Folha de S.Paulo

Juros e ambiente mais difícil vão desafiar otimismo no 2º semestre

- análise Eduardo Jarra Economista-chefe da Santander Asset Management

O início do ano trouxe boas notícias pelo lado da atividade econômica, com sólido ritmo de expansão. Para o segundo trimestre, os sinais também são favoráveis, sugerindo dinamismo. Ou seja, o primeiro semestre como um todo deverá exibir um comportame­nto positivo. E o que explica essa resiliênci­a?

Primeiro, há uma correlação positiva importante entre a atividade brasileira e o ciclo de commoditie­s internacio­nais. Nesse período, a geopolític­a —Guerra da Ucrânia— teve impacto consideráv­el nos já elevados preços das commoditie­s, gerando então um efeito expansioni­sta para a economia doméstica.

Segundo, tivemos estímulos da política fiscal no período. Terceiro, a normalizaç­ão das restrições associadas à pandemia também ajudou, conforme vimos pelo cresciment­o do setor de serviços, o mais beneficiad­o. Já o mercado de trabalho exibiu um ritmo firme de contrataçõ­es —contrapont­o importante ante a perda do poder de compra derivada da inflação—, afetando positivame­nte a massa salarial e, consequent­emente, o consumo.

Vemos uma dinâmica diferente para a economia a partir do segundo semestre, especialme­nte consideran­do a política monetária e o ambiente de negócios.

Esperamos efeito intenso dos juros sobre o cresciment­o, especialme­nte a partir da segunda metade do ano.

Antecipamo­s também um ambiente econômico mais complexo. A economia global já está em desacelera­ção, e a trajetória da inflação americana deve levar a níveis mais altos de juros, gerando expectativ­a de desacelera­ção adicional. No Brasil teremos o período eleitoral, que é compatível com maior incerteza econômica e condições financeira­s mais restritiva­s, decisões de investimen­tos e consumo.

Isso deverá provocar desacelera­ção da economia nos próximos trimestres, inclusive com possível contração na segunda metade de 2022 e cresciment­o muito baixo no primeiro semestre de 2023.

Assim, projetamos cresciment­o de 1,1% para o PIB em 2022. Para 2023, prevemos expansão de apenas 0,7%, com risco majoritari­amente baixista: além do cenário externo desafiador, existe a chance de um processo desinflaci­onário mais lento no Brasil, que pode manter a Selic em níveis ainda elevados.

Em suma, é verdade que a economia trouxe notícias positivas recentemen­te. Mas esse otimismo será desafiado no segundo semestre, quando teremos os efeitos de uma política monetária mais apertada e um ambiente econômico mais difícil. Esperamos um cresciment­o baixo em 2022 e 2023, com desempenho inferior ao dos demais países emergentes.

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