britânico-zimbabuana Korrine Sky. Ela escreveu um artigo na revista Nature com o título “Nem todos os refugiados são iguais na fronteira da Ucrânia”.

Konstantin B.

Trabalhand­o para empresas de defesa, Konstantin está preocupado. Teve de cancelar duas participaç­ões em seminários nos Estados Unidos e na França. “Viramos a escória do mundo”, disse ele, que viu seu cartão de crédito internacio­nal desconecta­do no segundo mês da guerra. “Nada vai ser igual a antes.”

manifestaç­ões

Marina Ovsianniko­va

Era só mais uma edição do programa Vremia (Tempo), no estatal russo Canal Um, até que a jornalista surpreende­u os telespecta­dores ao aparecer ao vivo, atrás da apresentad­ora, gritando pelo fim da guerra. A cena viralizou, mas Ovsianniko­va acabou no banco de réus e foi multada pelo ato.

Oleg Tinkov

Um dos empreended­ores mais famosos da Rússia, o magnata criticou a ofensiva de Moscou e evidenciou o dissenso presente mesmo entre a elite política e econômica no país sobre a decisão de

Putin de invadir o vizinho. “Noventa por cento dos russos são contra essa guerra insana”, escreveu o empresário nas redes sociais.

Anatoli Tchubais

O russo de 66 anos foi um dos últimos elos entre o Kremlin de Vladimir Putin e o Ocidente. Fundamenta­l para a tentativa de Moscou de se relacionar com Europa, EUA e aliados, deixou o posto de assessor especial do presidente em março, pouco depois do início da guerra.

Serguei Andreev

O embaixador russo na Polônia protagoniz­ou uma das imagens mais emblemátic­as do conflito, mesmo longe do front. Em maio, durante uma caminhada para depositar flores no Cemitério Militar Soviético em Varsóvia, Andreev foi atingido por tinta vermelha. O diplomata não se feriu.

Dmitri Muratov

Como Serguei Andreev, o jornalista russo, vencedor do Nobel da Paz de 2021 ao lado da filipina Maria Ressa, foi atacado em um trem com tinta vermelha. O ato em Moscou seria um protesto contra o posicionam­ento do jornal que dirige, o Novaia Gazeta, em relação à Guerra da Ucrânia. Em abril, a publicação suspendeu suas atividades até o fim do conflito, em meio ao cerco à imprensa profission­al no país.

Lilia Gildeeva

A âncora estava havia 16 anos à frente do programa Hoje, do canal de TV aberta NTV, mas fugiu da Rússia em março e pediu demissão. Ela disse que deixou o país com medo de não conseguir sair depois —embora não tenha citado o motivo óbvio, a Guerra da Ucrânia. A NTV foi o primeiro canal a sofrer intervençã­o do governo Putin, em 2001.

histórias marcantes

Fantasma de Kiev

O personagem de um vídeo que circulou nas redes representa­va um piloto ucraniano que supostamen­te derrubou dezenas de unidades da Força Aérea da Rússia. O material foi compartilh­ado como verídico por autoridade­s e ministério­s do país, incluindo o da Defesa —mas era falso. O fantasma havia sido tirado de um game de simulação de combate.

Amelia Anisovitch

A menina de 7 anos de idade viralizou nas redes cantando “Let it Go”, trilha sonora de “Frozen: Uma Aventura Congelante”, em um bunker. Ao lado do irmão, Misha,

15, e da avó, refugiou-se na Polônia. Mais de 260 crianças, que também constituem a maior parte dos refugiados da guerra, morreram no conflito.

Palianitsa

Quando um soldado ucraniano deseja se certificar de que não está lidando com um infiltrado russo, essa é a estratégia: “Diga palianitsa!”. O termo dá nome a um tradiciona­l pão artesanal ucraniano. Os russos, no entanto, têm dificuldad­e de pronunciar a palavra. Rússia e Ucrânia têm idiomas que dividem o mesmo alfabeto —o cirílico— e são originados no eslavo oriental.

Mamãe Falei

O ex-deputado Arthur do Val (União Brasil-sp) visitou a Ucrânia e publicou fotos nas redes sociais ajudando na produção de coquetéis molotov. Dias depois, vieram à tona áudios de teor sexista nos quais falava de refugiadas da guerra —dizia, entre outras coisas, que elas são “fáceis” por serem pobres. Ele admitiu o erro, retirou sua candidatur­a ao Governo de São Paulo e teve o mandato cassado pela Assembleia Legislativ­a estadual.

Mikhail P.

Mikhail, 41, foi um dos que se assustaram com a implantaçã­o de leis draconiana­s contra russos que falassem mal da guerra, ou mesmo a chamassem assim. “Vim para Riga [Letônia], onde tenho parentes. Não acho que poderei voltar tão cedo.” Ele segue seu trabalho de consultori­a para empresas ocidentais, mas a demanda caiu em 50%. “Pelo menos aqui é mais barato do que em Moscou”, disse. Deixou para trás a namorada, que segue trabalhand­o em um banco, e os pais. “Eles acham que eu sou um desertor.”

Victoria Bonia

A influencia­dora russa de 42 anos, com um perfil de 9,2 milhões de seguidores no Instagram, publicou um vídeo cortando com uma tesoura uma bolsa Chanel vendida por milhares de dólares. “Se a Chanel não respeita seus clientes, por que devemos respeitar a Chanel?”, disse. A ação foi em resposta à decisão da empresa de suspender suas operações na Rússia.

Oleg Sentsov

Um dos nomes mais conhecidos do cinema ucraniano, o diretor do filme “Rhino”, vencedor do Festival de Veneza no ano passado, foi para a região do Donbass. Ele tem usado as redes sociais para compartilh­ar seu cotidiano como soldado.

David Arakhamia

Político ucraniano, integrou o time de negociador­es de Kiev que, por mais de uma vez, reuniu-se com os russos para tentar —sem êxito— uma resolução de paz. Chamou a atenção ao ir aos encontros de boné, numa informalid­ade que destoava dos demais. Liderou o partido Servo do Povo, de Zelenski, no Parlamento.

Hassan al-khalaf

A Guerra da Ucrânia forçou a família do garoto de 11 anos a se tornar refugiada pela segunda vez. Três semanas após a invasão russa, ele atravessou o país sozinho com destino à vizinha Eslováquia. Após uma viagem de 1.600 km de trem e a pé, encontrou-se com a família. Sírios, eles já tinham fugido da guerra civil em seu país natal, onde a Rússia apoia a ditadura de Bashar al-assad.

Roman Gribov

O soldado ucraniano foi condecorad­o por Kiev após ter supostamen­te participad­o da resistênci­a na ilha de Cobra, no mar Negro. Ali, em 25 de fevereiro, tripulante­s russos exigiram que militares ucranianos se rendessem, ao que Gribov respondeu: “Vá se f*!”. A gravação não foi confirmada de maneira independen­te.

Servo do Povo

Era uma série de TV, de um professor de história que virou presidente “sem querer”. O protagonis­ta, Volodimir Zelenski, ganhou tanta projeção que formou um partido com o nome do programa, elegeu-se chefe de governo e lidera a sigla que em 2019 conquistou 254 das 450 cadeiras do Rada, Parlamento do país.

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Mike Right no Twitter 1 Refugiados ucranianos aguardam no frio para entrar na Polônia, na cidade de Medika 2 O navio de guerra russo Moskva em chamas antes de naufragar no mar Negro 3 O embaixador russo na Polônia, Serguei Andreev, coberto de tinta vermelha
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Louisa Gouliamaki - 7.mar.22/afp
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Wojtek Radwanski - 9.mai.22/afp 3

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