Contração do investimento no 1º trimestre acima do previsto é péssimo sinal
A divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre confirmou um resultado positivo na margem de 1%, ligeiramente acima da previsão do Boletim Macro Ibre de 0,9%.
Sempre avaliamos que não haveria recessão na economia brasileira neste ano e o primeiro trimestre seria positivo, mas, mesmo assim, os resultados dos últimos meses foram acima do esperado, em particular, os dados referentes a março. Sem dúvida, o processo de normalização dos setores mais afetados pela pandemia tem sido mais rápido que o esperado.
Entre os setores, os destaques foram o crescimento das atividades de Outros Serviços e Transporte de 2,1% e 2,2% ante o quarto trimestre, respectivamente. Com isso, a atividade Outros Serviços que ainda estava abaixo de nível pré-pandemia (quarto trimestre de 2019) já está 0,8% acima deste patamar no primeiro trimestre. E esses setores são intensivos em trabalho, então não surpreende a expressiva recuperação do emprego no período.
Consequentemente, o destaque pelo lado da demanda foi o consumo das famílias. De acordo com o Monitor do PIB do FGV Ibre, em torno de 50% da cesta de consumo é composta por serviços. E, mesmo com salários reais deprimidos, o comportamento da massa real de rendimentos do trabalho tem sido mais positivo. E a expansão do Auxílio Brasil também contribuiu para o resultado.
A alta nos preços das commodities, a reabertura da economia e os estímulos fiscais contribuíram positivamente para o crescimento do PIB no trimestre. Mas a pergunta mais importante é saber até quando vamos ser surpreendidos positivamente. Minha avaliação é que essa fase se esgotará em breve, por diversos motivos.
Em primeiro lugar, uma parte do crescimento foi explicada por fatores temporários, como a reabertura, a normalização do consumo do governo e a expressiva contribuição externa.
Pelo lado externo, a desaceleração esperada para a economia mundial é expressiva, pois o principal motivo é a necessidade de reduzir a inflação. Algo que chama atenção é a alta de preços dos insumos e bens industriais.
Nesse contexto, o custo para desinflacionar a economia brasileira é hercúleo.
A reabertura foi muito inflacionária, o choque de commodities por muito tempo não foi compensado pela valorização cambial, e tivemos um choque nos preços de energia elétrica no ano passado. Uma inflação generalizada de custos, em todos os setores. A pressão por repasses continua e o instrumento para debelar a inflação é reprimir a demanda.
Por fim, o investimento contraiu muito além do esperado no primeiro trimestre. Um péssimo sinal.
Então é necessário olhar o segundo tempo da nossa economia, que deverá ficar mais evidente no segundo semestre de 2022 em 2023. O segundo tempo pode demorar um pouco mais para começar, mas já está programado.