Juros e ambiente mais difícil vão desafiar otimismo no 2º semestre
O início do ano trouxe boas notícias pelo lado da atividade econômica, com sólido ritmo de expansão. Para o segundo trimestre, os sinais também são favoráveis, sugerindo dinamismo. Ou seja, o primeiro semestre como um todo deverá exibir um comportamento positivo. E o que explica essa resiliência?
Primeiro, há uma correlação positiva importante entre a atividade brasileira e o ciclo de commodities internacionais. Nesse período, a geopolítica —Guerra da Ucrânia— teve impacto considerável nos já elevados preços das commodities, gerando então um efeito expansionista para a economia doméstica.
Segundo, tivemos estímulos da política fiscal no período. Terceiro, a normalização das restrições associadas à pandemia também ajudou, conforme vimos pelo crescimento do setor de serviços, o mais beneficiado. Já o mercado de trabalho exibiu um ritmo firme de contratações —contraponto importante ante a perda do poder de compra derivada da inflação—, afetando positivamente a massa salarial e, consequentemente, o consumo.
Vemos uma dinâmica diferente para a economia a partir do segundo semestre, especialmente considerando a política monetária e o ambiente de negócios.
Esperamos efeito intenso dos juros sobre o crescimento, especialmente a partir da segunda metade do ano.
Antecipamos também um ambiente econômico mais complexo. A economia global já está em desaceleração, e a trajetória da inflação americana deve levar a níveis mais altos de juros, gerando expectativa de desaceleração adicional. No Brasil teremos o período eleitoral, que é compatível com maior incerteza econômica e condições financeiras mais restritivas, decisões de investimentos e consumo.
Isso deverá provocar desaceleração da economia nos próximos trimestres, inclusive com possível contração na segunda metade de 2022 e crescimento muito baixo no primeiro semestre de 2023.
Assim, projetamos crescimento de 1,1% para o PIB em 2022. Para 2023, prevemos expansão de apenas 0,7%, com risco majoritariamente baixista: além do cenário externo desafiador, existe a chance de um processo desinflacionário mais lento no Brasil, que pode manter a Selic em níveis ainda elevados.
Em suma, é verdade que a economia trouxe notícias positivas recentemente. Mas esse otimismo será desafiado no segundo semestre, quando teremos os efeitos de uma política monetária mais apertada e um ambiente econômico mais difícil. Esperamos um crescimento baixo em 2022 e 2023, com desempenho inferior ao dos demais países emergentes.