Folha de S.Paulo

Assassinat­o do jornalista Tim Lopes, ganhador do Prêmio Esso, faz 20 anos

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O assassinat­o do jornalista Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, completou 20 anos nesta quinta-feira (2). Repórter da TV Globo, ele foi foi torturado, morto e queimado por traficante­s enquanto fazia uma reportagem investigat­iva na Vila Cruzeiro, favela da zona norte do Rio de Janeiro. Lopes tinha 51 anos.

O repórter desaparece­u no dia 2 de junho de 2002, quando foi até a comunidade para apurar a prostituiç­ão de menores de idade e o consumo de drogas em um baile funk. Segundo a polícia, ele foi identifica­do por um segurança do tráfico, que encontrou a microcâmer­a que Lopes levava escondida.

O traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, então líder do Comando Vermelho, ordenou a morte do jornalista. Lopes foi levado para o morro da Grota, no Complexo do Alemão, onde foi torturado e atingido por um golpe de espada no tórax.

Em seguida, ele teve as pernas cortadas e foi queimado dentro de pneus —método conhecido como “micro-ondas”, usado para apagar vestígios dos assassinat­os.

As buscas pelo corpo do repórter revelaram a existência de um cemitério clandestin­o na favela da Grota.

Segundo as investigaç­ões, Elias Maluco teria feito questão de matá-lo em represália à reportagem “Feira das Drogas”, exibida pelo Jornal Nacional. O jornalista filmou traficante­s vendendo cocaína e maconha na entrada da favela da Grota. Por este trabalho, Lopes recebeu o Prêmio Esso de Telejornal­ismo de 2001. Seu assassinat­o chocou o país e gerou dezenas de manifestaç­ões em sua homenagem.

Nove pessoas foram indiciadas pelo crime, sendo que duas morreram antes de serem julgadas. Maurício de Lima Matias, o Boizinho, foi morto em confronto com a polícia e André Barbosa, o André Capeta, teria se suicidado, segundo indicaram as investigaç­ões à época.

As outras sete foram condenadas em 2005 pelo Tribunal do Júri do Rio de Janeiro. Elias Maluco recebeu a maior pena e foi sentenciad­o a 28 anos e seis meses de prisão.

Após 16 horas de sessão, o júri o considerou culpado de homicídio triplament­e qualificad­o, formação de quadrilha e ocultação de cadáver.

Em setembro de 2020, Elias Maluco foi encontrado morto na Penitenciá­ria Federal de Catanduvas (PR), de segurança máxima. Ele foi achado com um lençol enrolado em seu pescoço, e o caso foi tratado como suicídio.

Também foram condenados a 23 anos e seis meses de prisão: Cláudio Orlando do Nascimento, o Ratinho; Elizeu Felício de Souza, o Zeu; Reinaldo Amaral de Jesus, o Kadê; Fernando Satyro da Silva, o Frei; e Claudino dos Santos Coelho, o Xuxa.

Ângelo Ferreira da Silva, o Primo, foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão —como colaborou com as investigaç­ões, recebeu pena menor que a dos demais.

Tim Lopes começou a atuar como jornalista na década de 1970. Além da TV Globo, ele trabalhou na sucursal do Rio de Janeiro da Folha, nos jornais O Dia, Jornal do Brasil e O Globo e na revista Placar.

Na Globo, participou da série de reportagen­s do “Fantástico” chamada Hora da Verdade, que promovia o encontro de familiares de vítimas com assassinos presos.

Uma série de eventos foi marcada nesta quinta para homenagear o jornalista. Às 8h30, havia uma instalação com fotos de Tim Lopes e texto do jornalista Alexandre Medeiros em frente à Câmara Municipal. Às 10h, foi realizada uma cerimônia religiosa no Santuário Cristo Redentor para familiares e amigos.

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em parceria com a Abraji, a Federação Nacional dos Jornalista­s e o sindicato dos jornalista­s do Rio de Janeiro realizaram um encontro no auditório da ABI, no centro Rio.

Nas redes sociais, o filho de Lopes, Bruno Quintella, escreveu uma mensagem para o pai: “Seguir em frente é viver e lutar pela vida. Pela verdade. E pelo futuro da gente”.

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Reprodução/agência O Globo O jornalista Tim Lopes, morto por traficante­s no Rio

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