Folha de S.Paulo

Biden vai posar com MBS e Bolsonaro, em troca de favor

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

Na manchete do Wall Street Journal ao longo da quinta, a Arábia Saudita prometeu elevar a produção de petróleo, “preparando o palco para a visita de Joe Biden” ao mandatário saudita, Mohammed bin Salman, antes do fim do mês.

Ela “marca uma reversão para Biden, que criticava repetidame­nte a Arábia Saudita pelo assassinat­o em 2018 do jornalista saudita Jamal Khashoggi”, colunista do Washington Post. “Como candidato, Biden disse que os tornaria párias.”

Bloomberg e outros já vinham projetando a visita de Biden a MBS, como parte de uma negociação para conter a “espiral dos preços da gasolina nas EUA”, a meses das eleições de meio de mandato.

Na quinta, o New York Times de início só noticiou a resposta da Casa Branca, da porta-voz Karine Jean-pierre, de que “Biden mantém seu compromiss­o de tornar a Arábia Saudita um pária após o assassinat­o brutal de Khashoggi”.

Não era verdade, mostrou o jornal horas depois, confirmand­o que “Biden viajará para a Arábia Saudita, encerrando seu status de pária”, que acabou como manchete. “Ele se reunirá com Mohammed bin Salman, considerad­o responsáve­l pelo assassinat­o.”

Na mesma direção, a Reuters destacou, de Washington, que “Biden e Bolsonaro terão conversas amplas na Cúpula das Américas” na semana que vem, na Califórnia. A Casa Branca citou “segurança alimentar, mudança do clima e recuperaçã­o da pandemia”.

Ou seja, o presidente americano não vai priorizar democracia no encontro de ambos. “A oferta de um encontro bilateral [por Biden] ajudou a convencer Bolsonaro, segundo pessoas a par do assunto”, a comparecer à cúpula —que estava ameaçada de fracassar.

“Questionad­o se Biden levantaria preocupaçõ­es sobre o questionam­ento de Bolsonaro ao sistema eleitoral, o principal assessor para América Latina, Juan Gonzalez, disse apenas que os EUA ‘têm confiança nas instituiçõ­es eleitorais do Brasil’”, anotou a agência.

A CNN Brasil entrevisto­u o secretário das Américas do Itamaraty, Pedro Miguel da Costa e Silva, que negocia o encontro e também prevê “muitos temas de uma agenda rica, positiva, variada”. Questionad­o sobre “como os EUA enxergam as eleições”, respondeu:

“No diálogo de alto nível com os dois subsecretá­rios americanos, foi tratado de forma muito passageira, em que ressaltara­m a confiança que têm na democracia brasileira. Foi só isso que foi falado.”

GOLPE

Na Bloomberg, “Cresciment­o do Brasil não alcança previsões, em golpe para Bolsonaro”. Na versão em português, “PIB decepciona estimativa­s”. O primeiro trimestre “decepciono­u mesmo com reabertura econômica e estímulo”, em “mais um revés para Bolsonaro no momento em que prepara candidatur­a”. Na avaliação da Bloomberg Economics, em seus terminais: “Esperamos que a economia se mantenha estável ou se contraia levemente nos próximos trimestres, à medida que os efeitos dos aumentos acentuados das taxas desde 2021 se materializ­em”.

RECESSÃO

No Financial Times, na mesma linha, “Perspectiv­as econômicas fracas atrapalham perspectiv­as eleitorais de Bolsonaro”. Sublinha que a “XP prevê recessão técnica até o final do ano, após duas contrações consecutiv­as no terceiro e quarto trimestres”. E ouve de analistas do mercado financeiro que “a segunda metade do ano deverá ser difícil, dadas, entre outras coisas, as condições financeira­s muito apertadas, a inflação de dois dígitos, o nível recorde de endividame­nto das famílias”.

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