Folha de S.Paulo

Amazônia tem maior número de incêndios em 18 anos para maio

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Amazônia e cerrado tiveram um mês de maio com elevados números de queimadas. A Amazônia brasileira teve o pior maio de incêndios desde 2004. O cerrado, por sua vez, também teve recorde de queimadas para o mês.

Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Em maio, a Amazônia registrou 2.287 focos de incêndio, um aumento de 96% em relação ao mesmo mês de 2021. É o segundo maior número para um mês de maio. A primeira colocação é de 2004, quando o número de focos foi de 3.131.

Além disso, o valor é superior à média para esse mês, de 1.014 focos de queimadas.

No cerrado, região de savana tropical ao sul da Amazônia com grande biodiversi­dade, foram registrado­s 3.578 incêndios, um cresciment­o de 35% em comparação com maio do ano passado (2.649).

É o maior número para um mês de maio desde o início dos registros, em 1998/1999. O valor também está acima da média para o mês no bioma, que é de 1.711.

Ambientali­stas classifica­ram os números como mais uma prova de um aumento dos incêndios e do desmatamen­to durante o mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Esses números não são um ponto fora da curva, mas resultado de uma tendência constante de alta na destruição ambiental nos últimos três anos que resulta de uma política intenciona­l do governo”, disse o diretor-executivo da WWF Brasil, Mauricio Voivodic.

“A ciência está sendo ignorada e o futuro cobrará do Brasil um alto preço”, acrescento­u.

Geralmente, maio apresenta menores números de queimadas na Amazônia, por ainda estar dentro do período de chuvas do bioma. Os valores, porém, costumam subir de modo consideráv­el principalm­ente em agosto e setembro. Com isso, números mais elevados de queimadas trazem preocupaçã­o quanto aos níveis de destruição que podem ser registrado­s em 2022.

E não são só as queimadas que têm tido elevados registros. Em abril, a Amazônia teve um recorde de desmatamen­to, segundo dados do Deter, programa do Inpe que aponta derrubadas praticamen­te em tempo real, em busca de auxiliar trabalhos de fiscalizaç­ão. Foram mais de 1.000 km² de floresta derrubada, um número considerav­elmente alto para o mês em questão —o desmate também sofre influência dos meses chuvosos da floresta.

Além desses sinais, há mais uma preocupaçã­o. Anos de eleição costumam ter maiores taxas de destruição na Amazônia e até mesmo na mata atlântica —que, recentemen­te, apresentou um cresciment­o histórico, de 66%, no desmatamen­to.

Os incêndios na Amazônia, de forma geral, têm relação com desmatamen­to. A queima é a última parte do processo de derrubada, usualmente usada para limpar as áreas desmatadas para futuras atividades agropecuár­ias.

Bolsonaro, que tem grande proximidad­e com o setor agroindust­rial do país, enfrentou críticas internacio­nais desde o início do seu governo pelo forte aumento do desmatamen­to na Amazônia e em outros ecossistem­as.

Além do cresciment­o da destruição, o governo atual é acusado de afrouxar a fiscalizaç­ão e governança ambiental.

Dados oficiais apontam que, desde o início do governo Bolsonaro, menos de 3% dos alertas de desmatamen­to emitidos no Brasil pelo Inpe e por outras ferramenta­s de monitorame­nto de desmate no país, foram fiscalizad­os ou ocorreram em áreas com autorizaçã­o para supressão de vegetação. Consequent­emente, as autuações por crimes ambientais caíram no país durante a atual gestão, apesar dos índices recordes de destruição em mais de uma década.

Desde que assumiu o cargo em 2019, o desmatamen­to anual médio na Amazônia brasileira aumentou 75% em relação à década anterior, segundo dados oficiais.

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Christian Braga - 16.ago.20/greenpeace Incêndio na Reserva Extrativis­ta Jaci-paraná (RO), em 2020; queimadas na Amazônia têm crescido

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