Entenda a polêmica
Cantores sertanejos se vangloriam de não usar dinheiro da Lei Rouanet, o mecanismo federal de incentivo à cultura, mas escondem que são pagos por verbas públicas de prefeituras de pequenas cidades no interior do Brasil, em eventos relacionados ao agronegócio
Essa discussão veio à tona depois de o músico Zé Neto, da dupla sertaneja com Cristiano, criticar uma tatuagem feita por Anitta no ânus. A cantora de funk, a mais popular representante do Brasil no cenário externo do pop de hoje, é uma opositora ferrenha do presidente Jair Bolsonaro
Quando fez a crítica contra Anitta, num show no interior de Mato Grosso, Zé Neto afirmou na mesma ocasião que não dependia de dinheiro da Lei Rouanet e que era o povo quem pagava seu cachê. Aquela apresentação, contudo, ao custo de R$ 400 mil, foi bancada pela prefeitura de Sorriso, uma cidade de 92 mil habitantes
A polêmica mostra que tanto artistas de direita, como os sertanejos, quanto de esquerda, a exemplo de Anitta e Daniela Mercury, usam dinheiro público para alavancarem as suas carreiras. Ou seja, o financiamento do Estado serve para todos, independentemente de filiação política
A discussão também joga luz nos mecanismos de transparência e fiscalização do dinheiro do pagador de impostos. Enquanto as prefeituras contratam os músicos sem licitação ou prestação de contas posterior, a Lei Rouanet impõe diversas etapas para que uma banda possa usar dinheiro do governo, e cada centavo é auditado depois do evento
O Ministério Público está na cola de diversas prefeituras. O órgão pediu nesta semana que os shows de Wesley Safadão e Xand Avião em Mossoró, sejam cancelados e que a verba que iria para pagar os cantores seja destinada à educação